Milhares de refugiados de Artsakh (Nagorno-Karabakh) se reuniram em Yerevan no último sábado, 29 de março, para exigir que o governo da Armênia pare de discriminá-los, defenda seu direito de retorno seguro à sua terra natal no cenário internacional e mantenha os auxílios habitacionais.
Os organizadores do protesto deram ao governo uma semana para atender a essas e outras nove demandas, sob ameaça de novos protestos nas ruas. O protesto na Liberty Square é a maior manifestação realizada por armênios de Artsakh desde seu êxodo em setembro-outubro de 2023.
O protesto ocorreu sob forte presença policial ao redor da praça. O governo não reagiu imediatamente às exigências dos manifestantes.
“Se as autoridades não agirem para manter esse segmento dos armênios na Armênia e fortalecer o país, o rumo dessa luta será imprevisível”, advertiu um dos oradores. “Se não resolverem nossos problemas socioeconômicos e nossas mulheres e crianças ficarem na rua, essa luta se tornará política, quer queiram ou não.”
Os líderes do protesto querem, antes de tudo, que o governo armênio tome “todas as medidas legais, políticas e diplomáticas possíveis para garantir o retorno coletivo do povo de Artsakh à sua terra natal, onde possam viver com segurança, dignidade, estabilidade e autodeterminação.”
O governo do primeiro-ministro Nikol Pashinyan não levanta essa questão em suas negociações de paz com o Azerbaijão nem em fóruns internacionais multilaterais. Pashinyan já afirmou repetidamente que a questão de Artsakh está encerrada para sua administração e criticou os líderes de Artsakh que estão em Yerevan por continuarem a se apresentar como um governo no exílio além de ameaçar reprimi-los.
Os organizadores do protesto — que não incluíam membros do governo no exílio — acusaram Pashinyan e sua equipe política de disseminar discurso de ódio contra os armênios de Artsakh. Eles também afirmaram que as autoridades de Yerevan devem restituir a cidadania armênia a todos os refugiados.
Em uma mudança significativa de política, Pashinyan e outros representantes do governo declararam em outubro de 2023 que os refugiados não são cidadãos armênios, apesar de quase todos possuírem passaportes do país. Muitos especialistas jurídicos contestam essas afirmações.
Outra demanda crucial dos manifestantes é que o governo revogue sua decisão de cortes e reduções drásticas dos auxílios habitacionais para refugiados.
Desde novembro de 2023, o governo tem fornecido a cada refugiado que não possua casa ou viva em abrigos estatais na Armênia 50.000 drams (US$ 125) mensais para aluguel e despesas de serviços. O programa beneficiou a grande maioria dos cerca de 105.000 armênios que fugiram de sua terra natal após as invasões do Azerbaijão em setembro de 2023. A falta de moradias acessíveis continua sendo um dos principais problemas enfrentados por eles.
Em novembro de 2024, o governo decidiu começar a eliminar gradualmente o auxílio habitacional. A partir do próximo mês, o benefício será concedido apenas a crianças, universitários, aposentados e pessoas com deficiência que fugiram de Artsakh. O valor será reduzido para 40.000 drams em abril e para 30.000 drams em julho.