Le Monde – El Mundo – Guíamenc – Reuters –
Em 19 de janeiro de 2007 os armênios sofriam mais um golpe duro na Causa Armênia: O Jornalista e escritor Hrant Dink foi morto à tiros por Ogun Samast, um jovem ultra-nacionalista turco. O crime ocorreu em frente ao jornal bilíngüe (armênio-turco) Agós, em Istambul, do qual Dink era editor-chefe.
De origem armênia, Dink era a voz das minorias étnicas na Turquia e maior incentivador da reconciliação entre armênios e turcos, além de ferrenho defensor da liberdade e dos direitos humanos.
Como muitos proeminentes intelectuais, Dink era uma das vozes que clamava pela mudança de postura do governo turco perante os crimes cometidos pelo Império Otomano e, exigia que o Estado reconhecesse como genocídio a matança e deportação de mais de 2 milhões de armênios durante a primeira guerra mundial, em 1915.
Em seu funeral, mais de 100 mil pessoas marcharam em protesto contra o assassinato, bradando as seguintes palavras: “Somos todos armênios” e “Somos todos Hrant Dink”. A crítica ao artigo 301 tornou-se cada vez mais vocal após a sua morte, levando a propostas parlamentares para a revogação da polêmica lei que proíbe sob pena de prisão qualquer insulto à identidade turca.
Nesta terça-feira, um tribunal de Istambul condenou um Yasin Hayal à prisão perpétua por participação e facilitação no assassinato, ao ser filmado na rua saindo do escritório do jornalista. No entanto a justiça absolveu cerca de 20 réus que eram investigados por fazer parte de um grupo terrorista, o que irritou os advogados que disseram que o julgamento deixou de lançar luz sobre alegadas ligações entre os suspeitos e alguns funcionários do Estado.
Em julho de 2010, um tribunal de menores condenou Ogun Samast, o assassino de Dink, a 22 anos e 10 meses de prisão. Samast tinha 17 anos na época do crime, mas apesar das condenações e prisões, há algo mais por trás da morte do jornalista. Muitos funcionários públicos, policiais e autoridades eram apontadas como participantes no planejamento do assassinato de Dink.
O jornal francês “Le Monde” publicou hoje em seu site, artigo intitulado: “Turquie : justice pour le journaliste turco-arménien Hrant Dink“. Em um trecho do artigo o jornal chega a questionar: “Quem são os patrocinadores deste crime? Por que as autoridades que foram informadas sobre o planejamento do crime não tentaram deter o plano e nem proteger Hrant Dink? ”Há alguma cumplicidade no aparelho de Estado”.
Em um comunicado, antes da sentença, a Anistia Internacional apontou que não investigou todas as circunstâncias do assassinato. ”As autoridades turcas não têm examinado o suposto envolvimento de funcionários públicos no crime”, reclamou Andrew Gardner, um especialista em questões relacionadas com a Turquia.
“Os serviços de segurança sabiam da conspiração para matá-lo (Dink) e estavam em contato com os réus, mas não fizeram nada para impedir o assassinato”, acrescentou, lembrando que foram ignorados os pedidos da família para investigar conluio e negligência alegadamente cometidos pelas autoridades neste caso.
Vale lembrar que em 2010, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos ordenou ao governo turco que pagasse 100.000 Euros à família Dink, em compensação, porque as autoridades não conseguiram proteger o jornalista mesmo sabendo que os ultranacionalistas queriam matá-lo.
Sete responsáveis pelos serviços de segurança foram considerados culpados de reter a informação que tinham sobre o enredo e que poderia ter evitado o assassinato.
Segundo o site de notícias PanArmenianNet, a advogada da família de Dink, Fethiye Çetin, criticou a decisão do tribunal, dizendo que ela significava que a “tradição do estado de assassinatos políticos” foi deliberadamente deixada intacta pelo fato de não lidar com acusações de envolvimento do Estado no assassinato.
“Eles zombaram de nós durante todo o processo de julgamento de cinco anos. Nós não sabíamos que guardariam a maior piada para o final”, disse ela a jornalistas logo após a leitura do veredicto. ”Esta decisão significa uma tradição que foi deixada intacta: a tradição do estado de assassinatos políticos.
A tradição do Estado de discriminação contra alguns dos seus cidadãos e transformá-los em inimigos”. Çetin também comprometeu-se a buscar todos os recursos legais e disponíveis contra a decisão, afirmando que o veredicto marcou o fim de apenas a fase inicial do caso, que consistiu na julgamento dos pistoleiros no assassinato.
Um grupo chamado Amigos de Hrant que realizar manifestações antes de cada julgamento exigindo justiça, e também realizaram uma manifestação em frente ao tribunal na terça-feira. Centenas de pessoas seguravam cartazes do lado de fora do tribunal com os dizeres: “Este caso não vai acabar desse jeito”.
O promotor do caso havia pedido prisão perpétua para sete homens acusados de envolvimento no assassinato de Dink e disse que após o veredicto irá apresentar um recurso, contestando a decisão do tribunal, relatou o diário turco Todays Zaman.
“Já faz cinco anos. Todas as evidências mostram claramente que não podemos estar satisfeitos com a punição de duas ou três pessoas que cometeram o assassinato. Aqueles que mandaram matar Dink estão todos prestes a sair dessa limpos, ” dizia um comunicado do grupo divulgado na segunda-feira, 17 de janeiro.