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Resumão 2015 – Tudo o que você viu, ou não, sobre a Armênia no ano do centenário em 100 matérias

O ano de 2015 começou já com muita expectativa para os armênios. O centenário do Genocídio Armênio era o foco de todos e já esperávamos muitos reconhecimentos pelo mundo e, embora soubéssemos que não seria fácil, torcíamos para grandes reconhecimentos da causa armênia, como o dos Estados Unidos e o principal, o da Turquia. 2015 foi um ano de vitórias e derrotas no esporte, de conquistas de justiça, de grandes estreias e reestreias na arte. Música, política, religião, futebol, teatro, cinema, dança, olimpíadas, esse ano foi repleto de notícias e atividades para os armênios e para todos que se interessam na Armênia.

O Centenário do Genocídio
O tema Genocídio Armênio será extenso na retrospectiva deste ano, isso porque este foi o ano do centenário do crime que ainda segue sem seu desfecho, o reconhecimento das grandes potências e dos responsáveis pelo crime. Logo no começo do ano o presidente armênio Serzh Sargsyan respondeu ao pedido do presidente turco para que visitasse a Turquia no 24 de Abril em memória aos 100 anos da batalha de Galípoli, em tom de deboche aos mártires do genocídio. Sargsyan respondeu à altura, lembrando da sistemática política de negação turca e lembrando que o presidente turco já havia sido convidado antes para visitar Yerevan no 24 de Abril, mas ainda não havia dado resposta.

A miosótis, flor símbolo do centenário do Genocídio Armênio no mundo inteiro esteve presente em vários eventos, mostrando que muito além de instituições, os armênios e o amigos estavam unidos por um objetivo único.

Celebridades e o Genocídio
Entre as celebridades que chamaram a atenção à causa esteve a cantora Cher, que tuitou para seus seguidores o seu desejo de reconhecimento do governo. A popstar Kim Kardashian esteve na Armênia junto com Kenye West e “causaram” em Yerevan, teve chuva de tuites, show dentro de lago e muitas, muitas fotos por todos os lados, o nome da socialite foi o termo mais buscado no Google em 2015 em grande parte do mundo. A então presidente da Argentina Cristina Kirchner também declarou seu apoio aos armênios. E o novo presidente Mauricio Macri, que tem histórico de apoiar causas armênias, já nomeou um armênio para presidência do Banco da Nação Argentina. O falecimento do bilionário armênio-americano Kirk Kerkorian trouxe atenção ao filme que estava financiando sobre o genocídio estrelado por Christian Bale e Oscar Issac chamado A Promessa.

Mas um dos maiores responsáveis, se não o maior, pelo conhecimento mundial do Genocídio ocorrido entre os anos de 1915 e 1923 foi o Papa Francisco, que já havia declarado em outras oportunidades o apoio à causa armênia, e que desta vez reservou um domingo de missa na Basílica de São Pedro para honrar e beatificar às mais de 1,5 milhões de almas vítimas dos turcos. Durante a missa foi realizado o rito católico armênio junto ao líder da igreja armênia, Karenkin II. A repercussão foi mundial, milhões de pessoas usaram as ferramentas de busca para conhecer mais sobre o genocídio e o reconhecimento, e porque o tema era tão importante a ponto de chamar a atenção do Papa.

Também muito influentes no mundo da música, a banda System of a Down fez um show histórico na Armênia, foi a primeira vez que a banda completa se apresentou no país e lotou o centro de Yerevan na turnê Wake up the Souls. Ainda no lado musical, tivemos a “ousadia” da organização armênia no Eurovision que juntou grandes artistas do mundo para cantar no palco do evento contra a negação do genocídio (de forma implícita, porque temas políticos são proibidos na competição, passiveis de desclassificação).

Política e o Genocídio
Alguns países aproveitaram a ocasião para declararem o reconhecimento do primeiro genocídio do século XX. Entre eles a Alemanha, a Áustria e o Senado do Paraguai. O Parlamento Europeu aprovou por unanimidade uma resolução que pedia que a Turquia reconhecesse o genocídio. O Chipe, que já reconhecia, criminalizou a negação do Genocídio Armênio.

No Brasil, o estado do Rio de Janeiro e a cidade de Uberaba entraram para lista de instituições que reconhecem o genocídio.

O centenário foi lembrado inclusive por organizações dos Direitos Humanos turcas que pediram que o mundo todo participasse do 24 de Abril em Yerevan.

Brasil e o Genocídio
Na mídia brasileira também houve muito espaço para o genocídio, ainda em janeiro Ricardo Boechat já comentava o tema na BandnewsFM e a Rede Jovem Pan também manteve o já tradicional apoio à causa. O chargista Lattuf também cobrou o reconhecimento do governo brasileiro. A 89 Rádio Rock também deu espaço da sua programação ao receber a participação do historiador Heitor Loureiro que esteve na Armênia durante o show do System of a Down. Aliás, falando em rock, a revista Rolling Stone Brasil também fez matéria para os armênios e o respeitado maestro brasileiro Alexey Kurkdjian tornou pública sua obra Brazil’IAN.

A Assembleia Legislativa de São Paulo instituiu por unanimidade o Dia do Reconhecimento e Lembrança às Vítimas do Genocídio do Povo Armênio após realizar as já tradicionais homenagens aos mártires armênios assim como a Câmara Municipal, que dedicou uma sessão solene especialmente para os mártires armênios.

Ainda no campo político Aloysio Nunes e José Serra requereram uma moção de solidariedade ao povo armênio e o Senado brasileiro aprovou o voto de solidariedade, que foi assinado por 55 senadores. A atitude do Senado gerou revolta do governo turco, que retirou o embaixador da Turquia no Brasil, ato lamentado pelo Itamaraty.

O Brasil também foi palco da realização de grandes eventos do centenário, como a palestra no IFSP que lotou o auditório e o seminário na Universidade Federal de Guarulhos que durou 2 dias com diversas atividades, assim como a USP que também sediou um Simpósio de Estudos Armênios e um Seminário Acadêmico. Já o Tucarena abrigou a Semana Cultural “#Armenia100anos” no mês de Junho. A FIG-UNIMESP também acolheu palestras sobre o tema e o Professor Dr. Hagop Kechichian palestrou no Instituto Geográfico de SP. Além da já tradicional manifestação pacífica Marcha por Justiça em frente ao Consulado turco em São Paulo que fez parte de uma agenda recheada para um ano tão importante no calendário armênio que contou até com o clipe do rapper Crônica Mendes feito especialmente para a data e uma homenagem do Padre Marcelo Rossi.

Opinião e o Genocídio
Também foi um ano de grandes editoriais, como o do jornal turco-armênio Agos que lembrou o aniversário do assassinato de Hrant Dink, assim como o professor James Onnig Tamdjian que falou sobre a relação do assassinato e do atentado ao Charlie Hebdo, e o de Norair Chahinian que acompanhou de perto as manifestações na Turquia. O professor Heitor Loureiro fez uma analise do que muda com a marca dos 100 anos do Genocídio e Aline Bak, do site “O olhar do fã do MMA” e que escreve artigos sobre o tema para o Portal também deixou sua marca entre os editoriais do genocídio.

O professor Onnig ainda trouxe a tona o “Caso Perinçek” na Suíça sobre a negação sistemática do genocídio e ainda vimos o escândalo do Starbucks que usava imagens de mulheres com vestimentas armênias sob bandeira turca. Ainda mais alarmante, movimentos de grupos turcos começaram a celebrar o acontecimento do genocídio com faixas nas ruas da Turquia e o governo do país teria ordenado a destruição de documentos do genocídio no Egito. Mas dias depois vimos reação, quando estudantes de uma universidade de Toronto deram as costas a palestrantes que negavam o genocídio e nos alegramos ao receber a notícia que o segundo museu mais importante do mundo mudou o nome de uma de suas salas de Turquia Antiga para Anatólia e Urartu. O recente ataque turco a um caça russo também trouxe frutos para a causa armênia, políticos russos iniciaram processo de criminalização do Genocídio Armênio e apoiaram até a formação do Curdistão ao leste da Turquia.

Arte e o Genocídio
Entre as novidades de filmes e documentários tivemos O legado de 1915, que embora fosse de 2013 foi relembrado em um artigo de Armen Kevork Pamboukdjian. Também foi destaque o documentário Memórias de uma Terra Distante, com depoimentos de armênios que vivem em São Paulo e Armenia Sings On In Our Hearts, de Bella Bablumian, uma jovem armênia radicada no Rio de Janeiro. O filme americano 1915 contou um romance com grandes atores em um filme imperdível no estilo hollywoodiano. Também dos EUA veio o documentário The Last Cry of the Duduk de Andy Roman Dubon. Foi anunciado também a produção de Um Filme Sobre Amor Predominante e até de um filme sobre o genocídio produzido na Turquia.

O livro Deserto de Ossos do armeno-americano Chris Bohjalian foi lançado em português na FNAC.

No teatro, a peça 1915 fez sua segunda temporada em São Paulo e teve de ser prorrogada várias vezes devido ao sucesso de público.

Falecimentos de 2015
Logo no começo do ano tivemos a triste notícia do falecimento de Arão Tanielian, um dos últimos armênios de Porto Alegre. Nos deixou também o Patriarca armênio católico Nerses Bedros XIX Tarmouni no Líbano e o ator Omar Sharif, que estrelou os filmes Mayrig e Lawrence da Arábia faleceu aos 83 anos.

Armênios nas ruas
Foi um ano de intensificação de movimentos sociais na Armênia, a hashtag #EletricYerevan esteve em alta na metade do ano relacionada com um movimento contra os altos aumentos nas tarifas de energia no país, e que se tornou algo muito maior que o controle do governo, evidenciando a insatisfação popular com o cenário atual do país. O movimento recebeu apoio do vocalista do System of a Down, Serj Tankian, que compôs uma música sobre os protestos.

A Armênia passou por uma proposta de grande mudança no sistema político através da mudança da constituição, aumentando o mandato do presidente para 7 anos e tirando das mãos da população o poder de escolher diretamente o Representante do país. Foi realizado um referendo nacional sobre a mudança e o “Sim” ganhou em uma disputa acirrada, embora observadores internacionais não acreditem na legitimidade do referendo.

Refugiados
No meio dos debates sobre os refugiados sírios, a Armênia mostrou que apesar de pequena geograficamente consegue acolher aqueles que fogem de um cenário de guerra, sendo o terceiro país europeu que mais abrigou refugiados.

Armênios no mundo
Entre os nomes que estiveram nas manchetes dos jornais este ano esteve o do humorista franco-armênio Mathieu Madénian, que escapou do atentado ao Charlie Hebdo porque não foi trabalhar. No segundo atentado à França este ano uma armênia esteve entre as vítimas do ataque ao Bataclan, Lola Ouzounian tinha apenas 17 anos estava entre os 129 mortos do ataque que ainda deixou outras 352 pessoas feridas.

Turismo na Armênia
Ficou mais fácil viajar pra Armênia, agora não é mais necessário visto para os brasileiros (nem pros armênios que vierem para terras tupiniquins) e a Qatar Airways passará a operar vôos regulares para o país (o que pode significar alternativas mais baratas). Além disso é possível passar uma temporada no país ajudando como voluntariado “Por que não?”.

Armênia na mídia e nas artes
Arte e cultura foram bem representadas em 2015 com a duas edições do Arte SAMA e do já tradicional Festival de Cultura Armênia da Comunidade Armênia de Osasco. A Escola Armênia de São Paulo, o Hay Azkayin Turian Varjaran também realizou a 32ª Noite da Cultura Armênia com danças músicas e poesias armênias. O grupo Kilikia de danças armênias esteve presente em festivais de dança e eventos, ajudando a disseminar a beleza da cultura armênia no Brasil. O fotografo paulista Norair Chahinian lançou seu livro O poder do vazio em Istambul e em São Paulo. O “road movie” Rapsódia Armênia de 2013 foi disponibilizado online gratuitamente pelos diretores. A USP também recebeu um cinedebate de filmes armênios. Até o mundo dos games teve destaque, o app Shadowmatic de estúdio armênio foi vencedor do Apple Design Award.

Roberto Cabrini foi à Armênia no programa Conexão Repórter do SBT. Em programa dedicado, o jornalista falou sobre cultura, história, diáspora e a superação armênia ao resistir à tantos ataques ao longo de sua história.

No âmbito musical estivemos bem servidos, pela primeira vez na América do Sul, armênios do The Gurdjieff Ensemble tocaram em São Paulo. Na edição júnior da maior competição de música europeia, o Eurovision, o jovem Mikayel Varosyan conquistou a prata e reforçou o favoritismo armênio.

Armênios nos esportes
Nos esportes tivemos o que comemorar, o armênio Eduard Soghomonyan, naturalizado brasileiro, foi campeão brasileiro de Wrestling no estilo Greco-Romano e campeão Sul-Americano na Argentina na categoria 130kg. A Armênia ganhou medalha até nos polêmicos Jogos Europeus de Baku (que tentam de forma ineficaz diminuir a imagem ditatorial do Azerbaijão). Teve até armênio vencendo o Campeonato Mundial de Arremesso de Avião de Papel.

A delegação brasileira marcou presença nos Jogos PanArmênios de Yerevan que realizou a sua sexta edição este ano.

Já no futebol não foi o ano da Armênia, pelas Eliminatórias da Euro-2016 a seleção começou com a improvável derrota pra Albânia e nem mesmo a troca de técnico com a entrada de Sargis Hovsepyan ajudou a mudar o cenário, com goleada de Cristiano Ronaldo a Armênia perdeu para Portugal e ainda perdeu para a então lanterna Sérvia, enterrando as chances de classificação. A fase da seleção anda tão ruim que levou goleada até da França em amistoso  e encerrou o ano com mais uma goleada, dessa vez da Albânia que conseguiu pela primeira vez se classificar para a Eurocopa.


O ano de 2015 foi um dos anos mais importantes para a causa armênia, mostrou muita luta e empenho de todos que simpatizam pela causa, sejam armênios ou não. Obama decepcionou com o mesmo discurso de sempre, não teve sensibilização do governo turco, mas o mundo soube da nossa causa, a nova geração que está hoje estudando em livros de história que contam meias verdades soube o que é o Genocídio Armênio. Não houve o reconhecimento oficial, mas após a marca dos 100 anos a luta só ganhou força e novos guerreiros. Que venha 2016, pra mostrar ao mundo que a Armênia também é um país rico em cultura e tradições.

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