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Editorial: A causa armênia não tem dono

Dois mil e vinte é ano de eleições municipais no Brasil e presidenciais nos Estados Unidos da América. Como se já não bastasse as incertezas de um ano eleitoral, o mundo atravessa a pior pandemia dos últimos cem anos e os armênios enfrentam, mais uma vez, uma luta pela sua existência e sobrevivência. 

Não há solução milagrosa para problemas complexos. Assim como medicamentos para tratamento da malária e vermífugos não têm efeitos sobre a COVID-19, políticos populistas que surgem com discursos autoritários, antidemocráticos e com soluções violentas não são eficazes no combate à corrupção, à crise econômica e aos problemas estruturais que afligem, de maneiras diferentes, os EUA, o Brasil, o Cáucaso e o Oriente Médio. Todas essas crises serão superadas com um compromisso popular por mudanças, pela recusa do autoritarismo como forma de fazer política, pelo comprometimento com a ciência, com a paz e com o diálogo.

Neste momento, nossos irmãos e irmãs em Artsakh estão sofrendo com a agressão azerbaijana apoiada pela República da Turquia e por grupos paramilitares radicais oriundos da Síria. Enquanto nossos soldados travam batalhas cruciais pela existência de nosso povo naquelas terras, recebem manifestações de apoio de milhares de pessoas e organizações ao redor do mundo, pessoas que estão do lado da justiça e do direito à autodeterminação dos povos. Entretanto, há também alguns aventureiros que querem pegar carona na luta dos armênios para fazer proselitismo religioso e político, pintar a guerra por Artsakh como uma cruzada contemporânea na qual “a civilização cristã triunfará sobre o eterno inimigo muçulmano”. Não vamos aceitar que a causa armênia seja capturada por qualquer grupo que não esteja comprometido com o direito à existência da República de Artsakh, livre, independente e democrática. A guerra que os armênios lutam hoje é uma guerra pela nossa sobrevivência, não pela eliminação do outro. Nosso povo sofreu um genocído a um século atrás e inúmeras outras perseguições ao longo da história. Sabemos muito bem o que significa a tolerância, o respeito e a justiça.

Nesse sentido, reafirmamos a posição do Estação Armênia em favor da democracia e dos direitos humanos e contra qualquer tipo de tirania e violência, seja o racismo estrutural que prende e mata milhões de pessoas nos EUA e no Brasil, seja o machismo que vitima mulheres por todo o mundo, seja o autoritarismo de figuras como Aliyev e Erdogan que, enquanto bombardeia igrejas, hospitais e residências em Artsakh, perseguem sua própria população que ousa desafiar seus arroubos ditatoriais e genocidas.

No contexto eleitoral que vivemos, é normal que surjam candidatos que sejam oriundos da grande coletividade armênia do Brasil ou que procurem-a, oferecendo apoio à causa armênia. Assim sendo, o Estação Armênia afirma que não apoia a candidatura de nenhum político, seja descendente de armênio ou não, que diga representar a causa armênia. Esta coletividade já sofreu no passado com figuras que diziam-se aliadas dos armênios, mas apenas visavam os votos dos milhares de armênios do Brasil. Ao mesmo tempo, a Armênia, Artsakh e os armênios já receberam apoio de políticos que não se dirigiam especificamente à coletividade, mas que nos apoiaram, pois estavam do lado da justiça e dos direitos humanos.

Por fim, não deixaremos, independentemente de partido político ou background, de divulgar o trabalho em prol da causa armênia daqueles que ocupam ou ocuparam algum cargo eletivo; e de criticar aqueles que se colocam contra o direito de existência dos armênios, apoiando os regimes autoritários de Ancara e Baku. A causa armênia não tem e não pode ter dono. A causa armênia pertence a todos e todas que lutam por liberdade, democracia e pelos direitos humanos.

 

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