EntrevistasGenocídio Armênio

Mais respeitada publicação de Skate no Brasil fala sobre o skate na Armênia

Alguns dos leitores do Portal Estação Armênia sabem que, além de ser um jornalista e ativista armênio, eu também sou um skatista.

Muitos dizem por ai que andar de skate é brincadeira de criança. Alguns dizem que o skatista é um atleta e, portanto, o skate é um esporte. Mas, saindo do mérito do julgamento, de fato sou um skatista. Nesse contexto, aliado ao fato de minha formação jornalística, é que a Revista CemporcentoSKATE da Editora ZY conta com meu trabalho.

Após a minha entrada para o time da revista o diretor de conteúdo – e também skatista – Douglas Prieto, bateu um papo comigo sobre a viagem que fiz recentemente à Armênia.

Confesso que fiquei muito honrado pelo espaço. Com esse bate papo eu pude falar um pouco sobre a cena do Skate na Armênia e também trazer um pouco mais de conhecimento sobre este país aos leitores dessa conceituada revista, no alto de seus 18 anos.

Acompanhe abaixo o bate papo:

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Bate Papo com Armen Pamboukdjian –  texto: Douglas Prieto –

O mundo todo é um grande skatepark. Aviões pra todo lado, passagens cada vez mais baratas e skatistas se conectando em todas as partes do mundo tem facilitado muito o deslocamento e a estadia em países distantes.

Nosso novo colaborador aqui na CemporcentoSKATE, Armen Pamboukdjian, skatista desde 1993, esteve recentemente na terra de seus antepassados, a Armênia, e contou um pouco da cena de lá.

Sua familia é Armênia? Como é a descendência?

Armen Pamboukdjian:  Minha família é Armênia, eu sou nascido aqui no Brasil, mas a descendência da família é toda Armênia, de diversas regiões da Armênia usurpada. Na época do genocídio Armênio minha família, tanto da parte do pai, quanto da minha mãe fujiram para o Líbano onde foram bem acolhidos e se estabeleceram. O Líbano acolheu tão bem os Armênios que há cidades Armênias no Líbano com nomes de antigas cidades das regiões usurpadas. A comunidade Armênia do Líbano é uma das maiores de toda a diáspora.

Quantas horas de voo até a Armênia?

A.P – Na verdade pra ir a Armênia, tem que ter escala, foram 11 horas SP – Londres, e depois mais 6 horas até a Armênia. Pode ser pela França também e é praticamente o mesmo tempo de vôo. A Armênia tem o fuso horário de 8 horas em relação ao horário de Brasília.

A população é jovem?

A.P – A população Armênia é jovem, no entanto um grande número de jovens deixam a Armênia todos os dias, a cada ano que passa, em busca de oportunidades melhores nas regiões vizinhas como o Irã e Rússia, principalmente. Alguns que tem melhores condições conseguem ir pra algum outro pais da Europa, ou mesmo do Leste europeu. A população da capital é 97% alfabetizada. Ao terminar os estudos os jovens buscam trabalho nos outros países, indelizmente!

Como as autoridades policiais encaram o skate por lá?

A.P – O Skate não é bem visto pelas autoridades na Armênia. Nas ruas de Yerevan (capital) não se pode andar de skate. Em local nenhum é permitido. As calçadas são ruins, com um estilo de pedra que tem frisos a pouca distancia um do outro. Assemelha-se  à Pedra Portuguesa que estamos acostumados a enfrentar no Brasil. Alem do mais não é possível andar em qualquer lugar, qualquer calçada. Tentei utilizar a calçada de um banco e o segurança logo saiu, pedi desculpas (uma vez que falo fluentemente o idioma Armênio) e fui embora. O único local que os skatistas podem praticar é a praça da Ópera, que tem uma escadaria, um monumento em mármore, e um chão liso, asfaltado, muito bom. Conta ainda com alguns bancos de metal porém bem curtos, da pra mandar algumas manobras.Lá é o ponto de encontro do skatistas de Yerevan, mas colam bikers e rollers também , e ninguém reclama dos skatistas.

Existem skateparks? Skateshops? Quem marcas são os skates/tênis dos armenios?

A.P – Skateparks nem pensar. Nao existe nenhuma, e era a grande queixa dos skatistas Armênios quando comecei a indagar sobre a cena do skate na Armênia. E parece que eles viam a mim como um salvador, que poderia fazer algo por eles. Não sei como (risos). Quanto à Skateshops, própriamente ditas, não. O que existe é uma loja que vende souvenirs e o mesmo tempo tem alguns shapes e tênis, mas tudo importado e caro. As marcas que encontrei na Armênia foram shapes e roupas da Zero, Element e Nike (principalmente Tênis) e alguns poucos usando eixos Thunder e Independent, mas sempre se queixando que não há opção e tudo é muito caro. A maior parte dos equiamentos e roupas são de marcas europeias. Nao existe uma cena definida. O número de Skatistas nao passa de 50 em Yerevan. E quem sabe um dia posso fazer algo pelo Skate na Armênia, é uma possibilidade.

Quem são os ídolos da juventude armênia?

A.P – Skatistas? Muitos conhecem nomes como Nyjah Huston, Paul Rodriguez, Bob Burnquist, Rodney Mullen, Chaz Ortiz, nomes que estão em evidência no cenário do skateboard mundial. Não conhecem muito os skatistas brasileiros, mas sabem da qualidade dos mesmos.

Se não forem skatistas, A juventude Armênia idolatra os seus fedayis (Voluntários que sempre defenderam a Armênia e buscaram um Estado Independente para os Armênios). Em suma esse ídolos são da época em que a Armênia foi dominada e teve seus territórios usurpado pelo império otomano. Na época do Genocídio Armênio (1915) e os Fedayis resistiram às deportações em diversas regiões da Armênia como nos vilarejos de Musa Dagh e Zeitoun.

*** Existem Fedayis que ainda lutam pela indepenência da república Artsakh (Nagorno Kharapagh), que foi anexada ao Azerbaijão em 1918 pelo líder Soviético Joseph Stalin quando a Armênia passou a fazer parte dos estados soviéticos. Ao fim da URSS a Armênia se tornou independente mais uma vez e retomou esse território históricamente habitado por Armênios e que ainda hoje está em conflito com o Azerbaijão.

 O que é importante que se diga sobre a Armênia?

A.P – Importante dizer que a Armênia é o primeiro povo a aceitar o Cristianismo oficialmente como religião de Estado. Foi em 301 DC, anunciado pelo Rei Drtad III e quem recebeu a incumbência de criar toda a estrutura do Cristianismo na Armênia foi São Gregório, o Iluminador. A Armênia é a terra das igrejas, existem um número incontável de igrejas no território Armênio atual e no histórico, que foi usurpado pela Turquia. Os Armênios se espalharam pelo mundo por causa do primeiro genocídio do século XX criando a diáspora Armenia. Em Abril de 1915 os lideres do partido dos jovens turcos (comitê de União e Progresso da Turquia)  planejaram e executaram a matança e deportação de todos os Armênios que viviam dentro do Império Otomano. Os Armênios tiveram que deixar suas casas e suas terras milenares e fugir para outros países como Líbano, Ira, Síria, Grécia entre tantos outros para escaparem das matanças. A Armênia que temos hoje tem 1/10 do tamanho da Armênia histórica original de mais de 4000 anos. Yerevan resistiu à ultima investida turca de tomar a capital Armênia em 1918. Os Armênios resistiram bravamente 3 anos após o genocídio, e pouco tempo depois pediu abrigo à URSS, quando fez parte dos Estados Socialistas Soviéticos até o fim da URSS em 1991. Os Armênios espalhados pelo mundo, todos os anos, no dia 24 de abril, relembram seus mártires e não deixam de cobrar pelo reconhecimento do genocídio por parte do mundo (atualmente 55 países reconhecem o genocídio de 1915) e da Turquia, além da devolução das terras históricas. E é importante dizer que a Armênia também é conhecida pelo Monte Ararat, ícone da Armênia e do povo Armênio. A Biblia cita que a Arca de Noé, após o dilúvio, parou no cume do monte Ararat. É um dos simbolos mais importantes da Armênia, hoje está na Turquia, não significando nada pra eles, mas temos a esperança de tê-la (montanha) de volta um dia.

Você apresenta um programa de rádio, certo?

A.P – Há mais de 3 anos sou o apresentador do Programa Radiofônico Armênia Viva aos domingos das 20 as 21 horas, ao vivo, pela rádio Trianon AM de SP (740 KHZ –SP) com notícias sobre a Armênia, musicas Armênias, entrevistas, comunicados locais e muitas notas sociais. Só em SP a comunidade Armênia tem em torno de 25.000 membros, no Brasil são quase 40.000. Alem do programa de rádio eu e mais alguns amigos como um professor, um historiador  e um designer unimos forças no ano passado (2010) e criamos o Portal Estação Armênia (www.estacaoarmenia.com.br), um portal na internet com notícias e tudo mais sobre a Armênia como a história do genocídio, notícias, artigos e colunas e que também aloca os arquivos do Programa Armênia viva para ouvir e baixar. Eu também faço parte da Federação Revolucionária Armênia no Brasil – O TASHNAGTSUTIUN que é um partido político Armênio com mais de 120 anos. Na diáspora, A FRA se encarregou de manter a Armenidade viva, ajudando a construir escolas, clubes e igrejas nos países onde houvessem Armênios, e está em atividade até hoje e é uma das mais respeitadas organizações Armênias. Sou um dos diretores do comitê nessa gestão. E ainda sou do corpo editorial do Portal Estação Armênia, um portal de notícias pros Armênios no Brasil e que também aloca o podcast dos programas de rádio que apresento.

Sobre o autor

Artigos

Jornalista de formação, é editor-chefe do site Estação Armênia.
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