Por Cristopher Patvakanian para o Mirror-Spectator
Muito antes da guerra de Artsakh de 2020, Anna Astvatsaturian Turcotte era uma firme defensora e líder dos direitos dos armênios de Artsakh. Tendo escapado de Baku em 1989 e se tornado uma refugiada aos 11 anos, ela está muito familiarizada com o quão traumático é ser uma sobrevivente da limpeza étnica e uma refugiada sem lar.
Depois de publicar seu livro intitulado Lugar nenhum, a História de um Exílio, baseado nos diários que ela mantinha como refugiada de Baku, Anna começou sua defesa de várias políticas pró-Armênia e Artsakh. Simultaneamente, ela completou projetos humanitários para apoiar as comunidades dos dois países, formalizando seus esforços ao estabelecer a Fundação Anna Astvatsaturian. Criada na primavera de 2020, a fundação é uma organização sem fins lucrativos dedicada a esforços humanitários culturais e educacionais na Armênia, Artsakh e na diáspora. Quando a guerra começou, concentrou-se em fornecer primeiros socorros a Artsakh, mas desde então mudou seu foco para a realização de um levantamento populacional completo para documentar as necessidades e perdas de propriedade para toda a República de Artsakh.
Astvatsaturian se motivou em iniciar o projeto do censo por sua experiência pessoal como refugiada. Ela explicou que, como uma armênia de Baku, “nenhuma de nossas perdas, seja trauma físico ou psicológico, e perda de propriedade, foi registrada por ninguém… o governo da Armênia deveria saber disso. Agora toda essa informação está perdida.”
A fundação lançou o projeto com a ajuda da Associação de Assistentes Sociais da Armênia, e o trabalho está em andamento desde o fim da guerra. Os resultados finais da pesquisa de 50 páginas fornecerão dados extremamente necessários para o governo, ONGs, organizações de direitos humanos e instituições internacionais desenvolverem uma programação pós-guerra para Artsakh com base em dados.
Anna conta que, quando a guerra de 2020 começou e os refugiados de Artsakh estavam fugindo para a Armênia, ela perguntou ao governo da Armênia e de Artsakh se suas perdas estavam sendo registradas. Em suas próprias palavras, “foi incompreensível que isso não estivesse sendo feito, com a história de atrocidades em massa às quais sobrevivemos – os dados são nossa força, e não estavam sendo coletados”. Mesmo após o termino da guerra, nenhum dado foi coletado pelo governo.
Foi então que Astvatsaturian interveio. Em vez de esperar que os ministérios já sobrecarregados priorizassem a questão, sua Fundação assumiu a difícil tarefa de fazer um censo para registrar as muitas perdas que os armênios de Artsakh enfrentaram.
Realização do Censo
Realizar uma pesquisa nas condições do pós-guerra não foi uma tarefa fácil. O maior obstáculo foi conseguir que o povo de Artsakh estivesse aberto para entrevistas. Muitos entrevistados não apenas desconfiavam do governo, mas também estavam traumatizados a ponto de não quererem compartilhar suas histórias.
Além de todas as dificuldades, o país enfrenteva a pandemia do COVID-19. A Associação dos Assistentes Sociais realizou todas as entrevistas pessoalmente de acordo com as normas profissionais, tomando inúmeras precauções para não contribuir com a disseminação do coronavírus.
Outra questão crítica foi e continua sendo o financiamento. “Estamos a cerca de US$ 15.000 da meta de arrecadação de fundos para encerrar este projeto e a diáspora está exausta de arrecadadores pós-guerra e, compreensivelmente, não confiando nos nossos esforços”, revelou Anna Astvatsaturian. No entanto, “uma vez que eles descobrem o que a Fundação está fazendo, eles ficam ansiosos em ajudar. Ainda estamos arrecadando fundos e dependemos de nossos doadores para concluir a iniciativa.”
A fundação visa pesquisar toda a população de Artsakh, contabilizando até mesmo aqueles que se recusaram a fazer a entrevista completa. De acordo com Astvatsaturian, além do último censo soviético (1989) e alguns levantamentos amostrais feitos por ONGs, o levantamento de sua fundação é o mais novo e completo – abrangendo o impacto médico, psicológico, financeiro e patrimonial da guerra, bem como informações familiares , idades, educação etc. A pesquisa inclui aqueles que vivem na Armênia e Artsakh, mas não os refugiados de Artsakh em outros países.
Em última análise, Astvatsaturian acredita que existem três áreas para as quais os dados do censo serão cruciais. A primeira é a assistência imediata e de curto prazo, já que Artsakh está sendo reconstruída. A segunda é permitir que as vítimas de crimes de guerra e organizações internacionais usem as informações durante os procedimentos legais e avaliações finais do impacto dos crimes. Por fim, para o longo prazo, esses dados servirão como registro histórico.
“Dados abrangentes são uma coisa que as vítimas do Genocídio Armênio de 1915, os pogroms de Baku e Sumgait não tinham. Ainda nos perguntamos até hoje quanto foi realmente perdido”, elaborou Astvatsaturian. “Somos muito bons em manter nossas perdas vivas de maneira criativa, contando nossas histórias pessoais ou argumentando, mas não de maneira empírica, e com esse censo podemos capturar esses pontos de dados para pesquisas futuras.”
A Fundação Anna Astvatsaturian Turcotte incentiva todos os tipos de organizações interessadas em usar os dados a solicitar acesso, tanto armênios quanto não armênios. Visto que sua coleta de dados seguiu um rigoroso protocolo de processos, verificação, recrutamento e treinamento de entrevistadores, e pode ser considerada confiável para muitos propósitos. Todos os candidatos serão examinados e serão fornecidas informações em nível estatístico para evitar a exposição de dados confidenciais e proteger as informações confidenciais das famílias em Artsakh. Para obter detalhes sobre a inscrição e como você pode apoiar os esforços da fundação, consulte o site: www.astvatsaturian.org.