Ocultas

Homenagem do Bispo Nareg Berberian à saudosa Diramayr

TRIBUTO E ADEUS Á MINHA QUERIDA MÃE, DIRAMAYR NEVART KAZANJIAN

10582989_10205057370211729_3630368872672851155_oPor: Bispo Nareg Berberian

Há 10 dias, uma sombra escura cobriu minha alma quando soube do passamento da minha amada mãe Diramayr, e sabendo que as palavras não curariam a dor que sinto até agora, e que apenas o tempo perfeito de Deus pode sanar o coração partido. A súbita morte dela ainda me deixa perplexo, como se eu estivesse passando por um pesadelo horrível. Parece irreal e onírico, mas gostaria que fosse apenas um mero sonho. O que pode-se dizer diante de uma situação dessas? Não encontramos uma resposta genuína. Mas como cristãos, todos nós sabemos que a morte é uma despedida desta vida terrena. Cremos e esperamos pela segunda vida com Deus, no Seu Reino Celestial.

Perdi minha querida mãe, a Diramayr, que passou seus últimos 22 de sua vida comigo, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Nesses anos todos, ela foi a minha confidente, minha inspiração, minha guardiã, e eu o seu maior fã. Nesses 22 anos, ela pôde testemunhar marcos importantes os quais alcancei: duas cerimônias de formatura de graduação, minha ordenação no sacerdócio e minha Elevação para o cargo de Vartabed, a cerimônia de minha formatura da escola de pós-graduação, minha eleição como Primaz da Diocese da Igreja Armênia do Brasil, e minha ordenação como Bispo da Igreja Armênia.

Diramayr deixa trás de si um grande legado. Como poderíamos caracterizá-la? Ela foi uma grande mãe que dedicou sua vida a mim. Ela tornou-se uma parte do meu ministério e testemunhou os momentos bons e maus de minha vida, sempre me estimulando e elevando meu espírito para me tornar um líder forte e corajoso.

Ela abraçou muitas qualidades como mãe. Ela possuía as virtudes da fé, esperança e amor. Sua fé se manifestava à medida que ela crescia cercada por sacerdotes maravilhosos, que eram membros de sua família. Sua fé se manifestava pela presença de grandes exemplos em sua vida. Nossa grande família havia gerado muitos religiosos. Ela os amava a todos e eles moldaram a sua fé e sua devoção para com a Igreja Armênia.
Sua presença me encorajou para que eu pudesse registrar êxitos no meu ministério. Ela impulsionou minha energia e espírito. Não podia imaginar nem ponderar na ideia de que chegaria a “hora” que a levaria longe de mim. Esta “hora” chegou de modo imprevisível como um ladrão e criou tumulto na minha vida, fazendo o impensável. Diramayr partiu com e nesse “tempo”. Esse “tempo” não me deu aviso nem me preparou com antecipação para salvar a vida dela. Ao contrário, ele foi indiferente e insensível, sem a possibilidade de retrocedê-lo para salvar a vida dela.

É tão difícil se separar de alguém que nós amamos. Nunca entendi e senti esta “separação” até que ela partiu de mim. A solidão e o vazio dominaram o meu ser; um sentimento estranho que jamais experimentara na minha vida.

Fisicamente, ela não está mais comigo, mas ela vive em mim: no meu pensamento, no meu coração, mente, atos e palavras. Sentirei saudade do seu doce sorriso, suas brincadeiras e conselhos maternos.
Como uma mãe, ela lutou arduamente na sua vida para educar seus filhos a alcançarem sucesso na vida. Foi uma mulher perfeita e uma mãe maravilhosa. Ela cuidou da minha irmã, meu irmão e de mim, sempre apoiando nossos empreendimentos. Foi uma mulher determinada que falava o que ela acreditava e fazia o que achava ser certo. Foi muito ativa na Associação das Mulheres, sempre disposta a ajudar na cozinha. Sim, ela gostava de cozinhar e oferecer às pessoas. Era muito hospitaleira e dada.

A Diramayr nasceu em Beirute, no Líbano, em 7 de abril de 1926. Ela casou em tenra idade com Kevork Berberian e teve três filhos, Alice, Garbis e Vasken. Na maior parte de sua vida, a Diramayr atuou para sustentar sua família. Ela dedicou sua vida para oferecer boas condições aos seus filhos e proporcionar-lhes as melhores oportunidades. Em 1991, a meu pedido e convite, ela se mudou para os Estados Unidos e morou comigo. Ela foi muito querida e estimada por civis e eclesiásticos em todas as paróquias da Igreja Armênia em que atuei na Diocese Leste dos Estados Unidos.
Estou convicto de que o seu legado será sempre lembrado. Ela continuará a permanecer viva em nossos corações. Ela só morrerá se sua lembrança for esquecida.

Ao me lembrar dela, agradeço a Deus por outorgar-nos uma mulher maravilhosa que repercutiu na vida de muitas pessoas e trouxe sua significativa contribuição à sociedade. Ela foi um presente dado a nós por Deus, mas agora Ele a tomou de volta em Suas asas. Enquanto “caminharmos pelo vale escuro”, captaremos um vislumbre da Luz Divina a brilhar em nossa face, e quanto mais nos aproximarmos dessa Luz, a escuridão far-se-á ofuscada e a luz cintilante nos abraçará, para seguirmos pelo Vale muito brilhante.
Roguemos, pois, a Deus para que aceite a Diramayr na Sua segunda morada, conhecida por nós como a Jerusalém Celestial, ou como dizemos em armênio, “i veríng Yerussaghém”, o que quer dizer, em outras palavras, que existe uma outra forma de vida a nos aguardar no Céu, para onde seremos transferidos. Não há local melhor para nos unirmos com Deus. A Diramayr será cercada por anjos e santos, por seu pai, sua mãe e irmãos.
Efetivamente, ela está agora no Céu, cercada por anjos e santos para me proteger e me guiar espiritualmente. Apesar de ela ter concluído a sua vida física, porém ela vive espiritualmente no meu coração e na minha alma.
A Diramayr foi tão afortunada por estar cercada por pessoas maravilhosas em São Paulo, e apreciou profundamente tudo o que essas pessoas fizeram por ela. Ela era tão grata ao Prof. Dr. Antranik Manissadjian e ao Dr. Pedro Seferian, os quais foram seus médicos principais. Quase diariamente, a Sra. Mayda Yeguinerian visitava minha mãe tanto no hospital como em casa, e a Diramayr esperava ansiosamente sua visita. Ela amava muito a Mayda. Ambas eram como mãe e filha, ou como se ambas se conhecessem há muitos anos. A Mayda cuidou da Diramayr com extrema dedicação e zelo, algo que jamais esquecerei. Outra pessoa que a Diramayr admirava foi a Yerevan Terzian, que também a ajudou e teve empenho ativo na vida da Diramayr. Em pouco tempo, a Diramayr captou o amor e carinho da Coletividade Armênia de São Paulo.
Estou grato ao André Kissajikian por tomar todas as providências funerais da Diramayr. Sinto-me afortunado por ter um amigo como o André, que está sempre presente quando necessário. Meu apreço se estende aos meus irmãos em Cristo, os Arciprestes Yeznig Guzelian e Boghos Baronian, que me deram grande força nesses dias difíceis. Meu apreço se estende ao Dr. Dikran Kiulhtzian, ao Puzant Yeguinerian, ao diácono ao Vazken e seu irmão Nersés Yeguinerian, por aliviarem minha dor nesses dias tão difíceis. Eles ficaram ao meu lado até o fim. Estou realmente cercado por pessoas que me estenderam suas mãos. Ainda encontro–me num processo de cicatrização. Mas tenho a certeza de que a Diramayr quer que eu permaneça forte e feliz. Respeitarei o desejo dela.
Hoje, a Diramayr olha para nós lá de cima e agradece a vós todos pelo vosso carinho e amor. Ela nos reuniu aqui para sermos um, amando, perdoando e cuidando dos nossos lares. Em tempos de aflição, precisamos nos humilhar e fazer auto-reflexão, afagarmos e confortarmos uns aos outros. A união fortalece a nossa determinação. Perdoar nos enriquece espiritualmente. Zelar uns pelos outros nos aprimora e nos leva a sermos pessoas melhores. A fé nos assegura alcançarmos coisas ainda não vistas. A esperança nos fornece persistência. O amor nos permite enxergar a face de Deus,.
A Diramayr viverá para sempre na minha mente, coração e alma. Que Deus ilumine a sua alma. E que a sua memória permaneça sempre viva em nossos corações. Amém.

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