Você pode não conhecer o recém-falecido músico e compositor armênio Jivan Gasparyan pelo nome, ou mesmo pelo nome de seu instrumento. Mas é quase certo que você já ouviu seu duduk, alternando entre lamentos agudos e gritos exuberantes, em trilhas sonoras de filmes e partituras que vão de A Última Tentação de Cristo a Gladiador. Após trabalhar com nomes como Peter Gabriel, Michael Brook, Kronos Quartet, Nusrat Fateh Ali Khan, Lionel Ritchie, Brian May do Queen, entre muitos outros, Gasparyan morreu aos 92 anos na última quinta feira, dia 8.
Gasparyan (cujo nome também pode ser transliterado como Djivan Gasparian) nasceu em 12 de outubro de 1928 em Solak, na Armênia, um vilarejo próximo à capital, Yerevan. Aos seis anos, ele começou a aprender a tocar o duduk – um instrumento de palheta dupla próximo ao oboé ocidental – com seu pai, que também era músico. Anos depois, no entanto, ele disse em entrevista ao jornalista musical inglês Simon Broughton que sua maior inspiração foi ir ao cinema quando menino, e ouvir músicos de duduk acompanhando os filmes com suas próprias improvisações.
Em seu próprio país, o talento de Gasparyan foi reconhecido cedo. Ele extraiu todo um mundo de expressão emocional de seu instrumento simples – feito de madeira de damasco, com alcance de apenas uma oitava. Quando tinha 20 anos, Gasparyan estava solando com a Orquestra Filarmônica de Yerevan. Ele teve uma carreira notável na Armênia e na então União Soviética; em 1973, foi o primeiro músico a receber o título de Artista do Povo da Armênia.
Brian Eno ouviu Gasparyan tocar em uma apresentação em Moscou em 1988 e prontamente o convidou para ir a Londres, onde Eno o apresentou a Michael Brook. Brook produziu o primeiro álbum internacional de Gasparyan, Moon Shines at Night. Nesse intervalo, Eno conseguiu licenciar outra gravação Gasparyan, I Will Not Be Sad in This World, da gravadora estadual soviética Melodiya, e a lançou fora da URSS por sua própria gravadora, Opal Records.
A maioria do público internacional se familiarizou com a música de Gasparyan por meio da trilha sonora do filme de Martin Scorsese de 1988, A Última Tentação de Cristo, com curadoria de Peter Gabriel. Gasparyan também apareceu como parte das partituras e trilhas sonoras de Os Últimos Passos de um Homem, Diamante de Sangue, Syriana e Gladiador, entre outros filmes de Hollywood, e também no filme do diretor armênio-canadense Atom Egoyan, Calendar.
Ele transformou o duduk de um instrumento puramente folclórico – tocado por pastores – em uma força no palco de concertos. Gasparyan, que cresceu sem saber ler música, matriculou-se no Conservatório de Música de Yerevan aos 52 anos; mais tarde, se tornou professor do conservatório. Suas conquistas durante a carreira são notáveis não apenas em termos de realizações pessoais, mas também o que ele conquistou para o seu instrumento.
Gasparyan também foi um embaixador importante da cultura armênia, tanto para seu país quanto para a extensa diáspora armênia. Ao saber de sua morte, o ex-presidente da Armênia, Robert Kocharyan, escreveu: “Jivan Gasparyan é um dos maiores músicos que elevou as artes performativas armênias e, em particular, os instrumentos de sopro folclóricos a um novo nível, dando-lhes renome mundial e reconhecimento. Eu me curvo com grande gratidão diante de seu mérito e memória.”