Orhan Pamuk se tornou em 2006 o primeiro escritor turco a ser laureado com um Prêmio Nobel.
No entanto, Orhan é considerado uma persona non grata em seu país. Em fevereiro de 2005, ele declarou a um jornal suíço: “30 mil curdos e um milhão de armênios foram mortos nessas terras e ninguém além de mim fala sobre isso”.
O escritor e ativista dos Direitos Humanos teve suas obras queimadas na Turquia, foi ameaçado e era um dos alvos do grupo que assassinou o jornalista Hrant Dink, seu amigo pessoal (leia mais).
Esse cenário de desrespeito a liberdade de expressão e aos direitos humanos é bem diferente das maravilhas apontadas na novela da globo “Salve Jorge”, que apesar de denunciar o tráfico de seres humanos, não aborda tais questões. O folhetim vem amargando uma crise de audiência inédita na emissora no horário.
Orhan também foi acusado de ofender a “identidade turca” ao reconhecer os massacres de curdos e armênios e acabou sendo julgado com base no artigo 301 do Código Penal de seu país. Hoje ele é professor em uma das maiores universidades dos EUA, país em que vive atualmente.
Em entrevista concedida ao The New York Times Book Review e publicada no Caderno 2 do Estadão desta terça-feira (20), Pamuk foi interpelado sobre o assunto e declarou: “Estava agindo, no máximo, como um cidadão engajado. Não tenho idéias políticas sistematizadas, e tampouco sou um escritor intencionalmente político. Se os meus livros são políticos, isso se deve ao fato de que os meus personagens vivem em momentos conturbados, de grande agitação política e mudança cultural. Gosto de mostrar para os leitores que nem sempre as escolhas dos meus personagens são feitas por eles mesmos. E isso é, de uma maneira literária, um aspecto político da minha ficção.”
Nota da redação:
Em dezembro de 2011, a equipe do Estação Armênia esteve na conferência de Pamuk, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O autor, porém, não se mostrou disposto a atender os presentes. Contudo, o jovem Bruno Nercessian conseguiu entregar ao escritor turco uma cópia do livreto “Veredito – o crime do silêncio: genocídio armênio” e exprimir em algumas palavras a admiração que a coletividade armênia tem pela coragem de Pamuk em reconhecer o genocídio armênio.