O Brasil e a Turquia são países soberanos e as relações entre eles é da alçada dos seus governantes. Isso é obvio, não se pode questionar. Como brasileiros, descendentes de armênios, podemos até não aprovar alguns pontos dessa relação bilateral.
O foco é a luta pelo reconhecimento do genocídio incluindo a defesa da Armênia e de Karabagh. Essa é a verdadeira, completa e responsável defesa da Causa Armênia. Afinal, combatemos a Turquia nesse campo, que é um país emergente além de potência regional, vide a crise síria e o papel dos turcos.
O crescimento da economia permitiu que os sucessivos governos turcos expandissem as suas relações no mundo globalizado. No Brasil, o capital turco está concentrado no Pólo Petroquímico de Camaçari na Bahia e em iniciativas comandadas pela crescente força da ASEBT (Associação Empresarial Brasil-Turquia), grupo que vem expandindo suas parceriasem Santa Catarina, Minas Gerais e outras regiões. Devo lembrar que grande parte desses esforços tem a mão da poderosa TUSKON (Confederação de Empresários e Industriais da Turquia), espécie de FIESP quando nos seus áureos tempos.
Destaca-se em São Paulo um forte avanço cultural de grupos turcos. O Centro Cultural Brasil-Turquia é um desses pólos e tem parcerias com universidades como a PUC, USP entre outras, em que são ministrados cursos de língua, cultura e história turca.
O Colégio Belo Futuro Internacional é outra importante iniciativa. Criada por investidores turcos é uma escola que vem crescendo na Zona Sul de São Paulo, cumprindo uma função social ao conceder bolsas de estudos para jovens brasileiros que tem seu ensino em um ambiente multicultural.
Todas essas iniciativas são legítimas!
Os problemas nas relações entre Brasil e Turquia que afetam a nós armênios e descendentes estão em outra esfera.
Claro que o principal nó está na ausência do Brasil da lista dos países que reconhecem o genocídio. Mas isso vai além. Desde o final da década de 1990 e mais explicitamente nos anos 2000, a política externa brasileira passou por uma mudança de rumos.
O Itamaraty, de forma muito competente, interpretou corretamente a nova realidade multilateral imposta pela globalização e passou a incrementar as relações sul-sul. O que isso significa? De maneira geral o Brasil passou a dar prioridade para parceiros que não fossem os tradicionais países ricos e sim as potências regionais e outros países emergentes. Foi nessa mudança de rumos que o Brasil começou a se aproximar da Turquia e vice-versa.
Em outubro de 2011 a Presidente Dilma Rousseff, em viagem pela Turquia, abriu as portas para uma parceria no campo militar. Ambos os países, buscando diminuir a dependência na área bélica, iniciaram conversações para acordos estratégicos a fim de co-produzirem jatos de guerra e os VANTS (Veículos aéreos não tripulados).
Naquela mesma visita, representantes turcos já falavam em incluir a a tecnologia brasileira no campo aeronáutico, nesse pacote que busca colocar ambos os países no seleto grupo de potências militares até 2025.
O segundo capítulo dessa novela é curto.
A parceria Brasil-Turquia chegou a gerar certo mal estar na comunidade internacional recentemente, quando os dois países se colocaram como alternativa para serem os “fiéis depositários” do combustível nuclear iraniano.
Os encontros entre os altos escalões continuaram durante todo o primeiro semestre de 2012 visando os avanços no terreno militar. A fim de não colocar mais holofotes na aproximação, já que o “affair” com o Irã não foi muito bem digerido pela opinião pública mundial, e os encontros finais foram feitos de forma mais acanhada apesar de serem divulgados abertamente na imprensa. Como foi possível manter essa discrição em um tema tão delicado? Não tenho essa resposta.
O que sei é que enquanto os preparativos para a assinatura dos acordos militares eram organizados, o embaixador turco em Brasília Sr. Ersin Ersin lançou um artigo na Folha de São Paulo negando o genocídio armênio. Isso monopolizou a atenção de parte considerável da comunidade armênia que durante semanas se movimentou exclusivamente no esforço de responder