No último domingo (18/10) entrou em vigor uma nova tentativa de cessar-fogo humanitário em Artsakh (Nagorno-Karabakh), intermediada mais uma vez pela Rússia, para que os países envolvidos pudessem trocar prisioneiros e corpos e atender os feridos. Assim como na primeira tentativa na semana passada, após mais de 10 horas de reunião em Moscou, o Azerbaijão não honrou com seu compromisso e voltou a bombardear os armênios de Artsakh poucos minutos após o cessar-fogo estabelecido na capital russa entrar em vigor.
A atitude, apesar de covarde, não surpreende, ao menos aos armênios do mundo todo. O Azerbaijão iniciou a guerra e não tem motivos para querer interrompê-la agora. Com o apoio da Turquia e complacência dos países vizinhos, a única forma de frear o agressor agora seria com uma intervenção internacional, e esta até aqui não tem sido sequer debatida.
Aliyev vinha desenhando um álibi há meses: os ataques à cidade de Tavush, as declarações de que a Armênia “atacaria em breve”, as ameaças à Yerevan. Todas maneiras de “testar o terreno” e observar até onde Alyiev, o ditador azeri, poderia avançar, em uma tentativa desesperada de reativar a cartada do nacionalismo no cenário de declínio de sua popularidade. Enquanto isso, quase 800 vidas foram perdidas do lado armênio, enquanto do lado azeri existam apenas estimativas, já que o governo do país controla todas as informações que podem (ou não) ser publicadas, e vidas azeris perdidas não parecem estar entre as prioridades de Aliyev.
Seja através do lobby político, construído há décadas pela Turquia genocida, seja pelo efeito de um bombardeio de notícias fantasiosas e de fake-news que de alguma forma tentam vender o discurso de que a Armênia estaria atacando o Azerbaijão, os azeris vêm conseguindo neutralizar a opinião internacional.
Por qual motivo um país com o status quo atacaria o vizinho (sabendo que esse possui pesado poderio militar)? Que interesses teria Artsakh em quebrar o cessar-fogo? Perguntas simples que a imprensa internacional teria que fazer para entender quem é o agressor e quem é o agredido nessa história. Mas a imprensa prefere agir como um agente passivo, e não investigativo. Para toda alegação da Armênia, o Azerbaijão faz uma afirmação contrária, invertendo o posto do agressor e se colocando como vítima.
Casos como das celebridades Cardi B e Elton John, em que ambos se manifestaram em solidariedade aos armênios nas redes sociais e pouco tempo depois voltaram atrás em suas declarações após uma enxurrada de ataques azeris, são um microcosmo de como o mundo reage a essa guerra.
Sem o interesse de entender o que acontece na região, representações internacionais optam pelo caminho mais fácil, o de pedir a paz na região entre os dois países, assim como fez o neutro Brasil. O Azerbaijão não quer paz.
O Azerbaijão joga sujo, traz mercenários sírios (e do ISIS) para o combate, ataca próximo da fronteira com o Irã para tentar forçar uma guerra entre Artsakh e o vizinho, lança bombas à igreja símbolo dos armênios em Shushi com jornalistas internacionais dentro, só para dizer que a Armênia “se sabotou de propósito”. O Azerbaijão joga sujo, e espera-se que jogue, pois ele é o agressor.
O Azerbaijão e a Turquia não vão parar de atacar até tomarem Artsakh e provavelmente não pararão até conquistarem Syunik e criarem a tão sonhada conexão por terra entre Baku e Istambul.
O verdadeiro cessar-fogo só acontecerá quando a República de Artsakh for reconhecida internacionalmente e Aliyev for condenado por seus atos.