No dia 19 de janeiro de 2007 o jornalista turco-armênio Hrant Dink foi alvejado em frente ao escritório do seu jornal, Agos, na cidade de Istambul, Turquia. O assassino, Ogun Samsat, um jovem do interior do país, foi preso poucas horas depois e tratado como herói pelas autoridades policiais ao chegar à delegacia. O tratamento recebido por Samsat antecipou o rumo que o caso tomaria nos próximos anos.
Embora o autor dos disparos tenha sido condenado a 22 anos de prisão (leia mais), bem como o mandante do crime, Yasin Hayal (prisão perpétua), estava claro que a morte do jornalista armênio foi orquestrada por uma rede que envolvia muitas outras pessoas além das quais as autoridades turcas puderam (ou quiseram) enxergar. Enquanto o tempo passava, a família de Hrant Dink, juntamente com diversos movimentos sociais e organizações dos direitos humanos da Turquia e do mundo, se mobilizavam para pedir que a justiça turca investigasse a participação de pessoas ligadas ao Estado no atentado. A promotoria indicou que o poderoso grupo ultranacionalista Ergenekon pudesse estar envolvido.
Não obstante as adulterações e o desaparecimento de documentos durante o inquérito, bem como a declaração da Corte Europeia de Direitos Humanos que a Turquia havia falhado em desmantelar a rede que arquitetou o assassinato de Dink, a justiça do país permaneceu irredutível sobre o caso e manteve seus olhos fechados, não para ser isonômica como indica a Musa da Justiça com a venda nos olhos, mas sim para proteger autoridades que estão com as mãos sujas de sangue.
Os armênios aguardam há quase cem anos por justiça para com os mortos durante o genocídio iniciado em 1915, ainda sem reconhecimento. Mas também esperam que não seja preciso aguardar tanto tempo assim para verem os mentores da morte de Hrant Dink no banco dos réus e atrás das grades. Como indicam alguns ativistas dos direitos humanos, uma real investigação sobre o caso Dink, seguida do julgamento de todos os envolvidos seria uma bela forma da Turquia “limpar as suas mãos” às vésperas do centenário do Genocídio Armênio que se aproxima (2015).
Mas seis anos já se foram sem nenhuma indicação nesse sentido.
Texto: Conselho Editorial do Portal Estação Armênia
Abaixo assista ao clipe da musica escrita especialmente por Arto Tuncboyaciyan (Tuntchboyadjian, em armênio), respeitado músico armênio nascido na Turquia: