Em 19 de julho, teve início mais uma edição do Fórum Cultural Estudantil de verão do Hamazkayin, um dos mais importantes eventos culturais que congrega centenas de jovens da diáspora para discutir e estudar a milenar cultura armênia. O evento acontece em Yerevan, capital da Armênia e termina no dia 4 de agosto.
Quem representa o Brasil nesta edição do evento é a jovem ativista Nairi Zadikian, que passa a ter uma seção aqui no Portal Estação Armênia para o envio de informações sobre o evento na forma de relato.
Abaixo, o nosso leitor encontra o primeiro relato de Nairi sobre o evento.
Primeiro dia
Eu tinha plena certeza de tudo que estava a minha espera e que me cercaria. Portanto, não era para me surpreender com a recepção de um garoto na porta (falando um armênio meio texano) dizendo para que eu seguisse em frente. Não era pra me surpreender com atitudes de pessoas que eu jamais havia visto, me ajudando com a mala e dizendo “Ah kidem kezi! Nairin es, Brasilen che?” (Ah, eu te conheço, você não é a Nairi do Brasil?).
Não era pra eu me surpreender com o fato das meninas do quarto ao lado terem vindo me receber, mostrando onde eu poderia colocar as minhas coisas e tudo mais.
E mesmo preparada pra tudo aquilo, eu senti o baque! O baque de escutar armênio pra todos os lados. Por vezes intercalado de alguns “oh my god”, “actually”, “yalla” e outras expressões que eram tão estranhas que no começo mal pude diferenciar. Mas eram todos meus. Eram todos iguais a mim. Pra onde eu olhava, notava a semelhança. Não importava com quem falasse, eu sempre recebia um tom acolhedor de irmandade.
O restante do dia foi só um plus, um presente do qual nunca esquecerei: Visita ao Armenian History Museum, pausa para o pulpulak. Visita à estátua de Sassuntsi Tavit, pausa para o dziran. Visita à Igreja de Surp Krikor Lusavorich, pausa para acender uma vela e para uma oração. Visita ao Mayr Hayastan, pausa para admirar de cima toda aquela atmosfera que parece estar sendo protegida pelo Ararat.
Senti-me abraçada. Senti-me acolhida. Senti-me com os pés presos à terra de onde, um dia, meus antepassados vieram.
O dia terminou em um verdadeiro “haygagan kef” (festa armênia), num restaurante em Erevan com música ao vivo. Ninguém estava se importando muito com a comida, embora deliciosa. Levantamos inúmeras e inúmeras vezes pra dançar.
Rimos, dançamos, cantamos, tropeçamos, nos abraçamos, e nos sentimos como deveríamos nos sentir: Armênios.
O encerramento não poderia ter sido mais emocionante do que foi. Sentados em volta da mesa, cada um de nós lembrava de uma música hayrenasiragan, puxava o grupo e em questão de segundos um filme começava a passar pela sua cabeça. Enquanto lágrimas rolavam, entoávamos canções que lembram nossos heróis e fazíamos mais um genatz, tive a certeza de estar no lugar certo, no momento certo, com as pessoas certas. Me senti em casa.