No último dia 6 de setembro, uma notícia estarrecedora atingiu a numerosa comunidade armênia do Brasil. O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA) aprovou uma moção de pesar na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional que atenta contra a Armênia e a República de Artsakh.
O documento aprovado exige que o Congresso Brasileiro preste uma homenagem ao Azerbaijão pelas supostas mortes de uma mulher e uma criança, ocorridas em abril de 2016, ocasião em que o Azerbaijão lançou um ataque em larga escala contra a República independente armênia de Artsakh, o maior desde o cessar-fogo assinado em 1994.
A notícia da moção foi recebida na mesma semana em que veículos de comunicação da Europa denunciaram o governo do Azerbaijão por ter subornado políticos ao redor do mundo, além de ter cometido crimes de lavagem de dinheiro. Tudo está documentado em investigação da Operação Laundromat (leia mais aqui).
É sabido que o Azerbaijão atua em vários campos. Em 2013, o mesmo Claudio Cajado – acusado diversas vezes por corrupção eleitoral e autor de medidas polêmicas para punir internautas que criticam políticos na rede – já havia tentado aprovar uma moção parecida, com apoio de outro deputado baiano (Nelson Pelegrino – PT). O Requerimento 285/2013 pedia que o Brasil apoiasse o Azerbaijão e exigisse a retirada das tropas armênias de diversas regiões da República de Nagorno-Karabakh (Artsakh).
Na ocasião, no mesmo momento em que o requerimento foi lançado, a imprensa azerbaijana noticiava a presença de Cajado e Pelegrino em encontros com representantes do governo azerbaijano, que aconteceram durante a visita da delegação parlamentar brasileira àquele país durante o II Fórum Mundial sobre Diálogo Intercultural patrocinado pela ONU.
Após quase dois meses de muito trabalho do Conselho Nacional Armênio, do então embaixador da Armênia no Brasil, Ashot Yeghiazaryan, de parlamentares aliados à causa armênia, além do engajamento de toda a Comunidade Armênia do Brasil, o requerimento anti-armênio (285) foi derrubado em 07 de agosto de 2013.
(leia a moção na íntegra, aqui).
Veja abaixo outros momentos da ofensiva global do Azerbaijão contra a República de Artsakh e os armênios:
Ofensiva: Em 2012, uma ofensiva azerbaijana estava prestes a se instalar na América do sul (leia mais aqui).
Diplomacia do Caviar: Naquele mesmo ano, uma estátua do ditador Heydar Aliyev, pai do atual presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, gerou muitos protestos após ser instalada em um parque da Cidade do México, ao lado de estátuas de nomes como Mahatma Ghandi e Martin Luther King.
Uma investigação realizada por uma comissão especialmente nomeada pela prefeitura da capital mexicana revelou uma série de irregularidades e subornos culminando com a retirada da estátua em janeiro do ano seguinte.
Pão e Circo: Nos últimos anos o Azerbaijão tem sediado diversos eventos esportivos importantes como o GP de Fórmula 1 de Baku, além de disputas de campeonatos mundias dos mais diversos esportes. Entretanto, desporto é uma das coisas que menos combinam com o Azerbaijão e com uma ditadura.
Cuidado, Heno! Em 2015, o meia armênio Henrikh Mkhitaryan, que joga atualmente no Manchester United, não pode defender o Borússia Dortmund (seu time à época) pela Liga Europa contra o Qabala, time azerbaijano. Mkhitaryan, que é o maior jogador de futebol armênio de todos os tempos, não viajou também por temer pela sua própria vida.
Terra do … Iniciado em 2012 e prorrogado em 2014, o Azerbaijão fechou contrato para estampar com prioridade (leia-se no peito) a camisa do Atlético de Madrid, um dos times tradicionais de futebol da capital da Espanha.
Santo Bergoglio: Posteriormente, em 2014, tentativa semelhante aconteceu no futebol da Argentina. O San Lorenzo de Almagro, time campeão da Libertadores e que tem o Papa Francisco como um dos grandes fãs, recebeu uma proposta do governo do Azerbaijão para estampar a camisa da equipe. Entretanto, desta vez, os petrodólares azerbaijanos foram recusados.
¡Aquí votch! Neste ponto, é importante salientar que a Argentina possui a maior comunidade armênia na América do Sul. O engajamento político dos armênios da Argentina é notável.
Profissão Perigo: Passando para o campo social, desde 2014 o governo do Azerbaijão prendeu e processou dezenas de jornalistas, advogados e ativistas políticos em acusações forjadas para impedi-los de fazer seu trabalho legítimo de reportar e distribuir informação de interesse público ou representar interesses legais e políticos.
Black List: Inclusive, o governo azerbaijano possui uma lista negra de ativistas, jornalistas e pessoas públicas que viajam à República de Artsakh e classifica-as como Personas non Gratas (veja aqui).
Ouro Negro: O lobby turco e azerbaijano atua em várias frentes, usando dinheiro e petróleo como moedas de troca com os países que se vendem às mentiras desses estados criminosos. Além dos ataques e violações ao cessar-fogo na linha de contato diariamente, essas são outras maneiras que o governo azerbaijano encontra para tentar agredir os armênios. Mas a cada dia que passa eles mesmos sabem que o povo armênio luta com tanto afinco pelo seu direito de auto-determinação em sua região ancestral por carregar a verdade debaixo dos braços.
Enquanto isso… aqui no Brasil, após o duro e injusto golpe recebido, temos muito trabalho a fazer.
E não nos esqueçamos que o senhor deputado Claudio Cajado, do Democratas da Bahia, foi citado em delação premiada na Lava Jato, é também acusado de corrupção eleitoral e falsidade documental desde 2013, além de ser (ao lado de seu colega Pelegrino) um dos maiores políticos “viajandões” (que viajam a países estrangeiros) em levantamento realizado pela Folha de São Paulo.
E, aqui também, ainda dá tempo de lembrar das declarações infundadas sobre o conflito de Artsakh feitas em 2015 por Cesar Maia (vereador do RJ) e seu filho Rodrigo Maia (atual presidente da Câmara dos Deputados) [relembre aqui].
O Estação Armênia exorta todos os seus leitores a arregaçar as mangas e colocar-se à disposição das entidades representativas como o CNA e a Embaixada Armênia no Brasil. Mais do que nunca temos que exigir lisura dos nossos políticos. Lembrar em quem votamos e cobrar uma postura em relação às nossas causas, essas são formas que temos de patrulhar e policiar esses ataques contra os armênios no âmbito político nacional.