O presidente da Armênia, Armen Sarkissian, anunciou sua renúncia neste domingo, dia 23 de Janeiro, em comunicado publicado em seu site oficial.
“Pensei por muito tempo e decidi renunciar após quatro anos de trabalho ativo como presidente”, disse Sarkissian, que acrescentou que “o presidente não tem as ferramentas necessárias para influenciar os importantes processos de negociação política externa e doméstica em tempos difíceis para o povo e para o país.”
Ele também observou que alguns grupos políticos têm como alvo ele e sua família, sem dar mais detalhes.
Sarkissian esteve em um impasse com o Primeiro-Ministro Nikol Pashinyan no ano passado sobre uma série de questões, incluindo a demissão do chefe das Forças Armadas após a derrota em Artsakh (Nagorno-Karabakh).
Ele chegou a instar abertamente a renúncia de Pashinyan. Sarkissian descreveu a assinatura do acordo de cessar-fogo com o Azerbaijão e a retirada dos armênios de Artsakh como uma “grande tragédia”.
“Há uma solução em qualquer país onde ocorreu uma tragédia tão grande: o governo responsável tem que sair”, disse.
A Armênia também esteve recentemente envolvida em esforços para normalizar as relações com a Turquia.
As relações bilaterais entre os dois países ganharam uma nova dimensão em direção à normalização recentemente, com a indicação de enviados especiais turcos e armênios.
Esta semana, o vice-presidente do Parlamento da Armênia, Hakob Arshakyan, declarou que a abertura de fronteiras não está atreladas à pré-condições.
“Desde a independência da Armênia, as fronteiras do país estão tensas e tivemos milhares de perdas tanto durante a guerra quanto nos tempos de paz. Penso que a agenda de paz que estamos conduzindo e para a qual recebemos um mandato do nosso povo está orientada para esse fim, a fim de garantir a segurança das nossas fronteiras e da Armênia o mais rapidamente possível, para que nenhum soldado seja morto, para que a Armênia nunca apareça em guerras”, disse Arshakyan.
O secretário do Conselho de Segurança, Armen Grigoryan, disse em entrevista que não haverá discussões sobre o fornecimento de um “corredor” para o Azerbaijão através da Armênia: “A questão do corredor é uma linha vermelha para nós, todos estão cientes disso: o Azerbaijão e todos os países que têm algo com os armênios estão cientes disso.”
Leia abaixo a renúncia de Armen Sarkissian:
No início da década de 1990, com grandes mudanças geopolíticas, nosso povo teve a maior oportunidade de estabelecer seu próprio estado independente. Nossa missão não era substituir uma bandeira por outra, mas construir um país que garantisse novamente a segurança, o progresso e a prosperidade dos armênios após séculos.
Ressalto que o principal significado da existência de um Estado independente é a capacidade de assumir responsabilidades, quando percebemos que somente nós, como corpo único, somos construtores de nossas próprias vitórias, culpados de nossas próprias derrotas.
Encorajado por uma oportunidade tão histórica, eu, como muitos de meus compatriotas, me dediquei a essa missão. Por vários motivos, minha participação em várias etapas mudou, mas não deixei de acreditar no nosso sucesso nacional final. E essa foi minha principal motivação para concordar com a proposta de me tornar o Presidente da Armênia.
Tomando esta importante decisão, parti da proposta que me foi feita, segundo a qual a nova instituição presidencial teria ferramentas, oportunidades de influenciar a política externa, econômica, política de investimentos, relações com a Diáspora, bem como promover os interesses nacionais na arena internacional, o avanço científico e educacional e criar um ambiente de alta tecnologia.
Algum tempo depois, 2018 aconteceu. Eventos de abril a maio…
A pergunta pode ser: por que não renunciei naquele momento? A resposta é óbvia, pela responsabilidade que assumi como Presidente da República. Fui obrigado a fazer tudo ao meu alcance para evitar um maior aprofundamento da divisão interna, possíveis confrontos, que poderiam levar a consequências extremamente negativas. Procurei usar o prestígio e as conexões adquiridas em meus muitos anos de trabalho para usar meu potencial político e econômico internacional para construir um Estado forte e estável.
Mais uma vez, pode surgir a questão de por que o presidente não conseguiu influenciar os eventos políticos que nos levaram à atual crise nacional. A razão é óbvia novamente – a falta de ferramentas apropriadas. A ferramenta com a qual qualquer funcionário do estado é dotado é apenas um documento – a Constituição. As raízes de alguns de nossos problemas potenciais estão escondidas na atual Lei Base.
Temos uma situação paradoxal em que o Presidente tem que ser um garantidor do Estado sem realmente ter nenhuma ferramenta real. A Constituição também pressupõe a supremacia de uma instituição sobre outra, cria obstáculos para que especialistas conhecidos da diáspora participem da gestão das instituições estatais da Pátria histórica, e assim por diante.
Somos uma República parlamentar estruturada, mas sem conteúdo. O objetivo da minha proposta não era passar de uma forma de governo para outra (parlamentar para semipresidencial ou presidencial), mas criar um sistema estatal baseado em freios e contrapesos. Sem ele, é difícil falar de conquistas significativas, porque o progresso e o sucesso só podem ser alcançados nas condições de um sistema previsível e harmonioso.
Congratulo-me com a criação de uma comissão de emendas constitucionais, pela qual agradeço ao governo. Espero que eventualmente as mudanças constitucionais aconteçam, que o próximo presidente e a instituição presidencial possam trabalhar em um ambiente mais equilibrado e coordenado.
Vivemos numa realidade única, uma realidade onde o Presidente não pode influenciar assuntos de guerra ou paz.
Uma realidade em que não pode vetar as leis que considera inconvenientes para o Estado e para o povo.
Um realidade em que as oportunidades do presidente são percebidas não como uma vantagem para o Estado, mas como uma ameaça por diversos grupos políticos.
Uma realidade em que o presidente não consegue usar a maior parte de seu potencial para resolver problemas sistêmicos de política interna e externa.
Uma realidade onde o mundo está em uma zona de constante turbulência, mas o presidente não tem uma ferramenta constitucional para ajudar seu país.
Uma realidade onde o chefe de Estado, por vezes a sua família, é alvo de vários grupos políticos. Estes últimos não estão tão interessados nas conquistas da instituição presidencial em benefício do país como no meu passado, várias teorias da conspiração e mitos. Essa “preocupação” para mim vai além da moralidade, acabando por afetar diretamente a minha saúde.
Há muito tempo venho pensando e decidi me demitir do cargo de Presidente da República depois de trabalhar ativamente por cerca de quatro anos.
Esta decisão não é nada emocional, segue uma certa lógica.
O presidente não tem as ferramentas necessárias para influenciar os processos radicais de política interna e externa nestes tempos difíceis para o país e a nação.
Neste momento difícil para o nosso Estado, em que a unidade nacional é necessária, a instituição presidencial não deve ser alvo de fofocas e teorias da conspiração, desviando assim a atenção do público dos assuntos mais importantes.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de ações significativas, bem pensadas, ponderadas e significativas. Caso contrário, nós, os armênios de todo o mundo, não alcançaremos o objetivo de nossa missão, nos encontraremos à margem da história.
Não temos mais o direito de errar!
Por fim, gostaria de expressar a minha especial gratidão aos nossos cidadãos, nossos compatriotas da diáspora, pela sua perseverança, resistência, paciência e coragem nestes tempos difíceis para o país.
Um agradecimento especial aos soldados e oficiais do nosso bravo exército, minha homenagem às famílias dos heróis que sacrificaram suas vidas por nossa Pátria.
Agradeço também a todos os funcionários do Gabinete do Presidente da República, meus colegas nas estruturas do Estado pelo seu eficaz trabalho conjunto.