Em 2025, o mundo relembrou os 110 anos do início do Genocídio Armênio com cerimônias e protestos que destacaram a luta contínua por reconhecimento e justiça. Enquanto países como Argentina e Brasil realizaram solenidades oficiais e pressionaram por reparação simbólica, a Armênia liderou marchas emocionantes em Yerevan, reforçando a importância de lembrar crimes para que não sejam repetidos. Já nos Estados Unidos, a comunidade armênia enfrentou um retrocesso político, com o governo fugindo do termo ‘genocídio’ e cedendo novamente ao lobby turco.
Brasil
O Brasil marcou os 110 anos do início do Genocídio Armênio com uma série de eventos que destacaram a importância da memória histórica e da justiça. A comunidade armênia enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitando o reconhecimento oficial do Genocídio pelo Estado brasileiro, reforçando a necessidade de reparação e o fortalecimento dos laços com a diáspora. Além disso, organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas promoveram debates sobre a prevenção de crimes contra a humanidade, conectando o passado armênio a outras violações de direitos humanos no mundo moderno.
Em São Paulo, as homenagens incluíram uma cerimônia solene na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), com a presença de deputados, líderes comunitários e descendentes de sobreviventes do genocídio. Um momento marcante foi a deposição de coroas de flores no monumento da Cruz de Pedra, localizado na praça da ALESP, seguida por um serviço ecumênico que reuniu representantes de diferentes religiões. No Rio de Janeiro, ocorreu a primeira cerimônia oficial em memória às vítimas, com a participação de autoridades municipais e estaduais, além de líderes religiosos.
No campo acadêmico, as universidades PUC-SP e USP organizaram eventos como o I Congresso Internacional sobre Genocídio, Crimes contra a Humanidade e Direitos Humanos, que integrou o ciclo de reflexões sobre os 110 anos do genocídio. Palestras, exposições e publicações abordaram não apenas o caso armênio, mas também outros genocídios e violações de direitos, promovendo um diálogo sobre justiça histórica.
O mês de abril também foi marcado pelo lançamento do livro Genocídio Armênio – História e Disputas Políticas no Presente (Editora Juruá, 2025), do historiador Heitor Loureiro, que analisa o Genocídio Armênio enquanto estabelece conexões com crises contemporâneas, como a expulsão de armênios de Artsakh em 2023. Parte da coleção História FM, a obra examina as disputas geopolíticas entre Armênia, Turquia e Azerbaijão, o negacionismo histórico e a resistência cultural armênia, propondo reflexões sobre justiça e memória. Disponível em formato físico e digital, o livro combina pesquisa acadêmica com narrativa acessível, destacando como o passado segue moldando conflitos atuais no Cáucaso e na diáspora.



Armênia
A Armênia realizou a tradicional e emocionante solenidade no Memorial de Tsitsernakaberd, em Yerevan. Milhares de pessoas, incluindo descendentes de sobreviventes e líderes políticos, marcharam em silêncio até o monumento, onde flores foram depositadas ao redor da chama eterna em homenagem às vítimas.
O Primeiro Ministro armênio, Nikol Pashinyan, em discurso solene, não apenas honrou a memória dos mortos, mas também destacou a importância do reconhecimento internacional contínuo do genocídio, pressionando países que ainda se abstêm de usar o termo. Paralelamente, a Federação Revolucionária Armênia (ARF) organizou protestos e eventos culturais, exigindo reparações simbólicas e maior justiça histórica, enquanto artistas e intelectuais promoveram exposições e performances artísticas que retratavam a resistência e a resiliência do povo armênio.
Além das cerimônias em Yerevan, outras cidades armênias, como Gyumri e Vanadzor, realizaram vigílias com velas, leituras de nomes de vítimas e exibições de documentários históricos.



Líbano
No Líbano, centenas de membros da diáspora armênia se reuniram na Praça dos Mártires, em Beirute, para lembrar o genocídio. No entanto, a cerimônia não incluiu referências à Palestina, refletindo as divisões sectárias do país. Jovens armênios libaneses expressaram frustração com a falta de solidariedade entre grupos oprimidos.

Estados Unidos
Os EUA, que já haviam reconhecido oficialmente o genocídio em 2021, deram um passo atrás na nova administração de Donald Trump. O atual presidente se recusou a usar o termo genocídio em sua declaração no dia 24 de Abril. Membros da comunidade armenio-americana condenaram o ato que chamaram de “recuo vergonhoso” e lembraram que muitos políticos da comunidade armênia apoiaram a eleição do presidente.
Argentina
A Argentina realizou uma série de solenidades marcantes pelos 110 anos do Genocídio Armênio, reforçando seu histórico reconhecimento oficial do massacre. O epicentro das comemorações ocorreu em Buenos Aires, com uma cerimônia religiosa na Catedral San Gregorio El Iluminador e um ato solene no Monumento aos Mártires, reunindo líderes comunitários, políticos e o arcebispo Aren Shaheenian. Jovens da diáspora marcharam até a embaixada turca exigindo reconhecimento, enquanto eventos culturais, como um concerto no Teatro Avenida com 110 vozes (uma por cada ano), e ciclos de cinema educativos destacaram a participação da comunidade local. A Feira do Livro de Buenos Aires dedicou espaço especial a obras sobre o tema, com renda revertida para projetos na Armênia.
O governo argentino manteve seu reconhecimento formal do genocídio, embora com linguagem cautelosa sobre a Turquia, reflexo das relações comerciais bilaterais. Províncias como Córdoba, Vicente López e Lanús organizaram atos locais, com autoridades destacando a contribuição da comunidade armênia ao país. A deputada Lilia Lemoine criticou a ambiguidade governamental, enfatizando que “genocídio que se esquece, genocídio que se repete”. O embaixador armênio, Hovhannes Virabyan, celebrou a vitalidade da diáspora na Argentina, demonstrando como a memória do massacre permanece viva e ativa na luta por justiça histórica.
Os eventos que marcaram os 110 anos do Genocídio Armênio em 2025 demonstraram tanto os avanços quanto os desafios persistentes na luta por memória e justiça. As cerimônias ao redor do mundo não apenas homenagearam as vítimas, mas também destacaram como a questão armênia permanece um testemunho da resistência cultural e um alerta contra o negacionismo. Que essas memórias continuem a inspirar a defesa intransigente dos direitos humanos e a prevenção de novas atrocidades, garantindo que o passado não se repita.