Nesta quarta-feira, dia 15 de outubro, seis clérigos da Igreja Apostólica Armênia foram detidos como parte de uma investigação mais ampla que acusa figuras religiosas de conspirar para derrubar o governo do primeiro-ministro Nikol Pashinyan.
As detenções incluem cinco padres da diocese de Aragatsotn, no oeste da Armênia, e seu líder, o Bispo Mkrtich Proshyan. Segundo o advogado Ara Zograbyan, as prisões ocorreram após buscas nas residências dos religiosos. Fontes indicam que civis também foram detidos na mesma operação.
As autoridades armênias, incluindo o Comitê de Investigação, principal braço de investigação do judiciário, não emitiram declarações imediatas sobre os casos. No entanto, os eventos se inserem em um contexto de repressão intensificada contra o clero, iniciada no verão (do Hemisfério Norte) de 2025, com acusações de tentativas de golpe violento.
A ação mais recente é um desdobramento de alegações graves feitas publicamente no mês passado. Um pastor da mesma região, o Padre Ter Aram, declarou na televisão que a Igreja Apostólica estaria coagindo seus membros a participar de protestos antigoverno em 2021 contra o primeiro-ministro Pashinyan. A organização não governamental armênia Union of Informed Citizens (União de Cidadãos Informados) formalizou a denúncia, solicitando aos promotores estatais que investigassem a alegação, o que pavimentou o caminho para as prisões.
O Conselho Superior da Igreja Apostólica reagiu imediatamente, condenando as detenções e classificando-as como uma demonstração da “pressão sistêmica do governo sobre a Igreja Armênia”.
O embate entre o governo de Pashinyan e a Igreja não é um evento isolado, mas sim um reflexo de divisões profundas na sociedade armênia, agravadas pela política externa e pelas derrotas militares recentes em Artsakh. A Igreja Apostólica Armênia é um pilar da identidade nacional e historicamente tem se oposto veementemente a concessões territoriais.
Antes das detenções de hoje, vários clérigos influentes já haviam sido presos. O Arcebispo Mikael Ajapahyan, por exemplo, foi condenado a dois anos de prisão no início de outubro, em um julgamento que a Igreja considerou motivado politicamente sob acusações de “incitar a tomada de poder”. Outro clérigo detido, o Arcebispo Bagrat Galstanyan, foi uma figura central nos protestos nas ruas contra Pashinyan em 2024. Galstanyan criticava as concessões territoriais feitas ao Azerbaijão após os conflitos de 2020 e 2023.
O aumento da tensão ocorre em um momento politicamente delicado para Pashinyan, que se prepara para as eleições parlamentares em junho de 2026.