Como já era esperado, a viagem do Papa à Armênia e suas declarações sobre o Genocídio Armênio enfureceram a Turquia, o vice primeiro-ministro turco Nurettin Canikli reagiu no sábado dizendo ser lamentável o uso da palavra genocídio pelo Papa e que o Pontífice possui uma mentalidade de cruzada.
O Vaticano rebateu os comentários da Turquia, nas palavras do porta-voz Padre Federico Lombardi, o Papa não está em uma cruzada e não está tentando construir muros, mas sim construir pontes e ainda acrescentou que o Pontífice não disse uma palavra sequer contra o povo turco.
No ano passado, o Papa Francisco realizou uma Santa Missa em homenagem às vítimas do Genocídio Armênio, chamando-o de “primeiro genocídio do século XX”, declaração que irritou profundamente a Turquia e levou a retirada do embaixador turco do Vaticano por 10 meses.
Na sexta-feira, primeiro dia de sua visita oficial à Armênia, o Papa não deixou-se intimidar ao usar a palavra “genocídio” para se referir ao extermínio dos armênios pelo então Império Otomano há 101 anos, mesmo ciente de que a palavra poderia provocar um mal-estar diplomático com a Turquia, como aconteceu ano passado.
O termo “genocídio” não estava previsto pela Santa Sé nos discursos do Pontífice, no entanto, o líder católico renunciou à palavra e a disse em alto e bom som, em Yerevan, capital da Armênia, dentro do Palácio Presidencial, na presença de autoridades armênias. Ainda, durante a visita ao Memorial do Genocídio Armênio, localizado em Tzitzernakaberd, no sábado, o Santo Padre declarou que “a memória não deve ser diluída, nem esquecida”.
Sabemos que a palavra genocídio é totalmente refutada pelo governo turco, que insiste em dizer que as mortes foram decorrência da guerra e não um sistemático e organizado plano de extermínio do povo armênio, como diversos países, historiadores, pesquisadores e entidades já reconheceram mundo afora e, recentemente, a própria Alemanha, cúmplice da Turquia neste doloroso evento.
Via Reuters
Tradução: Maria Carolina Chaves Indjaian
O Vaticano reagiu neste domingo à uma representação pela Turquia dizendo que o Papa Francisco tem uma “mentalidade de cruzada” depois de ele ter usado a palavra “genocídio” para descrever o massacre de 1,5 milhão de armênios um século atrás.
“O papa não está em uma Cruzada. Ele não está tentando organizar guerras ou construir muros, mas ele quer construir pontes”, disse o porta-voz Padre Federico Lombardi a jornalistas. “Ele não disse uma palavra contra o povo turco.”
Falando ao presidente da Armênia, ao governo e a diplomatas na sexta-feira, Francisco saiu de seu texto preparado para usar a palavra “genocídio”, uma descrição que enfureceu a Turquia quando ele a usou pela primeira vez, há um ano.
O vice primeiro-ministro da Turquia Nurettin Canikli disse no sábado que era “muito lamentável” que o Papa havia usado a palavra, acrescentando: “Infelizmente é possível ver todos os reflexos e traços da mentalidade de cruzada nas ações do papado e do papa.”
Francisco usou a palavra pela primeira vez no ano passado em uma cerimônia realizada no Vaticano. Uma Turquia enfurecida respondeu com a retirada de seu embaixador do Vaticano e mantendo-o afastado por 10 meses.
A Turquia aceita que muitos armênios cristãos vivendo no Império Otomano tenham sido mortos em disputas com as forças otomanas durante a Primeira Guerra Mundial, mas contesta os números e nega que as mortes tenham sido sistematicamente orquestradas e que constituam um genocídio. O país também afirma que muitos muçulmanos turcos morreram naquela época.
No domingo de manhã, no último grande evento de sua viagem de três dias à Armênia, o papa Francisco fez nova referência ao massacre, prestando homenagem às “muitas vítimas de ódio que sofreram e deram suas vidas pela fé.”
O papa foi um convidado em uma liturgia cristã presidida pelo Catholicos Karekin II, chefe da Igreja Apostólica Armênia, que se separou de Roma devido a uma disputa teológica, no século V e faz parte das Igrejas Ortodoxas Orientais.
Francisco sentou-se para o lado enquanto Karekin levou a um elaborado serviço preenchido com cânticos no composto da Santa Etchmiadzin, a sede da Igreja Armênia perto de Yerevan.
O papa exortou a Armênia e a Turquia para buscar a reconciliação e para fugir “do poder ilusório de vingança”
A disputa sobre os massacres e as divergências sobre o apoio de Yerevan no enclave armênio étnico de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, levaram a tensas relações que incluem fronteiras fechadas e uma falta de relações diplomáticas.
Na última parada da viagem no domingo antes de o papa voar de volta a Roma, os dois líderes religiosos lançaram pombas de um mosteiro perto da fronteira com a Turquia como um símbolo de suas esperanças para a paz entre os países.