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O lado retrógrado Armênio

2011-AGLANYA Europa está recebendo um inesperado ataque na Armênia, por uma lei de igualdade de gênero que para muitos neste país promove a homossexualidade como um “valor europeu”. A reação é tão violenta que alguns observadores políticos acreditam que está sendo atiçada artificialmente, para criar apoio popular à decisão tomada no mês passado pela Armênia, de procurar ser membro da União Aduaneira de Rússia, Bielorússia e Cazaquistão à custa de vínculos mais próximos com a União Europeia (UE).

A Lei Sobre Iguais Direitos e Oportunidades para Homens e Mulheres começou a ser debatida em 2009 e entrou em vigor em junho, com o objetivo de implementar a igualdade de gênero em todos os aspectos da vida cotidiana e de tornar ilegal a discriminação de gênero. Isso pode soar como algo comum entre os membros da UE, mas na sociedade armênia, de tradição patriarcal, rapidamente gerou reações.

Os que se opõem à lei recorrem a táticas atemorizantes. Por exemplo, campanhas nas redes sociais com imagens de homens jovens exageradamente maquiados e de casais transgênero se beijando, junto com chamados para lutar contra os “retorcidos valores ocidentais”, e para “manter os valores familiares”. Esses setores também se valem de vídeos e artigos segundo os quais, incorretamente, as legislações de Dinamarca, Alemanha, Noruega e Suécia permitem o incesto e a pedofilia e incentivam os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

A mensagem é “o mesmo pode acontecer com a Armênia”. A campanha de medo se centra na definição de “gênero” contida no Artigo 3: “comportamento adquirido e determinado pela sociedade para os diferentes sexos”. Para muitos armênios, a palavra “adquirido” é sinônimo de homossexualidade. Embora a ofensiva contra a lei tenha começado tão logo entrou em vigor, ficou mais intensa quando o presidente, Serzh Sargsyan, anunciou, no começo de setembro, que a Armênia estava pronta para se integrar à União Aduaneira encabeçada por Moscou.

Em entrevista coletiva no dia 9 de setembro, Archimandrite Komitas Hovnanian, destacada figura da Igreja Apostólica Armênia, alertou que “está se formando um novo movimento, que faz campanha a favor da homossexualidade, da pedofilia, do incesto e de outras coisas imorais”. E disse aos jornalistas que “todos deveríamos estar preocupados. Se somos armênios, temos que tomar medidas para impedir esse fenômeno decadente”.

Alguns parlamentares propuseram emendas para eliminar as referências ao “gênero”, mas não conseguiram aplacar a intensidade do debate. No dia 11 deste mês, um grupo na rede social Facebook propôs uma marcha em Yerevan, capital do país, contra a lei e os “valores europeus”. Esses “valores europeus” são um grande saco onde entram a igualdade de direitos para as mulheres – em si mesma muito controvertida para essa sociedade conservadora – e a tolerância com o casamento entre pessoas do mesmo sexo e em relação a toda minoria sexual, uma execração para a maioria das pessoas que vivem no sul do Cáucaso.

A Rússia, que acaba de aprovar uma lei que proíbe a “propaganda homossexual”, é vista com um modelo virtuoso a ser imitado. “As tradições armênias e os valores europeus são muito difíceis de se combinarem. A Europa aceitar a homossexualidade e os casamentos entre pessoas do mesmo sexo não significa que sejam aceitáveis para as famílias armênias tradicionais”, explicou o sociólogo Aharon Adibekián. “Por isso esse é o principal motivo da reação que a sociedade está tendo”, acrescentou.

Adibekián alertou que a ofensiva contra a Europa vem sendo gestada desde que a Armênia, nos anos 1990, se comprometeu a assinar acordos internacionais para defender os direitos das minorias. A campanha contra a igualdade de gênero pode parecer extrema para os estrangeiros, mas teve impacto nesse país. Para Leda Hovhannisián, moradora em Erevan, de 38 anos, com estudos secundários, agora fica aterrorizada em pensar que seu filho de 16 anos possa ir estudar na Europa ou nos Estados Unidos, embora isso lhe dê uma vantagem para conseguir um bom emprego.

“Não, sob nenhum conceito. Não quero que meu filho viaje jamais a esses lugares onde são generalizadas as drogas, a homossexualidade e outras formas de abuso. Ouvimos sobre essas coisas todos os dias. Deus não permita. Nunca o deixarei ir para lá”, afirmou Hovhannisián. Há, também, os que acreditam que essa campanha não tem sentido. “Lamentavelmente, muitas pessoas nem mesmo se dão conta de que isso é resultado da desinformação”, disse Emma Babaián, uma programadora de informática de 26 anos.

Alguns opositores vêem as mensagens no Facebook alertando sobre o “vento de perversão que sopra do Ocidente”, um motivo oculto das autoridades. O governo de Sargsyan, afirmam, quer gerar apoio público para sua inclinação pelo abraço econômico com a Rússia, em lugar da União Europeia. Bruxelas ressaltou que um acordo de associação entre UE e Armênia é incompatível com a iminente integração de Yerevan à união aduaneira russa.

“Essa foi uma campanha cuidadosamente planejada, seguida das duras críticas dos últimos tempos aos valores europeus e à lei de igualdade de gênero que despertou fúria na sociedade, e todos esses fatores foram explorados para desacreditar a Europa”, afirmou Stepan Safarian, secretário do opositor Partido do Patrimônio, favorável ao Ocidente.

Galust Sahakián, vice-presidente do governante Partido Republicano da Armênia e titular de seu grupo parlamentar, rechaçou tais acusações. “Isso é absurdo. A lei de igualdade de gênero não tem nada a ver com diplomacia nem com as tentativas de conseguir apoio popular para a união aduaneira. Não deveriam vinculá-la nem com a Europa, nem com a diplomacia, nem com a Rússia, nem com o resto do mundo”, ressaltou. Envolverde/IPS

* Marianna Grigoryán é jornalista independente radicada em Yerevan e editora do MediaLab.am. Esse artigo foi publicado originalmente na EurasiaNet.org e republicado por envolverde.com.br.

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