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Onnig Comenta: Comunidade Armênia de São Paulo corre um grande risco

Manifestação de Armênios em frente ao Consulado turco em SP (2012)

O que diria meu leitor se eu afirmasse que representantes de nossa comunidade tem encontros privados e secretos com membros da diplomacia turca?

Abusando dos questionamentos, o que diria meu leitor se eu afirmasse que a Comunidade Armênia de São Paulo vem sendo assediada por grupos que, de forma inesperada, solicitaram reuniões e encontros além de sugerir uma estranha solidariedade?

Deixemos essas hipóteses e perguntas um pouco de lado.

Não é de hoje que a luta dos armênios para que a Turquia reconheça o genocídio armênio é considerada pela diplomacia turca a mais complicada das batalhas. Informalmente, diplomatas turcos responsáveis por esse assunto estão cansados e muitas vezes não encontram alternativas para barrar a luta dos armênios de uma vez por todas.

O governo turco redefiniu o que é a diáspora turca nos últimos tempos. Eles passaram a considerar “diáspora turca” todos descendentes daqueles que viviam sob domínio do Império Otomano. Assim, gregos, árabes, judeus e armênios, e todos seus descendentes, seriam membros dessa nova “diáspora turca”.

As representações diplomáticas turcas estão sendo instruídas a abrir suas portas para esses cidadãos, estabelecer relações amistosas e infiltrar-se entre os grupos representativos dessas comunidades que há mais de 100 anos atrás viviam sob a égide do sultanato otomano.

Essas diretrizes já tinham sido apresentadas pelo alto escalão turco, para todos seus diplomatas mais graduados na América do Sul, em um hotel no Rio de Janeiro durante a Rio + 20.

Essa semana, Davutoglu, em entrevista para o jornal Milliyet, enunciou essa nova estratégia para minar a luta pela Causa Armênia. Os principais pontos foram elucidados por Ara Kachatourian no Asbarez, jornal da comunidade armênia da Califórnia. São eles:

– De forma arrogante Davutoglu afirma entender a dor dos armênios e quer ouvir o que temos a dizer. Esse discurso paternalista é uma nova forma de negacionismo buscando o tão desejado revisionismo da história.

– Ele sugere que até 2015 se chegue a um bom termo com os armênios e para isso obviamente exige uma solução para o “problema” de Karabagh. Dispensável dizer qual seria essa solução na visão de um estúpido como Davutoglu.

– Davutoglu sugere que se desenvolva uma nova linguagem sobre os fatos que aconteceram em 1915. Como se eufemismos pudessem substituir a dor provocada pela tentativa de aniquilar o povo armênio.

A Turquia e os seus representantes vão se aproximar de indivíduos e lideranças menos preparadas da comunidade em breve. A Turquia e seus representantes vão tentar implementar uma tática divisionista no nosso meio se articulando com grupos e pessoas mal intencionadas. Aqueles que se sentarem ou já sentam para conversas com os turcos devem saber que estão minando todo o esforço de uma nação.

Convoco todos os grupos, pessoas e principalmente as entidades representativas, para que de forma oficial, assumam o compromisso de que não haverá dialogo com os turcos enquanto eles não reconhecerem o genocídio e assumam todas as consequências de tal ato, sejam elas financeiras, políticas, territoriais e históricas. É o mínimo que podemos fazer para honrar o sofrimento dos nossos antepassados.

Para as perguntas que comecei o artigo tenho somente uma resposta. No dia 23 de abril último, em pleno ato em homenagem aos Mártires Armênios convocado de pelo CNA(Conselho Nacional Armênio) Filial São Paulo, na Assembleia Legislativa do Estado, que reuniu centenas de pessoas, lideranças comunitárias, políticos amigos da Causa Armênia e convidados internacionais, estava presente de forma covarde e anônima um cidadão turco que observava tudo com um ar cínico e de deboche. Ele não ficou até o final do ato. Talvez tinha outros compromissos relacionado aos armênios de São Paulo.

*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente

Sobre o autor

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Professor de Geografia e Geopolítica. Fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico.

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