Artigo escrito por Serob Abrahamian para o Armenian Weekly;
Em Yerevan, durante a comemoração do 25º aniversário da independência da República, em 21 de setembro passado, as Forças Armadas da Armênia apresentaram o míssil Iskander para o mundo e, principalmente, para seus vizinhos. O Iskander é o maior pesadelo do escudo anti-mísseis balísticos dos EUA.
Jornais publicaram inúmeros artigos sobre o que observaram, e as pessoas estavam visivelmente animadas com este novo e sofisticado modelo de armamento. Mas depois do término da apresentação e de todos terem voltado para casa, quais implicações realmente esta revelação tem para a Armênia e para a região?
É certo dizer que as relações da Rússia com o Ocidente estão, possivelmente, das mais fracas de todos os tempos. Com a recente situação na Criméia e Síria, e os conflitos na Abcásia e na Ossétia do Sul, isso não é nenhuma surpresa. Com a queda dos preços do petróleo em passado recente, Putin e Moscou tiveram que governar com mão pesada, a fim de manter o seu controle firme sobre o poder, tanto internamente como no exterior. Embora possa ser mais fácil de se governar seu próprio povo; a fim de ter um aliado estrangeiro, é preciso dar para receber. Depois da Guerra dos Quatro Dias em abril deste ano, tanto a Armênia como o Azerbaijão utilizaram armamentos da Rússia e a tomada de uma delegacia de polícia pelo grupo armado “Sasna Dzrer“, em julho, o sentimento anti-Rússia na Armênia aumentou. Embora estes possam não ter sido fatores essenciais na equação, eles podem ter sido catalisadores para que os mísseis Iskander tenham sido vendidos para a Armênia.
A introdução do míssil Iskander é importante para a região, uma vez que a Armênia se tornou o único país a possuí-lo além da Rússia. Com alcance de 300 Km de precisão e uma sequencia mortal, é uma grande atualização para o arsenal de armas da Armênia.
Dito isto, há várias perguntas a serem feitas. Por que a Rússia vende esses mísseis para Armênia? Poderiam os motivos citados acima serem os únicos em jogo?
Pode-se dizer que a Rússia se sente ameaçada e teme perder o poder e a influência no cenário mundial, e esta foi uma maneira de aprofundar as relações com a Armênia. A Rússia já tinha estendido a concessão da 102a. base militar russa posicionada próximo de Gyumri – a segunda maior cidade da Armênia – até o ano de 2044. Embora a influência da Rússia no Cáucaso do Sul tenha sido sempre sentida, ela se tornou um ator ainda maior na região com o míssil Iskander na equação, agora na posse de um aliado.
Entretanto, a Armênia não deve ficar de pronto demasiado animada. Como a história mostra, quando um dos lados de um conflito recebe uma atualização, o adversário sempre adquire, por sua conta, um armamento similar ou uma arma que anula a outra. Também não é difícil que a Rússia explore a situação geopolítica e venda o Iskander ao Azerbaijão no tempo de sua conveniência .Embora eu não acredite que a Rússia vá fazer isso, pelo menos em futuro próximo, acredito que a Rússia poderá vender ao Azerbaijão algo para anular o Iskander – se existir no mercado – a fim de capitalizar para seus interesses na região e para o impasse continuar.
Os perdedores aqui são tanto a Armênia como o Azerbaijão, que têm de aumentar os orçamentos militares, diminuir os gastos públicos com serviços sociais, ou, como vimos antes – especialmente no caso da Armênia – contrair empréstimos da Rússia, a fim de comprar armas dela. Um lado, mais do que o outro, entende que esta situação não é ideal e definitivamente não é sustentável.Considerando o fato de que o Azerbaijão é impregnado de autoritarismo, é difícil imaginar a família Aliyev fazendo o que é melhor para a sua nação ao sentar-se à mesa das negociações.
No final das contas, a questão Nagorno-Karabagh (Artsakh / NKR) é um meio através do qual a família governante do Azerbaijão mantém o seu poder, e um caminho para a Rússia manter o status quo e capitalizar economicamente, geopoliticamente e militarmente. Ambas facções dominantes e os sistemas políticos dessas duas nações, têm benefícios com o conflito controlado fora das suas regiões. A elite Armênia dominante pode ter visto alguns efeitos de apoio popular, mas mesmo isso pode desaparecer conforme um ou outro partido político promete melhores políticas, a fim de manter os cidadãos em segurança.
Não importa como você olhe para a situação Artsakh, qualquer pessoa racional vai ver que as únicas partes que realmente querem a paz são a República da Armênia e a NKR. Um conflito continuo e instabilidade ao longo de suas fronteiras não beneficia a Armênia e Artsakh e seus governos democraticamente eleitos. O conflito não traz nenhum benefício para a população que está continuamente sob ameaça. A NKR não tem benefícios no conflito quando os investimentos são adiados e o desenvolvimento é dificultado. E quando soldados armênios estão sendo mortos semanalmente – diariamente em alguns casos – torna-se claro que a Armênia e Artsakh são os únicos países da região que realmente querem a paz.
Tradução: gentileza das Engueruhies Chaké e Virginia.