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Armênia: 26 anos da independência de uma terra milenar

A República da Armênia hoje pode ser referida como “a Armênia mais recente“, tendo em mente os vários antigos e medievais reinos, dinastias e alianças nesses 4510 de história, bem como a efêmera e vital república de 1918 e até mesmo a filiação Soviética. Assim, o número de Armênias na história pode variar de 5 a 10.

A atual, com Yerevan como sua capital, declarou a sua independência em 21 de setembro de 1991, o dia em que um referendo sobre a libertação da URSS ocorreu em todo o país. Esse voto ocorreu no contexto da flexibilização das restrições de Moscou que vinha acontecendo nos anos anteriores, levando ao colapso da União Soviética em 25 de dezembro de 1991. 

Hoje a Armênia está de volta no mapa, há 26 anos, mas muito de seu território histórico está dentro das fronteiras de outros países, muitos deles considerados inimigos do povo armênio. A exemplo de Artsakh (Nagorno-Karabakh) no Azerbaijão, assim como Nakhitchevan ao sul. À Oeste, a Armênia ocidental e histórica e que hoje faz parte da Turquia. Ao norte, a região de Djavakh, dentro da Geórgia. 

Mesmo com apenas quase 3 milhões de habitantes (censo de 2014), a Armênia pulsa e vive. Enquanto escrevo esse texto, ocorre na Armênia o Fórum Armênia-Diáspora com a presença de lideranças de armênios do mundo todo, inclusive do Brasil. Em paralelo, ainda está ocorrendo mais uma edição do Congresso Pan-Armênio de Jornalistas. Ao todo, espalhado pelo mundo, estima-se que existam 10 milhões de armênios.

A luta não para e os armênios se mostram mais engajados a cada dia. Apesar de independente, a Armênia tem várias dificuldades. Um país jovem que sofre com a corrupção, as fronteiras fechadas, um regime de falsa democracia e um sem número de intempéries.

Entretanto, e em meio a todos esses problema, a República da Armênia ainda tem que encontrar tempo e dinheiro para ser salvaguarda dos armênios de Artsakh que lutam até hoje pelo seu direito de auto-determinação, passados 23 anos do cessar-fogo. Os armênios convivem diariamente com as covardes investidas do bélico e perigosíssimo governo do Azerbaijão e todo seu lobby espalhado pelo mundo, até em terras tupiniquins (leia aqui).

A Armênia e os armênios do mundo ainda tem a incumbência de travar globalmente a luta pelo reconhecimento do Genocídio Armênio perpetrado pela Turquia, uma ferida que está aberta há quase 103 anos.

Ao que concerne a parte jurídica da nação, a Constituição da República da Armênia – adotada em 5 de julho de 1995, alterada em 2005 – dá ao país o projeto de uma república democrática. O presidente é o funcionário público mais importante, o mais poderoso, embora a Assembleia Nacional (o parlamento, que equivale ao Congresso dos Estados Unidos) também tem sua parcela, assim como o governo (isto é, o primeiro-ministro e o gabinete), na definição das leis do país. Armênia também tem um Tribunal Constitucional – órgão judicial supremo do país, que supervisiona a legislação em geral e decide sobre casos que lidam com a própria Constituição. Existem planos para a reforma constitucional em curso desde 2013, com a possibilidade de um sistema mais britânico, de estilo parlamentar a ser introduzido no futuro.

Com tudo isso a República da Armênia é considerada o lar nacional para os povos armênios dispersos – o ponto de encontro para todos os grupos, facções e diversos representantes de armênios em todo o mundo. Projetos da diáspora na República variam de investimentos empresariais ao trabalho voluntário, a assistência do setor público e infraestrutura, para não falar de atividades artísticas e culturais e laços religiosos. Inclusive o turismo, que era pouco explorado pelo governo armênio, vem observando o número cada vez maior de visitantes ao país, de acordo com pesquisa divulgada recentemente (leia aqui).

Muitos armênios de toda a diáspora mudam-se definitivamente para Yerevan e em outras partes, enquanto outros mantêm segundas residências, passando as férias de verão na terra natal.

E é assim que a Armênia vem sobrevivendo e crescendo há quase três décadas. Cada um de nós, na diáspora ou na patria-mãe deve “carregar as dores” (*tsavet danem) da Armênia de alguma maneira para que ela cresça a cada dia e que possamos continuar dizendo que temos uma terra, um pequeno pedacinho de terra, lá numa das ‘encruzilhadas do mundo’.

*Tsavet danem: expressão carinhosa e comumente usada pelos armênios e que significa “que eu leve embora a sua dor”. 

Sobre o autor

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Jornalista de formação, é editor-chefe do site Estação Armênia.
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