A escolha do país sede será realizada em cerimônia, no próximo sábado, dia 7 de setembro, na cidade de Buenos Aires
Com informações de Prensa Armenia –
“O esporte, que deveria servir para unir as nações, pode ser usado para ocultar a realidade de um país“. Assim começa a declaração dos jovens da comunidade armênia da Argentina sobre a candidatura da cidade de Istambul às Olimpíadas de 2020, ao lado de Tóquio e Madri.
Istambul é uma das cidades mais importantes da Turquia, país que durante os últimos 98 anos continua negando ter cometido um genocídio contra o povo armênio em 1915, um genocídio que custou a vida de um milhão e meio de pessoas.
O texto da UJA (União juventude Armênia) lembra que junto ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan formam parte da representação turca em Buenos Aires, Ali Babacan -Vice-Primeiro-Ministro da Economia e ex-ministro das Relações Exteriores turco, que ameaçou normalizar as relações entre a Armênia e a Turquia caso Barack Obama utilizasse a palavra “genocídio” ao se referir ao genocídio dos armênios- e Hüseyin Avni Mutlu -governador de Istambul que participou de uma mobilização ultranacionalista em 2012, onde entoou os dizeres “somos todos armênios, somos todos canalhas”, em alusão à frase utilizada pelos turcos quando o jornalista de origem armênia Hrant Dink foi assassinado em frente ao seu jornal em Istambul.
Na ocasião do cortejo fúnebre de Dink, quase cem mil pessoas foram às ruas na Turquia e muitas delas carregavam cartazes com a frase “Somos todos armênios, somos todos Hrant Dink” (Hepimiz Ermeniyiz, Hepimiz Hrant Dink’iz)
“Obviamente, este não é o espírito de fraternidade entre as nações que promovem os Jogos Olímpicos“, continua a denunciar o texto da organização de jovens, que também confirmou uma manifestação para protestar contra a presença de Erdogan no país, para o próximo sábado, 7 de setembro.
Além disso, a comunidade se mostrou preocupada com a “alarmante” situação dos direitos humanos na Turquia, referindo-se a um relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras, que qualificou a Turquia como o país com “maior número de prisão de jornalistas no mundo” e a repressão policial brutal de manifestações pacíficas na Praça Taksim, em julho passado.
“A escolha de Istambul como cidade sede das Olimpíadas servirá para aprofundar o grau de vulnerabilidade das minorias já oprimidas e irá encorajar as autoridades turcas a continuar sua política xenófoba e discriminatória“, diz o texto.
Razmig Nalpatian, membro da organização da juventude, disse: “O Comitê Olímpico turco contratou a Burson Marsteller, a mesma agência de publicidade que lidou com os meios de comunicação para tentar “limpar a barra” do país durante a ditadura, para conseguirem sediar o Mundial ’78, que óbviamente, aconteceu na Argentina”. A agência de publicidade criou, na época, a infame frase: “Nós argentinos somos direitos e humanos” (Los argentinos somos derechos y humanos). Leia abaixo a nota da UJA da Argentina na íntegra:
“Fazendo História”
O esporte, que deveria servir para unir as nações, pode ser usado para ocultar a realidade de um país. Na Argentina, a ditadura civil-militar que governou entre 1976 e 1983 usou a Copa do Mundo de ’78 para exibir uma imagem de um país moderno, unido e forte, o que contrasta com a realidade de uma sociedade que sofreu os horrores de violações sistemáticas dos direitos humanos.
Hoje a Turquia se esforça para sediar os Jogos Olímpicos de 2020 e, consequentemente, tenta aparecer como um poder crescente, com valores pluralistas e democráticos. No entanto, devemos lembrar que é a situação atual, na Turquia.
Próximo ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, fazem parte da representação turca em Buenos Aires Ali Babacan -Vice-Primeiro-Ministro da Economia e ex-ministro das Relações Exteriores, que ameaçavam se recusam a normalizar as relações entre a Armênia e a Turquia caso Barack Obama utilizasse a palavra “genocídio” para se referir à morte dos armênios em 1915- e Hüseyin Avni Mutlu -governador de Istambul, que participou de uma mobilização ultranacionalista em 2012, onde cantou “somos todos os armênios, somos todos canalhas”, “Monte Ararat será o seu túmulo” e aplaudiu Ogun Samast, assassino do jornalista turco armênio Hrant Dink.
Obviamente, este não é o espírito de fraternidade entre as nações para promover os jogos. Mas não é uma questão limitada a essas figuras políticas. A situação dos direitos humanos na Turquia é alarmante. As perseguições, prisões e até mesmo assassinatos de jornalistas, levou a organização Repórteres Sem Fronteiras em 2012 a qualificar a Turquia como “país com maior número de prisões de jornalistas”, com 72 presos e dezenas processos em andamento.
A Anistia Internacional, em seu último relatório, constatou que existem muitas violações dos direitos humanos. “A liberdade de expressão permanece sujeita à restrições”, “a polícia usou força excessiva para dispersar manifestações pacíficas”, “a investigação e o julgamento de alegações de violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado são deficientes”, e que persistem os injustos “julgamentos nos termos da legislação anti-terrorismo “. A ilegalização dos partidos políticos, especialmente aqueles compostos por curdos, a perseguição aos estudantes e a violação dos direitos consagrados na OIT também figuram no relatório.
O lema de candidatura da Turquia é “Fazendo História”. Mas qual é o perigo de que a Turquia seja escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 2020? Estamos convencidos de que NÃO “se fará história”, mas sim “se ocultará a história”.
A escolha de Istambul como cidade sede das Olimpíadas servirá para aprofundar o grau de vulnerabilidade das minorias já oprimidas e irá encorajar as autoridades turcas a continuar sua política xenófoba e discriminatória.
União Juventude Armênia [Argentina]