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Entrevista exclusiva com Arthur Haroyan, dramaturgo do espetáculo “1915”

Arthur, Haroyan, Jô

O Portal Estação Armênia entrevistou com exclusividade Arthur Haroyan, o dramaturgo da peça teatral “1915” que retrata o extermínio de aproximadamente 1,5 milhão de armênios pelos turcos otomanos (Genocídio Armênio), iniciado no ano de 1915.

A peça entra em cartaz nesta terça feira (23 de outubro), no Espaço Viga Cênico, no bairro do Sumaré em São Paulo.

Leia abaixo a entrevista:

[Estação Armênia] – Quem é Arthur Haroyan?

[Arthur Haroyan] – Eu nasci na Armênia, na região de Lori, de onde vieram os maiores escritores armênios como Hovhannes Tumanyan, Hrant Matevosyan e etc. Na época do terremoto de 1988 quando a minha cidade foi destruída, minha família se mudou para Tbilisi, na Geórgia. Tenho boas memórias desta cidade. Logo depois quando tudo se normalizou voltamos para a Armênia e aí começou a guerra com Azerbaijão. Saímos do país de novo e desta vez fomos para Sibéria, na Rússia. E assim peguei o gosto de viajar. Depois de servir o exercito russo na Armênia, que protegia a fronteira com a Turquia, comecei fazer faculdade de língua e literatura russa. Trabalhei como jornalista, dava palestras sobre gênero (direitos humanos, sociedade e sociologia), mas o que me agradava de verdade era o palco. Sem ser formado em teatro assinei contrato com teatro de drama da minha cidade. Trabalhei lá por um bom tempo. Fiz varias peças. A minha vinda para o Brasil é uma longa história que vou guardar para uma outra hora, mas me formei em teatro aqui, em São Paulo. Fiz vários trabalhos publicitários, curtas, peças. Estou dando aula de armênio no Externato José Bonifácio (escola Armênia de SP).

[EA] – Como surgiu a ideia da peça?

[Arthur] Quando tinha 13 anos no aniversário da minha irmã dei a ela de presente um caderno cheio de poesias. Sempre gostei inventar histórias para os meus amigos sem saber o final. Improvisava na hora. Durante o serviço no exercito escrevi muitas peças em armênio e em russo. Resumindo, desde que me lembro sempre escrevi. Chegou um momento em que simplesmente peguei um caderno e uma caneta e, sem ter personagens definidos e conteúdo, criei a imagem de quatro mulheres que estão dentro de uma casa e não conseguem sair. Mas porque elas não conseguem sair? E quem são estas mulheres? Essa era a pergunta na minha cabeça enquanto ouvia uma música folclórica Armênia. E pensei que estas mulheres não conseguiamm sair, pois lá fora estava acontecendo o massacre. Gayane, Anna, Anush e Sona, esses são os nomes das mulheres. Assim surgiu colocar no fundo a idéia do genocídio. Logo acrescentei cenas, rubricas, personagens… Inicialmente foi escrito em armênio, mas logo foi traduzido e adaptado para o palco. O nosso diretor, Rogério Rizzardi, sempre brinca comigo falando que “1915” é um roteiro de filme e não da peça teatral. Sim, ele tem razão, pois escrevendo eu imaginava um filme, e espero que em seguida a peça se torne um filme.

[EA] – Então “1915” foi escrito especialmente para os que não conhecem a história do genocídio armênio, correto?

Arthur – Claro! Este é objetivo número um da peça. O intuito dessa peça não é só mostrar a tragédia dos armênios. É também manter viva e mostrar a cultura de um povo com mais de 5 mil anos.

[EA] – O centenário do genocídio está chegando, particularmente, você crê que a Turquia reconhecerá este crime um dia?

[Arthur] – Todos sabem o que aconteceu com os armênios na época da primeira guerra mundial e isto não depende do reconhecimento da Turquia. E acho que somente ocorrendo o reconhecimento do crime, como no caso da Alemanha, a Turquia pode seguir na história sem esta mancha no seu passado.

[EA] – Os integrantes do grupo teatral ARCA já haviam ouvido falar do genocídio armênio? Qual a reação deles depois de conhecer a história?

[Arthur] – A maioria não sabia. Quando eu mostrei o texto para o Rogério, ele ficou muito interessado porque ele nunca tinha ouvido falar sobre o genocídio armênio. Depois de muitas pesquisas junto com elenco chegamos a um ponto em que as nossas atrizes brasileiras começaram a cantar Dle Yaman, em armênio, com a mesma dor que um armênio cantaria. Eles já conhecem o monumento aos mártires do genocídio, a nossa igreja e o nosso Clube Armênio (SAMA).

[EA] – Comover as pessoas é uma maneira de conscientizá-las?

[Arthur] – Eu acho que o teatro pode levar as pessoas a pensarem de outra maneira. Isto acontece, como aconteceu, dentro do nosso próprio grupo.

[EA] –Você e alguns integrantes do grupo ARCA foram procurados por diversos canais de mídia, como foi isso?

[Arthur] – A gente saiu na Veja, Folha, Estadão, Uol e outros. Também demos entrevista na Globo, Band e etc… Acho que estamos bem divulgados. Estou muito feliz por divulgar a nossa história mesmo sendo as páginas tristes e trágicas. Estou orgulhoso!

[EA] – Arthur, fale sobre a peça e de quando a quando ela fica em cartaz?

[Arthur] – Estaremos em cartaz do dia 23 de outubro a 12 de dezembro, sempre as terças e quartas as 21:00h, no Viga Espaço Cênico que está localizado na rua Capote Valente 1323, Sumaré.

[EA] – Vocês têm a intenção de apresentar a peça em outras cidades ou estados?

[Arthur] – Sim. Temos a intenção de levar a história para ao maior número de pessoas possíveis. Estamos em busca de patrocínio para isso.

[EA] – Sei que faz pouco tempo que está no Brasil, mas como viu a comunidade armênia de quando chegou até hoje?

[Arthur] – A comunidade me ajudou muito nesta mudança para o Brasil. O meu primeiro trabalho foi no Externato José Bonifácio que é a escola Armênia de São Paulo. E gostaria agradecer as pessoas que ajudaram a realizar este projeto principalmente toda equipe do CNA (Conselho Nacional Armênio – Representação do Brasil)!

[EA] – Arthur, para encerrar algumas palavras especiais aos leitores do Portal Estação Armênia.

[Arthur] – Independente do lugar que você for nunca esqueça as suas raízes!

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