Texto de Ângelo Arruda
Originalmente publicado no Campo Grande News
O arquiteto Armênio Iranick Arakelian (1936-2013) nasceu em 12 de março em Campo Grande, filho de Caxike Arakelian e Yossana Irani Arakelian, oriundos da Armênia. Seu pai veio para Campo Grande em 1923 e montou um empreendimento comercial na Rua 14 de Julho, a Casa Selecta.
Armênio iniciou o curso primário no Colégio Osvaldo Cruz, mas concluiu o primário e o ginásio em São Paulo. Fez vestibular para a Politécnica de São Paulo para Engenharia, mas não passou. Iniciou o Curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP em 1960. Formou-se em 1966 e foi contemporâneo dos arquitetos Oscar Arine – que nos anos 60 transferiu-se para Cuiabá -, Willian Munford e Sérgio Zaratin – que juntos elaboraram o Plano Diretor da UFMS e projetaram o Campus -, que se formaram dois anos antes.
Na FAU/USP foi aluno de professores arquitetos famosos como, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Carlos Millan, Hélio Duarte, e passou a produzir, quando profissional, uma arquitetura inspirada nos ensinamentos da escola paulista na sua fase brutalista. Era admirador dos mestres do modernismo internacional, os arquitetos Mies Van der Rohe e Le Corbusier.
Ao se formar em arquitetura, Armênio voltou para Campo Grande. Daqui foi trabalhar em Cuiabá, a convite de seu amigo Oscar Arine. Nessa época que Armênio produziu a arquitetura que o fez conhecido em Mato Grosso e no país. Dessa época ele lembra algumas passagens:
“O ministro do Planejamento Roberto Campos, que em São Paulo estava ajudando Pedro Pedrossian a montar seu governo, em 1966, convidou o Oscar Arine e o Roberto Galvão para ir trabalhar em Cuiabá. Eu me formei em 1966 e encontrei Oscar Arine, que já era assessor especial do governador Pedro Pedrossian, em Campo Grande e ele me convidou para trabalhar para o governo Pedrossian, pois estavam sendo projetados vários edifícios”.
A equipe montada por Arine em Cuiabá era grande, composta por arquitetos da FAU/USP. Armênio continua falando de sua passagem e dos seus trabalhos em Cuiabá:
“No governo Pedrossian, em 1967, eu me mudei para Cuiabá e comecei a trabalhar para o Governo do Estado. Com Oscar Arine projetei o Fórum de Três Lagoas e o Hospital Universitário de Campo Grande. Projetei para o Campus da UEMT o Restaurante Universitário -esse mesmo projeto foi também construído em Rosário D´oeste, em MT-, e o Teatro Glauce Rocha. Em Cuiabá, o Centro Educacional Cuiabano e o bloco de salas de aula da UFMT. Projetos educacionais, fiz diversas esoclas-padrão para serem construídas em diversas cidades. Já o Centro Educacional de Três Lagoas e de Aquidauana, são projetos do arquiteto Arnaldino da Silva”.
Segundo o professor da USP, Hugo Segawa, Oscar Arine foi o responsável pela vinda desses arquitetos paulistas para Mato Grosso e introduziu um modelo de arquitetura moderna que se diferenciou dos projetos até então elaborados.
Armênio foi um arquiteto de grande simplicidade, muito brincalhão; na sua simplicidade, diz que era para ter ido trabalhar em projeto do arquiteto Oscar Niemeyer na Argélia, mas não aceitou. Tal fato ocorreu quando ele foi contatar o escritório de Niemeyer, para o projeto da Universidade de Mato Grosso em Cuiabá, que escrevi no artigo anterior. Sobre este fato ele diz:
“No projeto da Cidade Universitária de Cuiabá, em 1968, fui ao Rio de Janeiro, a mando do governador Pedro Pedrossian, convidar Oscar Niemeyer para fazer o projeto. Lá pude conhecer Hans Mueller, arquiteto alemão que trabalhava com Niemeyer. Um dia o Mueller, a mando do Oscar, me convida para trabalhar no projeto da Universidade de Constatine, na Argélia e eu não aceitei. Mas consegui acertar os honorários do projeto da Universidade em Cr$ 50 mil e o Oscar começa a projetar o pavilhão de ensino, com mais de 300 metros lineares. Pressionado pela classe política, Pedrossian recuou e me mandou elaborar o projeto. Inspirado nos princípios projetuais de Niemeyer e nas recomendações de Darcy Ribeiro, fiz o projeto do bloco de salas de aula. Convidei o artista plástico Caetano Fracarolli para fazer os monumentos de Campo Grande e Cuiabá da UEMT.”
A grande escola de arquitetura da FAU/USP, onde Armênio se formou, difundiu, no país, uma linguagem de arquitetura moderna própria, com o uso de muito concreto aparente, blocos univolumétricos, inspirada no movimento brutalista de arquitetura. Fundado nesse movimento, Armênio consegue projetar três edifícios no campus da UEMT, atual Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, bastante conhecidos pela população.
“Lá eu fiz o Teatro, o Restaurante e com o Oscar Arine fiz o Hospital Universitário. Usamos a linguagem da arquitetura moderna de São Paulo. Além disso o governador queria obras modernas, que atestassem o desenvolvimento e aí nós conseguimos especificar estruturas em concreto, lajes impermeabilizadas, numa época bastante difícil de mão- de- obra . A Construmat Engenharia construiu quase tudo por lá . O Hospital eu tenho certeza que foi ela. São projetos modulados e que estruturalmente foram bem calculados”.
Armênio Arakelian faleceu em 2014 e em 2002 ganhou o Prêmio Arquiteto do Ano do Sindicato dos Arquitetos de Mato Grosso do Sul e foi um dos grandes arquitetos do país.