Durante essas últimas semanas fomos bombardeados com as notícias do Rock in Rio e a presença da banda californiana System of a Down, formado por músicos armênios. A presença desse famoso grupo foi exigida pelo público em enquetes na internet e foi considerada uma das melhores apresentações do festival. Os aficionados fãs consideraram a apresentação em São Paulo como épica e não somente por ser a primeira vez ao vivo no Brasil.
Mas o que o System tem de tão diferente? Além da originalidade da música e das letras engajadas, seus integrantes tem atitude. Eles se posicionam politicamente em diversos temas e ficaram notoriamente conhecidos pela defesa da Causa Armênia.
É esse comportamento corajoso e voluntarista que atrai e que despertou em um número considerável de jovens da colônia armênia de São Paulo a admiração por esses patrícios roqueiros. Associado a isso estamos diante de uma fase maravilhosa onde os Pan-Armênios na Armênia, Navasartian em Punta del Este no Uruguai e festividades agitam a nossa pequena comunidade.
A questão é bem simples. Estamos diante de um novo momento e novas atitudes precisam ser tomadas. Não estaremos contribuindo com a Causa Armênia e com a Pátria-mãe Armênia se continuarmos a fazer sempre as mesmas coisas.
A presença do System no Brasil deveria pelos menos sensibilizar as lideranças das entidades armênias de São Paulo que tem a obrigação, o dever de escutar os jovens e entender definitivamente o que eles querem ou mesmo o que eles não querem e não gostam.
Arrisco dizer que é uma oportunidade para um balanço geral que pode desembocar na possibilidade de que os jovens assumam de vez o controle de todas as entidades armênias de São Paulo. Não é nenhum tipo de corte radical que proponho, mesmo porque acredito que não é esse o caso. Tampouco prego aqui o ultrapassado conceito de choque de gerações, pois continuo acreditando que os jovens aprendem com os que tem mais experiência.
Falo de ousadia, rompimento com procedimentos antiquados e que não atingem a alma dos jovens. Falo de militância a favor da milenar cultura armênia diferente da atitude formal e protocolar que estamos acostumados e que por mais que particularmente me incomode tem a sua parcial eficácia.
Temos as nossas festividades, datas nacionais, religiosas já consagradas e conhecidas por uma parte dos armênios daqui. Me permitam um parênteses. Escrevo isso espantado como conheço armênios de São Paulo que não sabem da existência de nada daquilo que acontece na comunidade.
Por isso estou falando de algo que consiga nos dar fôlego para chegarmos a 4a geração de descendentes de armênios que vão continuar a lutar pela justiça e pela melhoria de vida na pátria dos nossos antepassados.
É preciso dar ouvidos aos jovens mesmo que o que passemos a escutar seja doloroso para nós, ativistas, militantes e dirigentes.
Vieram os Pan-Armênios, o System of a Down, os 20 anos da República da Armênia, os jogos Navasartian, as festas e os conjuntos musicais canadenses, argentinos, libaneses e da própria Armênia, a maravilhosa campanha da seleção de futebol da Armênia para a Euro 2012. São ventos favoráveis para mudar o rumo das coisas ou pelo menos saber para onde os futuros timoneiros vão levar a nau quando os atuais comandantes não estiverem mais por aqui.
*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente
Maravilhoso Artigo!!!!!! Parabéns!!!!!!!!!!!!
Foi com muita satisfação que li o artigo meu caro Onnig, inseridos na sociedade moderna, é fato que a forma de análise de futuro da chamada “armenidade”, deva ser feita de maneira diversa daquela realizada pelas gerações que nos antecederam.
Digo no sentido de entregar as rédeas do nosso futuro nas mãos daqueles que são o futuro, e que devem e podem contar com a experiência e segurança de retaguarda dos mais experientes.
O século XXI já se estabelece como o século das mudanças, da evolução, do novo, da sustentabilidade, e penso que esta última deva ser compreendida no sentido amplo de seu significado, é chegado o momento da sustentabilidade (conceito sistêmico, relacionado também com a continuidade dos aspectos sociais e culturais) ser efetivamente aplicada em prol das gerações futuras.
Deixo o pensamento de Henrik Tikkanen (autor finlandês, conhecido principalmente por anti-guerra da literatura):
“Porque não pensamos nas gerações futuras, eles nunca nos esquecerão.”
Parabéns!
Parabéns Onnig! Artigo com toda maestria. Sem dúvida a juventude atual se difere em muito das gerações anteriores. E é a soma de todos, o conjunto, que pode dar a massa crítica necessária para alavancar tudo aquilo que ocorre dentro da nossa comunidade. Importante: nesse atual contexto, vale a pena unirmos forças com as comunidades armênias da Argentina e ganharmos um contexto sulamericano nas nossas demandas e conquistas.
Abraços, Edouard Mekhalian.