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Dois recados: Katz, respeito com o genocídio armênio! Erdogan, limpe sua boca antes de falar sobre genocídio!

Não foram poucas as vezes que o genocídio armênio foi colocado de lado em importantes discussões históricas. Depois de 1921-1923 (Tratados de Kars e Lausanne), o crime que vitimou a nação armênia foi ficando para anexos e notas de rodapés dos white papers governamentais até desaparecer em inúmeras oportunidades nas quais a questão poderia ter sido discutida.

No período posterior à 2ª Guerra Mundial, o assassinato de um milhão e meio de armênios iniciado em 1915 pelo governo turco-otomano praticamente desapareceu dos grandes fóruns internacionais. Uma das raras vezes que o tema voltou a pauta das questões globais foi em 1965, cinquentenário do genocídio, na antiga URSS. Com profundos interesses geopolíticos, as autoridades soviéticas, notórias pela repressão aos anseios das nacionalidades que compunham a união, permitiram que a população da Armênia Soviética saísse as ruas exigindo que as terras armênias fossem devolvidas pelos turcos. Claro que por trás desse súbito ataque de liberdade de expressão estava uma tentativa de intimidar, protelar ou ainda evitar que bases da OTAN fossem instaladas nas ancestrais terras armênias e assim ameaçassem as fronteiras do grande urso vermelho soviético em tempos de guerra fria. Naquele 1965 o Uruguai reconheceu o genocídio. Um trabalho de vulto dos armênios do país, com a coragem típica dos uruguaios.

Em escala mundial, o descaso com um assunto tão fundamental, uma injustiça tão grande, levou à indignação e, gradualmente, a revolta foi crescendo entre os descendentes das vítimas do genocídio, a ponto de uma geração inteira de jovens e militantes se dedicar de corpo e alma para que o crime não fosse esquecido. Foi nesse contexto que surgiram o A.R.A (Exército Revolucionário Armênio), o C.J.G.A. (Comandos de Justiceiros do Genocídio Armênio) e o A.S.A.L.A. (Exército Secreto para Libertação da Armênia). Se hoje podemos lutar pacificamente e politicamente pelo reconhecimento do genocídio, devemos parte do nosso fôlego aos guerrilheiros armênios que não permitiram que o assunto fosse apagado da história.

O tema do genocídio tem que ser encarado com muito cuidado político. Usado por governantes oportunistas na Europa serviu como forma de pressionar e dificultar a entrada da Turquia na União Europeia por meras questões xenófobas. Certamente não é esse o lugar que queremos para a nossa história.

Nestes tristes dias que vivemos, onde atentados e mais um conflito desumano entre Israel e seus inimigos recrudescem, surgiu uma situação no mínimo paradoxal em relação ao genocídio de 1915.

O líder turco, Recep Tayp Erdogan afirmou que o avanço das Forças de Defesa de Israel em Gaza está promovendo um “genocídio contra o povo palestino”. Longe de discordar do nefasto governante turco, é fundamental lembrar ao meu leitor que este infeliz é um dos maiores inimigos do povo armênio e dos direitos humanos, uma vez que move montanhas para que o genocídio armênio não seja reconhecido.

Em uma outra escala poderia lembrar a esse desprezível representante turco que seu país sempre teve relações simbióticas e mutualistas com Israel. Não são seus ataques histéricos e midiáticos ou suas declarações bombásticas que vão apagar isso.

Se já não fosse suficiente a sucessão das ofensas “erdoganicas”, uma surpresa toma de assalto o mundo armênio:
o Ministro dos Transportes de Israel, Yisrael Katz, respondendo o violento líder turco, lançou nas redes sociais em tom de bravata: “Em 1915, os turcos massacraram um milhão e meio de armênios e ele nos acusa, que estamos lutando contra seus amigos no movimento islâmico e promovendo um genocídio? Quem quer um relacionamento com uma pessoa assim?”, escreveu Katz.

Onnig Comenta 2014

Quem me dera que eu pudesse lembrar ao pé do ouvido do político israelense que seu país não reconhece o genocídio armênio e portanto não se ensina nas escolas de seu país que em 1915 um milhão e quinhentos mil armênios foram assassinados de forma premeditada por uma política de Estado. Lembraria também que existem inúmeros intelectuais no seu país como o historiador Yair Auron que reconhece o papel do genocídio armênio na história e lamenta profundamente que seu governo não reconhece esse triste fato histórico.

Na melhor das hipóteses podemos considerar a vossa declaração como um reconhecimento oficial por parte do Estado de Israel. O que acha da sugestão Sr. Katz?

****James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

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