Como muitos sabem, a Armênia é o primeiro país a aceitar o cristianismo no mundo. A religião está inserida no ser armênio e não é de hoje. Desde as batalhas épicas como em Avarayr (451 DC) e até a resistência contra os turcos durante o Genocídio Armênio, notoriamente os padres e clérigos eram a linha de frente nas lutas e na política representando seu povo.
Distante geograficamente do Ocidente, a sociedade armênia, por esses motivos e muitos outros, é uma das mais conservadoras do mundo.
A tradicional família cristã é uma das bases da sociedade armênia atual. E romper esse tipo de paradigma leva muito tempo.
O preconceito contra pessoas da comunidade LGBT está presente em toda a parte do país do Cáucaso, e mesmo em 2019, deputados armênios querem queimar uma ativista dos direitos LGBT na Armênia.
Tudo começou quando, Lilit Martirosyan, uma ativista transexual armênia, descreveu aquilo que pessoas como ela têm sofrido em anos recente na Armênia. “Torturados, violados, raptados, sujeitos a violência física, queimados, imolados, esfaqueados, sujeitos a tentativas de homicídio, mortos, exilados e roubados”, começou por dizer Lilit, numa intervenção no Parlamento armênio no último dia 5 de abril, durante uma audiência pública sobre direitos humanos.
O vídeo com a fala da ativista rapidamente foi difundido pelas redes sociais, tendo as reações explodido num abrir e fechar de olhos. Martirosyan foi a primeira cidadã transsexual a falar num fórum daquele nível na Armênia.
Segundo o site português Expresso, começaram a surgir várias críticas a Lilit por parte da presidente da Comissão de Direitos Humanos do Parlamento, que disse que a ativista não deveria ter falado ali, uma vez que a audiência era sobre direitos de crianças e deficientes e sobre reformas no sistema jurídico.
Outros deputados foram mais agressivos. Os vários partidos políticos têm tentado atirar culpa uns aos outros por Martirosyan ter falado naquela comissão. Segundo os deputados, a ativista representa um “vício” que associam à homossexualidade que, para eles, é resultado de influências ocidentais no país.
Vários deputados afirmam que a mulher desrespeitou o Parlamento e há, inclusivamente, quem defenda que Lilit Martirosyan deve-se ser queimada.
No seu discurso, que não foi longo, a ativista falou da discriminação que as pessoas como ela sofrem a vários níveis, nomeadamente no emprego, nos tribunais e até nos hospitais.
Numa dada altura do depoimento, faz referência aos 283 ataques registados contra pessoas da comunidade. “Para mim, significa que há 283 criminosos na Armênia a viver junto a mim e a vocês. E quem sabe, talvez o 284.º esteja amanhã a cometer o seu crime.”
A exigência de Martirosyan é que as autoridades se esforcem mais para proteger os transgêneros. Segundo o The Guardian, parece não ser um pedido que terá muito sucesso, uma vez que já houve um homem que apareceu no Parlamento com uma faca a dizer que a queria matar, para além de todas as outras pessoas que têm feito ameaças semelhantes no Facebook.
Os apelos das entidades internacionais – como a ONU e a União Europeia – vão em sentido contrário. “Discursos de ódio, incluindo ameaças de morte dirigidas à Lilit Martirosyan, às suas colegas e à comunidade LGBT no seu todo, constituem discriminação proibida pela Convenção Europeia dos direitos humanos e liberdades fundamentais, da qual a Armênia faz parte, e que surge refletida na Constituição da Armênia”, lembra a UE.
Todavia, a porta-voz do Ministério das Relções Exteriores da Armênia rejeitou essas afirmações, dizendo que os outros países devem mostrar “mais respeito e sensibilidade” pela sociedade armênia.