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Onnig comenta: Fonethon, Fundo Armênia, Ação e Nação

*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

Mais uma vez chega a época do Fonethon do Fundo Armênia. É um evento importante que permite o exercício de nossa armenidade de uma forma totalmente inovadora.

Essa inovação é real, já que o Fundo Armênia viabiliza que sua contribuição, qualquer que seja, tenha uma importância maior quando somada a outras, gerando assim os recursos necessários para ajudar a  Pátria-Mãe. Lembrando que o Fundo Armênia foi instituído pelo governo armênio em 1992, período onde os problemas da Armênia se avolumavam e iam desde a falta de energia ao bloqueio turco e da desestruturação da economia soviética a Guerra de libertação de Artsakh (Nagorno-Karabagh).

Foi nesse quadro de desesperança que o Fundo Armênia surgiu para angariar verbas para projetos sociais e infra-estruturais capazes de fazer a diferença na vida de milhares de compatriotas que vivem na Armênia. Precisamos fazer as doações. Devemos fazer doações.

 Mas peço a tradicional licença ao meu leitor para, a partir desse tema, buscar uma reflexão.

Doar para o Fundo Armênia é uma ação política. Política entendida aqui como a síntese da própria existência social. Assumo categoricamente que a minha intenção é impactar e faço aqui uma adaptação de Bertold Brecht e seu belíssimo texto Analfabeto Político onde ele diz: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.” “… Não sabe o imbecil, que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,  pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.” 

É por isso que devemos doar ao Fundo Armênia. É um ato político.

Continuo pensando que essas ações, também tem um caráter emocional. A campanha desse ano é extremamente simbólica na minha opinião. As doações vão estar direcionadas para o abastecimento de água para comunidades rurais carentes em Artshak, prioritariamente. Muitos devem estar se perguntando onde está a simbologia dessa doação que faremos? Respondo.

Em maio de 1915 chegavam as primeiras caravanas de deportados ao Deserto de Der – El – Zor. Eram na sua maioria mulheres e crianças armênias desprotegidas, e claro sem água para beber, muito menos comida para se alimentar. O desterro seguido de assassinatosem massa. Criançasarmênias sofrendo, mães armênias enlouquecendo. Os que sobreviveram não esqueceram essa injustiça. Doar para o Fundo Armênia e fazer chegar a água que foi tirada do povo armênio, da boca de crianças armênias mortas em 1915. Doar ao FONETHON do Fundo Armênia 2011 é fazer justiça.

Por fim entendo que a nação Armênia vive uma fase de sua história muita complexa. Pátria-Mãe e diáspora se encontram justamente em um período muito conturbado e efervescente da humanidade. Por isso estamos sempre discutindo o “ser armênio” aqui no amplo sentido filosófico da expressão.

Tenho certeza absoluta que hoje o fato de “ser armênio” não tem elo nenhum com a língua armênia, muito menos com qualquer tipo de justificativa étnica. Arrisco até a dizer que tampouco a cultura ou mesmo a religião podem definir o tal “ser armênio”. No atual estágio “ser armênio” está muito mais ligado a um legado espiritual e sentimental, uma junção de metas e interesses centrados na justiça social para um pedaço de terra que já sofreu muito, de uma gente que sente por gerações as dificuldades para manter suas famílias.

Ser armênio é saber que fizemos grandes coisas no passado e queremos continuar fazendo no futuro. Isso é a essência do “ser armênio” na minha opinião. Dessa vez, doar para o FONETHON do Fundo Armênia 2011 nos faz ainda mais armênios.

*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

Vídeo da campanha do ano passado:

 

Sobre o autor

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Professor de Geografia e Geopolítica. Fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico.
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