Forças militares do Azerbaijão cruzaram a província de Syunik na Armênia na última quarta-feira, dia 12 de maio, ameaçando a vida de armênios que vivem na fronteira e violando a integridade territorial da República da Armênia. O ataque aconteceu a cerca de dez quilômetros da cidade de Goris, as tropas azerbaijanas ainda avançaram cerca de em direção à aldeia de Verishen.
O prefeito de Verishen, Ararat Ordian, disse ao jornal Azatutyun que os azerbaijanos avançaram quase seis quilômetros na aldeia e acrescentou que os militares armênios responderam enviando reforços para a área. O governo armênio foi vago em sua resposta inicial, com a maioria das autoridades, incluindo o primeiro-ministro interino Nikol Pashinyan, que passou os primeiros momentos do dia em reuniões com o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Gharibashvili, que estava em visita oficial ao país.
Em um comunicado sucinto, o Ministério da Defesa da Armênia inicialmente reconheceu um incidente na fronteira dizendo que as forças do Azerbaijão “tentaram realizar algumas ações em uma das regiões da fronteira de Syunik sob o pretexto de esclarecer a ‘demarcação da fronteira’”. Ainda no comunicado o ministério afirmou que “após medidas tomadas por unidades do exército armênio, as forças do Azerbaijão interromperam essas ações” e que negociações estavam sendo realizadas para resolver a situação.
O prefeito de Goris, Menua Hovsepyan, soou o alarme sobre a incursão do Azerbaijão em um post no Facebook, avisando que as forças do Azerbaijão haviam violado a área, conhecida como Sev Lidj (Lago Negro) e estavam tentando ocupar a região. “O reservatório artificial na área de Sev Lidj é a principal fonte de água para a região”, explicou Hovsepyan em sua postagem, acrescentando que os azerbaijanos estavam alegando que o reservatório era pertencente ao Azerbaijão.
Somente na noite de quarta-feira Pashinyan convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, durante a qual condenou o que chamou de “usurpação do território soberano do país”, dizendo que as forças do Azerbaijão fizeram “uma tentativa de incursão subversiva”. “Eles estão tentando justificar suas ações por meio de alguns mapas, que consideramos fictícios, porque à nossa disposição temos um mapa aprovado entre a Armênia soviética e o Azerbaijão soviético, e confirmado pelo Governo Central, que claramente mostra onde passa a fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão ”, disse Pashinyan.
Dado o atual clima interno da Armênia, forças de oposição a Pashinyan aproveitaram as respostas vagas e demoradas do governo e acusaram a liderança de se prostrar diante do Azerbaijão. Pashinyan disse que a situação era “quase crítica, se não crítica”, pedindo calma, mas também dizendo que “precisamos ser consistentes em termos de proteção de nosso estado e dos interesses nacionais”.
No dia seguinte, as forças militares azerbaijanas voltaram a violar a fronteira em direção a Vardenis na província de Gegharkunik e Sisian, que está localizada na província de Syunik. Com o impasse em seu segundo dia, o governo armênio recorreu à Organização do Tratado de Segurança Coletiva – a OTSC.
Embora não tenha havido troca de tiros, os soldados azerbaijanos não deixaram o território soberano da Armênia, com relatos indicando que mais de 250 soldados azerbaijanos estão acampados dentro da Armênia, especialmente próximo da região de Sev Lidj. No total, as tropas azeris invadiram 3,5 quilômetros em Syunik.
Em novo comunicado, o Ministério da Defesa afirmou que “Em ambos os casos, os esforços [do Azerbaijão] em avançar foram interrompidos como resultado das atividades das Forças Armadas da Armênia. O lado armênio apresentou uma demanda ao lado azerbaijano para deixar o território imediatamente e retornar às suas posições iniciais”.
As regras da OTSC estipulam que “em caso de ameaças à segurança, estabilidade, integridade territorial e soberania de um ou vários estados membros ou ameaça à paz e segurança internacionais, os estados membros devem iniciar imediatamente mecanismos de consultas conjuntas para fins de coordenar suas posições, desenvolver e tomar medidas de assistência a esses Estados membros com o objetivo de eliminar as ameaças. ”
A OTSC emitiu uma declaração dizendo que o corpo estava monitorando de perto a situação. “A OTSC está acompanhando de perto os desenvolvimentos nas regiões fronteiriças da província de Syunik e, se necessário, ações serão tomadas de acordo com o Tratado de Segurança Coletiva e a Carta do CSTO”.
Durante sessão do Conselho de Segurança na quinta-feira, Pashinyan disse que as provocações do Azerbaijão podem ter consequências militares e políticas mais amplas, acusando Baku de provocar um conflito militar. “Uma reação rápida da OTSC é necessária para evitar uma escalada futura e para proteger a integridade territorial da República da Armênia, sua estabilidade e soberania. E nós levamos essas medidas a sério como um estado membro da OTSC”, disse Pashinyan.
“É urgente tomar todas as medidas necessárias para proteger incondicionalmente os interesses e a segurança da República da Armênia, dos cidadãos da República da Armênia”, disse o presidente Armen Sarkissian em um comunicado na quinta-feira, acrescentando que a resposta deve ser “clara e precisa”.
Em 2018, o presidente do Azerbaijão Ilham Aliyev afirmou em comunicado oficial que seu objetivo final é avançar sobre todo o território armênio, incluindo a capital Yerevan. “Yerevan é nossa terra histórica e nós, azerbaijanos, devemos retornar a essas terras do Azerbaijão. Este é o nosso objetivo político e estratégico.”
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