Em 2024 os armênios celebram os 1573 anos doVartanants, a celebração mais popular da Igreja Apostólica Armênia, que tanto tem um caráter religioso quanto nacionalista, além de ser um símbolo da consciência e fé do povo armênio.
MAS O QUE FOI O VARTANANTS?
O Vartanants é uma celebração que remete à rebelião geral dos armênios no mês de maio de 451 (d.C) contra a tirania do Império Persa Sassânida, representado principalmente na figura do Rei Hasguerd, no que foi um esforço monumental para preservar a identidade e liberdade do povo.
Hazguerd queria reunir numa só religião e em uma só língua todas as nações que eram dominadas por seu império. Através de um édito real, ele havia ordenado que todos os súditos deveriam aceitar o mazdeísmo como religião oficial.
Porém, cerca de 150 anos antes a Armênia (sob a dinastia arsácida) havia declarado o cristianismo como religião oficial de estado. Existiam militares, senhores feudais (nakharar), soldados e, especialmente, a ampla maioria do povo que era fiel e preferia morrer a negar a religião cristã. Para formular a resposta ao Rei Hazguerd, os armênios convocaram uma grande assembleia, na qual participaram Hovsep Hoghotsmetsi Catholicós dos Armênios (Chefe da Igreja Apostólica Armênia), o comandante Vartan Mamigonian, o governador Vassag Siuni, o valente padre Ghevont (Yerets), além de senhores feudais (nakharar), príncipes, militares e a nobreza.
Após prolongadas consultas, os armênios enviaram à Pérsia uma resposta, dizendo: “Estamos prontos a cumprir todas as ordens do rei, como súditos obedientes, mas não podemos renegar a Cristo e o verdadeiro Deus, que é o Senhor dos Céus e da Terra e de todas as coisas, por Quem, se necessário for, estamos dispostos até a morrer. É preferível morrer e aceitar a coroa da glória eterna do Rei Imortal, a merecer honrarias efêmeras do rei mortal desse mundo. Nós não podemos renegar nossos pais, pois nós aceitamos como nosso pai, o Santo Evangelho, e nossa mãe, a Igreja Apostólica Armênia”.
Como era de se esperar, Hazguerd ficou irado com a ousada resposta dos armênios e decidiu declarar guerra. O exército irregular dos armênios foi montado e colocado sob o comando de Vartan Mamigonian. Na véspera da batalha, à noite, durante a celebração da Santa Missa, todos os soldados comungaram com o Corpo e Sangue de Cristo. Durante a cerimônia, os líderes da resistência (Hovsep, Ghevont e Mamigonian) inspiraram todos os combatentes com seus discursos fervorosos, preparando-os a defender, com suas vidas, a sua fé e liberdade.
A batalha ocorreu nos campos de Chavarchan, na Planície de Avarayr, na região de Vaspurakan, às margens do rio Delmut, no dia 26 de maio de 451 dC. Os armênios contavam com menor número de soldados e também de armamentos. O temível exército persa, com seus elefantes, armas mais eficazes e com seus 300.000 soldados, atacou a resistência armênia, que contava com aproximadamente 60.000 homens.
Surpreendentemente, na sangrenta batalha, os persas tiveram mais perdas, apesar da vitória final. Os armênios mesmo derrotados, saíram com a vitória moral, visto que Hazguerd não alcançou seus objetivos e se convenceu de que seria impossível afastar os armênios de sua fé cristã e resiliência. Foi uma vitória de Pirro (que inflige um preço tão devastador ao vencedor que equivale à derrota), pois o ocorrido em Avarayr abriu o caminho para o Tratado de Nvarsak de 484, que afirmou o direito da Armênia de praticar livremente o cristianismo
O resultado da batalha de Avarair foi a eternização da existência da nação e da Igreja Armênia. Esta é a convicção de todos os armênios, desde a época de Vartanants, até os dias atuais, enquanto lutamos para manter nossas fronteiras atuais e lutar pelas nossas terras ancestrais usurpadas (Anatólia e Nagorno Karabakh). A vida dos armênios foi preenchida com este espírito de luta e resistência através dos séculos, durante todos os profundos sofrimentos na sua história.
Na batalha de Avarayr, os armênios tiveram contaram 1036 vítimas que, como deixa claro o rito da Igreja Armênia, ‘entregaram suas vidas em prol da religião e da pátria’ (Vassen Groni yev vassen Hayreniats). Os 1036 mortos são considerados mártires pela Igreja Apostólica Armênia.
O Catholicós São Nerces Chenorhali (que significa “o Agraciado”), compôs diversos hinos (charagans) dedicados aos mártires, entre eles o “Norahrach” (o Novo Milagre) e “Ariatsialk” (os Valentes), que são cantados por ocasião desta comemoração.
O Dia de Vartanants é celebrado sempre na quinta-feira que precede o início da Quaresma e, caso tal dia coincida com dia 14 de fevereiro, que é comemorado o Diarnentarach (Festa da Purificação), a comemoração se realiza na terça-feira da mesma semana.
Confira a listagem com a data das próximas celebrações de Vartanants:
2024 – Quinta-feira, dia 8 de fevereiro
2025 – Quinta-feira, dia 27 de fevereiro
2026 – Quinta-feira, dia 12 de fevereiro
2027 – Quinta-feira, dia 4 de fevereiro
2028 – Quinta-feira, dia 24 de fevereiro
2029 – Quinta-feira, dia 8 de fevereiro
2030 – Quinta-feira, dia 28 de fevereiro