YEREVAN. – O presidente da Armênia Serzh Sargsyan enviou uma carta ao Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, em resposta ao convite para visitar a Turquia no dia 24 de abril de 2015 para participar dos eventos que marcam os 100 anos da batalha de Gallipoli.
Diz a carta:
“Estimado Sr. Presidente,
Recebi Vosso convite para participar dos eventos em homenagem a memória do 100º aniversário da batalha de Gallipoli.
A Primeira Guerra Mundial é realmente um dos mais terríveis capítulos da história da humanidade, que deixou milhões de vítimas inocentes.
Entre os participantes da batalha de Gallipoli estava o capitão das forças armadas otomanas de origem armênia, Sargis Torosyan – um oficial que dedicou sua vida à proteção e à segurança do Império e foi condecorado pelo Império Otomano pelo serviço fiel e atos de bravura. Enquanto isso, no mesmo ano, uma onda de massacres e deportações forçadas, planejadas e realizadas pelo Império Otomano contra o povo armênio não poupou sequer o mesmo Sargis Torosyan. Entre 1,5 milhão de armênios que foram vítimas de genocídio, estavam os seus pais, que foram brutalmente assassinados, enquanto a sua irmã faleceu ao atravessar o deserto da Síria.
Como resultado deste massacre sem precedentes, Raphael Lemkin definiu o termo “genocídio”, e a impunidade deste genocídio abriu caminho para o Holocausto e genocídios em Ruanda, Camboja e Darfur.
De acordo com o Senhor, a batalha de Gallipoli é, tanto para a Turquia, como para o mundo, um exemplo de como relações amistosas podem ser geradas pela guerra, e como o campo de batalha pode ser um monumento da paz e da amizade, que relembra o legado amargo da guerra. Deixando de lado o valor da batalha de Gallipoli ou o papel controverso da Turquia durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, vale a pena lembrar que a paz e a amizade devem estar, antes de tudo, baseados na coragem de enfrentar o seu próprio passado, a justiça histórica, e no reconhecimento total, e não seletivo, da memória universal.
Infelizmente, a Turquia continua a sua tradicional política de negação e, ano após ano “melhora” as ferramentas para distorção da história. É pela primeira vez que a comemoração da Batalha de Gallipoli recai no dia 24 de Abril, apesar de ter começado em 18 de março de 1915 e ter continuado até o final de janeiro de 1916, enquanto a operação conjunta dos Aliados começou em 25 de abril. Qual seria o objetivo disso, se não desviar, claramente, a atenção do mundo das atividades de comemoração do centenário do genocídio armênio? Antes de planejar os eventos de comemoração da Batalha, a Turquia tem uma responsabilidade muito mais importante com o seu povo e toda a humanidade – o reconhecimento e a condenação do Genocídio Armênio.
Por isso, ao clamar pela paz mundial, gostaria de sugerir-lhe que não se esqueça de mencionar a importância de reconhecimento do genocídio armênio, honrando a memória de um milhão e meio de vítimas inocentes. O dever de cada um de nós é passar para as futuras gerações a história real, sem distorções, evitando assim a repetição dos crimes e abrindo o caminho para uma maior aproximação e cooperação entre as nações, em especial nações vizinhas.
P.S. Vossa Excelência, há alguns meses, vos convidei a visitar Yerevan no dia 24 de abril de 2015, para honrarmos juntos a memória das vítimas inocentes do genocídio armênio. Nós não temos o hábito de visitar um convidado antes de receber uma resposta para o nosso convite”.
Tradução: Profª. Drª. Lusine Yeghiazaryan
Uma resposta ao nível de grande estadista, defendendo os interesses da nação Armênia e dos armênios
da diáspora!!! Bravo!!!!