Em 17 de abril passado, o ex-presidente da Armênia por uma década (dois mandatos), Serzh Sargsyan foi eleito Primeiro-ministro do país, dois anos após o sistema político armênio ser alterado para parlamentarismo.
Assim que Sargsyan foi eleito Primeiro-ministro pelo Parlamento Armênio, o povo saiu às ruas da capital Yerevan para protestar, bloqueando as vias e fechando as entradas de prédios públicos. Os protestos foram seguidos por muita violência e repressão policial contra os manifestantes. O movimento ganhou o nome de մերժիր սերժին (Mergir Serjin), que significa “Rejeitem o Serj”. Os protestos se seguiram por dias.
Até que, na noite de sábado (21), o líder da oposição Nikol Pashinyan teve uma conversa com Serzh Sargsyan no hotel Marriot. Da discussão nada de proveitoso saiu, até que ontem (22), Pashinyan foi preso. Mais de 100 mil armênios foram protestar, às vésperas do 24 de abril, data que relembra os 103 anos do Genocídio Armênio perpetrado pelo Governo Turco Otomano. Ainda no domingo, a polícia da Armênia prendeu, além de Pashinyan, mais dois líderes da oposição e quase 200 manifestantes, despertando condenações da União Europeia.
Na manhã de hoje (23), a população saiu às ruas pelo 11º dia consecutivo e com uma surpresa: os soldados de alguns batalhões do exército armênio se rebelaram e se juntaram à população nos protestos. Empresas privadas liberaram seus funcionários.
E não demorou para que tudo isso surtisse efeito e Serzh Sargsyan sucumbisse, anunciando a sua renúncia. O Ministério da Defesa da Armênia alega que os soldados participaram de protesto ilegais e serão punidos de acordo com a lei.
A correspondente do Estação Armênia, Maria Carolina Chaves Indjaian está em Yerevan e gravou um vídeo sobre o momento histórico da Armênia, assista abaixo:
Abaixo, leia o discurso de renúncia de Serzh Sargsyan:
Caros compatriotas, Apelo a todos os cidadãos da República da Armênia,
Para os adultos e minha querida juventude
Para mulheres e homensEu me volto para as ruas – para aqueles que chamaram “Merjir Serjin” (“Rejeitar Serge”),
para aqueles que permaneceram dia e noite, para aqueles que chegaram aos seus locais de trabalho com muita dificuldade por causa das ruas fechadas, e para todos aqueles quem fizeram o seu dever.
Eu me volto para aqueles que estavam acompanhando às transmissões ao vivo e aqueles que corajosamente asseguravam a segurança do público todos os dias.
Eu me volto para nossos bravos soldados e oficiais que estão em nossas fronteiras, eu me volto para meus irmãos de armas,
Eu me volto para meus companheiros de partido, para todas as forças e figuras políticas.
Eu me volto para vocês como líder do país pela última vez.Nikol Pashinyan estava certo. Eu estava errado.
Existem algumas soluções para a situação atual, mas eu não sou uma delas.
Estou renunciando como líder do país e deixando o cargo de primeiro-ministro da Armênia.O movimento na rua é contra a minha liderança e, portanto, estou cumprindo sua demanda.
[Eu desejo] paz, harmonia e bom senso para o nosso país.
Obrigado.