NÃO ME INCLUO NESSA DISTORÇÃO DOS FATOS* –
Devo deixar claro que o “Onnig Comenta” reflete uma posição pessoal e não do Portal.
Ontem uma notícia no site panorama.am chamou-me a atenção. Os respeitáveis Srs. Ochin Leon Mosditchian, Eduardo Mekbekian e Arshag Djanian, todos de inegável dedicação à armenidade e dirigentes do Fundo Armênia do Brasil, prestaram declarações sobre nossa comunidade.
Apesar das informações dadas serem verídicas, o tom da reportagem (Leia a matéria completa, clique aqui) é, no mínimo, estranho. A começar pela foto que mostra o Rio de Janeiro, onde moram sim muitas famílias armênias. Mas a reportagem trata notoriamente de São Paulo. Daí podemos ter uma ideia da imagem distorcida sobre o Brasil que infelizmente ainda resiste por aí e da ausência total de critério do incompetente site.
A reportagem com manchete funesta anuncia que a comunidade do Brasil está diante de graves mudanças com um tom sepulcral. O texto lembra que já estamos na quinta geração de armênios no Brasil. Gostaria de lembrar ao amigo leitor que nossa comunidade (sul-americana em geral) é uma das mais antigas pós-genocídio. Depois da primeira leva de imigrantes (1920/30), tivemos poucas ondas de imigração em massa.
Creio que pintar a comunidade do Brasil como um grupo social que não fala armênio é fugir e descontextualizar muito a discussão.
De uma vez por todas temos que aceitar que a armenidade na diáspora tem pouco a ver com a língua armênia. A armenidade se expressa de muitas outras formas e é possível constatar facilmente isso para quem realmente se interessa por ela. Como infelizmente a reportagem foi feita por jornalistas inexperientes ou mal-intencionados, dá a impressão de que somos um bando de alienados que não se preocupa com a cultura armênia.
Tenho certeza que não foi isso que os estimados compatriotas, responsáveis dirigentes do Fundo Armênia no Brasil, disseram ao site. Certamente eles foram mal interpretados.
O jornalista que escreveu a reportagem ofende dezenas de jovens armênios que, mesmo sem dominar completamente o idioma, participam, auxiliam e estão buscando sozinhos ou com ajudas desinteressadas saber mais daquilo que lhes foi privado: sua origem.
Dou testemunho disso. Pela minha profissão e militância já fui procurado por mais de 30 jovens nos últimos meses que estavam se aproximando de suas raízes pela primeira vez. Muitos deles estão fazendo teses, trabalhos de conclusão de curso e filmes para resgatar aquilo que lhes foi omitido: sua origem.
Falo com conhecimento de causa e estou aberto a um debate presencial ou uma conversa informal se algum amigo ou compatriota assim desejar. Ser armênio na diáspora hoje independe de saber ou não o idioma.
Não vejo problema algum em não falar o armênio. Obviamente que quem não fala está perdendo muito. Mas isso não impede comunicação alguma, nem atrapalha a identificação de dezenas de jovens com sua ancestralidade armênia. A reportagem desfoca o real problema e o jornalista é um xenófobo preconceituoso que deveria ser punido.
A valorização do idioma armênio começa pela escola armênia. Sem uma política educacional comunitária arrojada, moderna e inclusiva não mudaremos esse quadro.
Claro que o jornalista se enganou quando afirmou que a comunidade armênia do Brasil também não fala inglês, fato que, segundo a reportagem, dificulta ainda mais a nossa comunicação. Só pode ser uma piada de mal gosto e não cabe aqui nenhum tipo de comentário.
Mas o mais estranho de tudo isso é que esta é a segunda reportagem em sites armênios em poucos meses que de uma forma muito distorcida e tendenciosa deprecia a comunidade armênia brasileira. Meses atrás, o maestro Ará Gevorgian declarou no site tert.am que recebeu informações de que a comunidade ia fechar a escola e as igrejas não tinham fiéis (leia matéria, clique aqui). Vou procurar saber pessoalmente quem dissemina essa descontextualização e distorção.
Seria ideal se todos soubessem e praticassem o armênio na diáspora. Nosso idioma é lindo e sua preservação cabe a nós também. Mas o fato de que poucos o falam no Brasil (será que somente aqui?) não diminui nosso sentimento de armenidade. Afinal, infelizmente, alguns dos que falam armênio, falam muito, porém fazem muito, mas muito pouco mesmo pela nossa pátria-mãe e até mesmo pela comunidade. Viva os armênios que não falam armênio. Viva os jovens que estão buscando suas raízes mesmo sem nenhum conhecimento de nosso milenar idioma. Um dia eles vão aprender a falar armênio. Não distorcer os fatos eles já sabem.
Para o pensamento antiquado do jornalista da matéria e para o deplorável site indico o texto do companheiro Aram Hamparian “Todos Somos Armênios”, que por sinal está em inglês, assim o jornalista incompetente aprende de uma vez por todas que levantar mentiras e descontextualizar declarações pode ser crime.
Abaixo, reproduzo na íntegra o texto do ANCA.
We ‘re All Armenians
With or without an “ian” or “yan” at the end of our names.
Folks with 2 Armenian parents, or 1, or who are 1/4, 1/8, a 1/16, 1/32, or (like the late Princess Diana) 1/64 Armenian.
Kids who’ve been adopted into Armenian families, or husbands and wives who’ve married into our community.Those in Armenia and from around our global diaspora.
First or 5th (or 15th) generation immigrants. Armenian speakers or not.
Left, right, or center. Of all types, tastes, and varieties.
Those who serve and sacrifice, and those yet to fully find their place. Of all faiths, or no faith. Christian (like so many of us) or Muslim (like our Hamshen brothers and sisters).
Part Kurdish, part Assyrian, part anything and everything: You’re 100 percent of every part of your heritage, including 100 percent Armenian!
Armenians by birth, by choice, by citizenship, by spirit, by partnership…or by accident.
We’re all Armenians.
We each—for reasons as myriad and sometimes as mysterious as the stars—bring something unique to the Armenian equation.
And so, it’s with arms open to the world and all its wonder and diversity, that we cherish our special place among the family of nations and treasure our ever-evolving contribution to the rich tapestry of human civilization.
We’re Armenians, and we stand together, as proud sons and daughters of our ancient tribe, in believing in and building a bright and brilliant future for ourselves and all of humanity.
Aram Hamparian is the executive director of the Armenian National Committee of America (ANCA).
James Onnig Tamdjian
*James Onnig Tamdjian é crítico do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.