Décimo dia do Fórum Estudantil de Verão do Hamazkayin (dia 28/07)
Por Nairi Zadikian:
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Começamos nosso dia em Tsakhkadzor, lugar com vista incrível e ideal para relaxar e se deixar envolver pela atmosfera que a natureza proporciona. Aproveitamos bastante, andamos no famoso teleférico, e pudemos apreciar a paisagem, que realmente era maravilhosa.
De lá, partimos para o “Lady of Armenia Camp“, que abriga cerca de 200 crianças órfãs, ou que não tem condições de serem criadas pelos pais, ou ainda que moram em cidades do interior com pouca infra-estrutura. Nosso ônibus parou, e quando não havia mais o barulho do motor, foi possível escutar um coro, bem de longe, que gritava algo… Fomos nos aproximando por um caminho até a sede da instituição, e aquela voz foi ficando mais e mais alta, até que foi possível discernir o que as crianças gritavam: “PARI KALUSD, PARI KALUSD” (sejam bem vindos, sejam bem vindos)!
Andamos mais um pouco e então sim elas estavam no nosso campo de visão. Pelo caminho que passaríamos, haviam crianças enfileiradas a direita e a esquerda, nos desejando “boas vindas” e batendo palmas. À frente delas 2 meninas com roupas típicas armênias, uma segurava o pão e a outra o sal. Todos nós pegamos um pedaço dele, encostamos no sal e comemos antes de entrar.
A instituição é coordenada por freiras e padres católicos armênios. A felicidade daquelas crianças por estarem nos vendo é INDESCRITÍVEL. Não consigo transformar em palavras a sensação de estar lá. Me abraçaram como se eu fosse a irmã mais velha de cada um deles. Me beijaram como se eu que tivesse ido lá a oferecer algo a elas. Pelos olhos transmitiram um brilho jamais visto antes. Mal sabiam elas que eu tinha muito, mas MUITO, mais a aprender com elas, do que elas comigo. Logo na entrada, algumas das meninas mais velhas fizeram uma apresentação de 2 danças, sob a típica melodia armenia do compositor Ara Gevorgyan. Entramos no prédio, onde havia longas mesas nos esperando pro almoço.
Depois de uma breve oração, pudemos sentar. Mas não sentamos na mesa que haviam reservado pra gente. Trocamos lugares com as crianças de modo que pudemos almoçar com elas, escuta-las e conhecê-las. Foi uma experiência incrível. Confesso que a comida não desceu muito bem, quando vi que crianças da idade do meu irmão que estavam me servindo, me perguntando incessantemente se eu aceitava mais, querendo saber sobre mim é tudo mais. Foi um verdadeiro alarde quando souberam que eu era do Brasil, acho que elas sabiam mais do que eu sobre futebol! Cada uma tinha uma história, uma peculiaridade, um detalhe que a fazia especial e me deixava com vontade de ficar lá pra sempre com elas. Aprendendo com elas.
Após o almoço, fomos levados a um salão, onde as crianças, que tem entre 8 e 17 anos mais ou menos, cantaram, dançaram, recitaram… Tudo preparado pra nos receber. Meu sentimento era de que os papéis estavam invertidos lá. Elas queriam nos dar de alguma forma, mas tenho certeza que quem aprendeu lá fui eu, eu que queria me doar por elas. Depois vários de nós foram chamados ao palco, para participar de brincadeiras com elas. Todas as atividades foram coordenadas por responsáveis específicos. De dança, de música, de recreação, que trabalham lá.
O Hamazkayin presenteou com as crianças com alguns brinquedos e pulseirinhas, já, nós, participantes do fórum e responsáveis nos juntamos e fizemos uma pequena doação. A chuva não nos impediu de descer na quadra aberta, onde dançamos juntos ao som de várias musicas e por um bom tempo. Dançamos kochari, shurch bar, e outras mais. Todos sorrindo, não havia ninguém parado. Ninguém mesmo. Antes de ir embora, as crianças vieram com seus cadernos, para que deixássemos uma mensagem ou assinássemos nosso nome. Queriam nos presentear com as pulseiras que tinham acabado de ganhar para que nós não esquecêssemos delas. Mal elas sabiam que nada daquilo era preciso. Não esquecerei jamais desse dia. Lá haviam também 3 voluntários do Birthright Armenia, que manifestaram sua felicidade em poder estar lá ajudando e participando. Chegou a hora de nós despedirmos, e com ela a pergunta mais difícil de todas… Por que íamos embora tão cedo e quando voltaríamos. Não sei quando voltarei, eu disse, mas prometi que um dia estaria lá com elas novamente. Nesse momento, desejei com todas as minhas forças que cada uma daquelas crianças tenha sorte na vida, estude, e seja realizada… Que todas aquelas marcas que cada uma delas carregava, nunca fosse causa para desmotivação ou coisa parecida. Que sejam felizes: essa foi minha ultima frase a elas.
Voltando a Erevan, assistimos ao show do grande Rupen Hakhverdyan, muito conhecido por, pelo meio da música, ser grande militante e crítico das questões relacionadas à armenidade. De lá, fomos ao restaurante Anteb, onde pudemos experimentar uma deliciosa cozinha armenia. Valeu muito a pena, recomendo! Terminamos o dia, na expectativa por amanhã, quando almoçaremos no pé da grande montanha Arakatz!
Nairi li com lágrimas nos olhos! Estava junto com vc! Bjs