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Turquia atravessa negociações de União Eurasiana

Reportagem especial, com informações de Tert.am, Asbarez, Azatutyan.am e outras.

Desde a reunião da União Econômica Eurasiana (bloco formado por Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão) realizada em Astana, capital deste último, em maio de 2014, muitas coisas mudaram na configuração política mundial. Naquele encontro, Armênia, Quirguistão e Tadjiquistão, expressaram suas intenções de aderir ao bloco. Para aqueles que lembram da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), órgão criado para substituir a antiga URSS., a União Econômica Eurasiana seria um aprofundamento das inter-relações entre os países indo de um livre mercado até a união monetária passando por projetos conjuntos de infraestrutura. Os grupos de trabalho vem se empenhando para tudo começar efetivamente em 2015.

Porém, na última reunião dos ministros do Comércio e Economia do G-20 (bloco formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia) em Sidney, Austrália, na semana passada, um encontro paralelo entre o ministro da Economia turco Nihat Zeybekci e o ministro do Desenvolvimento Econômico russo Alexei Ulyukayev mudou sensivelmente as expectativas do bloco eurasiano.

A Turquia manifestou interesse no estabelecimento de uma zona de livre comércio com a futura união aduaneira eurasiana.

Ulyukayev disse: “Nós discutimos as possíveis formas de cooperação, incluindo a formação de uma zona de comércio livre entre a União Eurasiana e a Turquia. Concordamos em criar um grupo de trabalho e para começar uma discussão mais detalhada sobre essas possibilidades e perspectivas, em setembro“.

O volume de comércio entre a Rússia e a Turquia totalizaram US$ 32,7 bilhões em 2013. A Rússia é o segundo maior parceiro comercial da Turquia, após a União Europeia; enquanto a Turquia ocupa a oitava posição entre os parceiros de comércio exterior da Rússia.

As pautas do encontro russo-turco giraram em torno da diminuição da dependência do dólar e o uso de moedas nacionais nas transações e grandes projetos de interligação logística.

Essa seria uma situação muito complicada para a Armênia. Em entrevista ao site Tert.am o especialista em estudos turcos Ara Papyan disse:

“A Turquia tem reais intenções nessa aproximação desde muito tempo. Quando o presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, falou da adesão da Turquia ao bloco, ele falava em nome dos outros membros. Esse cenário acaba formando um quadro extremamente favorável para os países de língua e tradições turcas que assim se aproximam ainda mais da Turquia. Todos esforços do bloco vão estar focados na tentativa de atender os interesses da Rússia e da Turquia, o que é extremamente negativo para a Armênia. A meta dos dois países é chegar em poucos anos a um comércio bilateral na casa dos US$ 100 bilhões. Esse alinhamento russo-turco será muito prejudicial para a Armênia que, para piorar, não pode fazer quase nada em relação ao quadro que se desenha. A única coisa que temos a fazer é colocar as nossas esperanças nas relações com a Rússia e seus interesses geopolíticos. Mas, deve-se notar, que a experiência mostra que só isso não funciona“.

Segundo Papyan, a Rússia está disposta a renunciar a seus interesses geopolíticos por interesses econômicos. Dada a sua grave situação geopolítica, os russos estão tentando resolver os problemas de curto prazo. A Armênia não será um obstáculo no caso dos lados em negociações decidirem por construir tais relações. O único poder que, segundo Papyan, pode evitar essa aproximação são os Estados Unidos, caso esse país realmente não queira que a Turquia desenvolva laços estreitos com a Rússia.

Já o economista Vahagn Khachatryan disse que ainda é muito cedo para falar sobre tais relações, dado que nenhum dos Estados fizeram qualquer declaração oficial até o momento: “A Turquia, que desenvolve relações de grande escala com a Rússia, irá, naturalmente, desejar expandi-las. Mas é o Cazaquistão que quer a maior aproximação com a Turquia a fim de desenvolver seu projeto econômico voltado para o mercado ocidental. Para eles nada melhor que envolver a Turquia no bloco.”

Khachatryan acrescentou que ele não tem esperanças ou expectativas muito positivas sobre o plano, uma vez que as metas de integração entre países não tiveram sucesso imediato no período recente. “Afinal de contas, vai depender de como as coisas vão se desenvolver. O livre comércio deve sempre ter certas limitações. A Turquia é membro da Organização Mundial do Comércio, enquanto Belarus e Cazaquistão não são. Isso pode causar problemas para Turquia”.

Quanto ao futuro da Armênia, o economista disse que espera para ver quais os desdobramentos das relações turco-armênias para se tornar um tópico da agenda depois de o país se juntar ao bloco econômico liderado pela Rússia. “É possível fazer tais suposições“, acrescentou.

O quadro se torna ainda mais complexo para a Armênia.

O líder do partido de oposição Federação Revolucionária Armênia – Tashnagtsutiun, Hrant Markarian, afirma que a Rússia pode perder a Armênia como um aliado, se ela continua a fornecer armas ao Azerbaijão em grandes quantidades. Em entrevista ao site Azatutyun.am o representante do bureau do partido reagiu com preocupação aos relatórios recentes que indicam que Moscou vendeu material bélico no valor de US$ 4 bilhões para o Azerbaijão nos últimos anos. Ele disse: “A Rússia deve perceber que desta forma ele não pode manter seus aliados em torno dela por um longo tempo. Ela deve perceber que desta forma ela pode perdê-los”, “Nós, armênios, devemos avaliar e sempre podemos encontrar opções difíceis ou fáceis, podemos pagar um preço alto, mas ainda teremos opções. Eu não acho que somos tão impotentes que o nosso único caminho seja a Rússia. E a Rússia também deve perceber isso. Ela deve perceber que essa é uma abordagem errada e isso pode ter grandes perdas“.

O Presidente armênio Serzh Sarkisian expressou recentemente consternação com as entregas contínuas de armas russas para o Azerbaijão. Em uma entrevista à imprensa argentina durante sua visita à Buenos Aires na semana passada, Sarkisian insistiu que a Rússia permanece comprometida na aliança militar com a Armênia. Em suas palavras: “É um assunto muito doloroso e nosso povo está preocupado que o nosso aliado estratégico vende armas para o Azerbaijão. Mas estamos muito confiantes de que a Armênia tem a capacidade de defender suas fronteiras… apesar do fato de que a Rússia vende armas [ao Azerbaijão] Não tenho dúvidas que a Rússia vai honrar seus compromissos em momentos de adversidade.

Sarkisian não especificou que tipo de ajuda militar russa a Armênia espera receber no caso de uma nova guerra em Nagorno-Karabakh. Dados do governo russo no registro de Armas Convencionais das Nações Unidas revelou, em relatório no mês passado, que o Azerbaijão comprou 72 tanques, 34 veículos blindados, 456 sistemas de artilharia pesada, 37 helicópteros de ataque e 1.200 sistemas de foguetes da Rússia entre 2007 e 2013.

A diplomacia armênia até agora tem sido cuidadosa em não criticar publicamente os fornecimentos de armas russas ao Azerbaijão. Algumas fontes tem dado a entender que esse incomodo é compensado pela ajuda militar russa para a Armênia.

O líder do Tashnagtsutin acredita que manter o equilíbrio militar na região é do interesse da Rússia. “Isso [o fornecimento de armas e Azerbaijão] não é algo que podemos ignorar… Só há uma maneira de torná-lo aceitável – se a Rússia nos dá tudo o que vende para o Azerbaijão gratuitamente”, disse Markarian.

Ele também comentou a adesão planejada da Armênia na emergente União Económica Eurasiana e acredita que a decisão de participar no processo decorre de preocupações com segurança. Em sua opinião, Yerevan efetivamente desistiu de seu processo de associação com a União Europeia depois de anunciar a sua intenção de se tornar parte de um bloco comercial liderado pela Rússia.

Markarian disse que seria ideal permanecer fora de qualquer pacto ou acordo, assim não haveria riscos maiores com segurança. Mesmo sabendo que isso é quase impossível, ele afirmou: “Se pudéssemos encontrar uma maneira de resolver os nossos problemas de segurança antes de aderir aos blocos seria muito melhor. Seria ideal. Mesmo assim sabemos que isso envolve complexas relações”.

 

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