ARMÊNIA 2013
ANO XIII – Nº 7
Agosto de 2013
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FATOS, ATOS E SIGNIFICADOS
Eventos de caráter histórico e cultural foram destaques no mês de agosto, na comunidade armênia de São Paulo. Os encontros de comemorações e atividades versaram – através de palestras, discursos, debates, canções e danças – sobre a temática de nossa história de lutas e reivindicações contínuas. Referimo-nos a Khanassori Archavank , Tratado de Sèvres, Karabakh, Artsakh, Shushi, Fatores étnicos e geopolíticos que desencadearam o Genocídio de 1915, Negacionismo, Veredito, Otomanismo, Islamização, e hoje, a guerra na Síria, os conflitos no Egito e os manifestos na Turquia. Foram semanas de reflexão sobre os fatos e atos que ocorreram no passado e que continuam a atordoar o mundo, sendo a população civil, como sempre, vítima dos jogos de interesses das nações, e com repercussões inevitáveis para as sociedades e na vida dos indivíduos. Nossos eventos demonstraram que a comunidade armênia ainda está pujante e não esmorece nas lutas de proteção aos nossos direitos, seja pela Palavra, Pesquisa, Manifestos ou até mesmo, por Ação. A História tem registrado uma sequência de lutas ao longo dos tempos, desde a Antiguidade, até agora, e não desistimos. Existe esperança? É ela que nos motiva. Tudo que herdamos, temos preservado e, persistindo nos esforços de conscientização de nosso povo, estamos passando para os jovens, em quem está a nossa Esperança. Que cuidem bem do que estão recebendo: com responsabilidade e compromisso. O Informativo é um desses veículos responsáveis pela transmissão de nossos valores e envolvimento pelas questões armênias.
Como desdobramento desse quadro de eventos e temas, o Informativo ARMÊNIA 2013 nº 7, publica em anexo, para conhecimento e conscientização dos leitores, artigo sobre a questão de Karabakh, intitulado “Istambul: Novo pensamento sobre a solução de Artsakh?” e notícias sobre a situação econômica da Armênia, quanto a investimentos, bem como contatos do presidente Serzh Sargsyan com os Eclesiásticos da Armênia e do Líbano, discutindo sobre assistência e proteção aos armênios da Síria.
Boa leitura.
Sossi Amiralian
ISTAMBUL: NOVO PENSAMENTO PARA A SOLUÇÃO DE ARTSAKH?
Repasso abaixo artigo escrito por um jornalista turco, Zaur Shiriyev (z.shiriyev@todayszaman.com), a respeito da questão de Artsakh, do jornal Today’s Zaman, de 25 de Agosto de 2013, Turquia. Este tem muito haver com a recente palestra do Sr. Megerditch Megerditchian, sobre Artsakh, no Clube Armênio. Ao final faço minhas ponderações.
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“Meios de comunicação locais no Azerbaijão informaram a nomeação de um novo embaixador dos EUA, James Warlick, para a Organização da Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Grupo de Minsk no início deste mês como um sinal de compromisso político renovado a partir dos EUA.
Dadas as atuais tensões entre EUA-Rússia devido a situação na Síria, parece provável que Washington gostaria de “punir” Moscou. Mas, além do trabalho do Grupo de Minsk, há uma necessidade primeira para “restaurar” as negociações entre as partes. No entanto, não há nenhuma garantia para uma solução rápida do conflito, ou que os interesses nacionais dos EUA, da Rússia ou da França/UE tenham se modificado de tal maneira que o grupo esteja galvanizado a ponto de agir para resolução do conflito.
O Azerbaijão sempre argumenta que mais de 30 mil armênios hoje estão vivendo pacificamente no Azerbaijão, e Baku poderia ajudar com o pós-conflito
“reabilitando” Artsakh e os territórios circundantes. Mas tal pensamento tem, até agora, se limitado a algumas publicações sobre a resolução de pós-conflito. No entanto, o pensamento torna-se realidade quando você transforma-a em estratégia e o Azerbaijão deve considerar a construção e implementação da sua estratégia de engajamento com os armênios de Artsakh. Dentro do Azerbaijão, o “isolamento” até agora tem sido mais forte do que o “campo de engajamento” no que diz respeito à abertura de relações econômicas com Artsakh antes da retirada das forças armênias dos territórios ocupados. Desencorajados, o campo dos “engajados” é pequeno, que consiste principalmente de intelectuais. Os últimos 20 anos de negociações sugerem que a solução é largamente dependente das partes em conflito, a confiança mútua e o potencial de cooperação.
A questão-chave para esta estratégia é que, mesmo se ambos os lados puderem chegar a um acordo, o “terceiro” (os armênios de Artsakh) pode bloqueá-lo. Isso foi visto em 1997-1998, quando o presidente armênio Levon Ter-Petrossian levou o país à beira de um compromisso que em seguida, entrou em colapso, em grande parte devido ao papel de Artsakh que, com a diáspora e alguns grupos políticos, empurrou o presidente a renunciar. Em última instância, se a liderança armênia não vai fazer concessões, Baku precisa mudar seu envolvimento com Artsakh. O objetivo é evitar uma situação na qual tanto a liderança armênia ou as autoridades armênias de “facto” de Artsakh possam ser refens do processo de paz.
A este respeito, o Azerbaijão pode desenvolver um diálogo, a cooperação e estratégia de convivência com Artsakh. Os armênios de lá estão vivendo sob o comando de autoridades de facto separatistas fora do Azerbaijão e também sob um bloqueio de informações. Esta estratégia pode também ser benéfica para o Azerbaijão, porque não questiona a princípio a integridade territorial, nem forçar o Azerbaijão a reconhecer a independência auto-proclamada dos separatistas de Artsakh.
A estratégia deve ser composta pelos seguintes princípios:
Primeiro, que armênios de Artsakh são cidadãos do Azerbaijão. O Azerbaijão
promete não ameaçar a segurança física de seu povo, fornecer todas as garantias de segurança para eles e abrir oportunidades econômicas. Segundo esta abordagem, o governo do Azerbaijão deveria tranquilizar os armênios que o alvo da ameaça não é a população civil, mas a liderança armênia. Caso contrário, quaisquer declarações contendo ameaças serão usadas em uma campanha de relações públicas contra o Azerbaijão. A intervenção militar deve ser uma opção em caso das negociações falharem.
Em segundo lugar, que os armênios de Artsakh podem se beneficiar da convivência com os
Azeris. O governo do Azerbaijão aloca dinheiro no orçamento governamental para Artsakh, que eles podem acessar a partir de um “terceiro país”, como exemplo, da embaixada do Azerbaijão. O orçamento não pode ser usado para qualquer atividade por parte das autoridades de facto. Por exemplo, o governo do Azerbaijão está agora pagando depósitos bancários da era Soviética para os Azeris. Da mesma forma, os armênios de Artsakh também poderiam acessar seus depósitos, tudo que eles precisam fazer é mostrar o registro do depósito e sua identidade. Isso pode ser uma maneira simples de começar com o processo de engajamento através de um procedimento financeiro neutro. A estratégia mais difícil seria a criação de um “Fundo do Estado Pós-Reabilitação”, através do qual o governo iria alocar dinheiro para a reconstrução após a resolução do conflito. Esta seria uma estratégia de marketing para a resolução de conflito, em especial para os armênios de Artsakh.
Em terceiro lugar, um dos principais objetivos seria fortalecer o poder de barganha da UE e dos EUA no conflito de Artsakh. Isso foi visto no caso da Geórgia, onde a UE tentou construir laços mais fortes com a Abkházia, o qual, por sua vez, pode ser utilizado para aumentar os contatos de Abkházia com Georgia, ou para deslocar Sukhumi para fórmulas criativas e legais na
questão do estatuto das negociações futuras. Antes da guerra de agosto de 2008, a Georgia não tinha uma estratégia de “compromisso de reconhecimento”. Mas antes de declarar essa política, em 2010, o medo da Geórgia foi que o apoio da UE ou dos EUA para as actividades das ONG’s poderia legitimar as entidades separatistas. No entanto, o Azerbaijão pode coordenar as atividades das ONG’s, juntamente com a UE e os EUA. Desta forma, o Azerbaijão poderia pedir aos EUA e a UE abster-se de execução de projetos que poderiam fortalecer as autoridades de Artsakh, em vez de se concentrar em iniciativas para aumentar a confiança dos armênios de Artsakh no Azerbaijão. Após a implementação inicial de engajamento econômico suave e projetos de ONG’s com armênios de Artsakh, o governo poderia declarar mais tarde todos os pontos de política de engajamento e acrescentar garantias de segurança, se o conflito for resolvido.
Obviamente, existe um risco de que as ansiedades nacionalistas e a exploração de temas patrióticos possam servir como poderoso instrumento político para legitimar o cerceamento ainda mais engajado em Artsakh. Mas é possível que este tipo de pensamento também torne impossível justificar os projetos de anexação e/ou se mova em direção da construção de mútua confiança. Possivelmente, a maioria dos armênios de Artsakh e seus partidários serão responsabilizados por ter “vendido interesses nacionais em prol de fundos do Azerbaijão”. Porém, é possível que essa estratégia possa mudar a trajetória da resolução do conflito e poderia facilitar um novo tipo de empreendimento na resolução de conflitos – sem esperar o Grupo de Minsk da OSCE se movimentar, ou por concessões de Erevan.”
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Imaginar que os armênios de Artsakh possam virar as costas à Armênia, abrindo mão de unificar suas terras totalmente ao território armênio como um todo, é no mínimo impensável. Conhecendo toda história milenar dos armênios na região, onde na ocasião sequer existiam os turcos como povo, ou como nação, “aliando”–se aos azeris desta forma, é imaginar, também, que um dia os armênios vão abrir mão do monte Ararat. Até a onde pode ir a imaginação.
Edouard Mekhalian
INVESTIMENTOS NA ARMÊNIA
EDUARDO EURNEKIAN É O MAIOR INVESTIDOR DA ARMÊNIA
O volume de investimentos estrangeiros na Armênia, no primeiro semestre de 2013, atingiu 293.100 milhões de dólares, demonstrando um decréscimo de 34,7 por cento, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo as informações do Serviço Nacional de Estatística. A Argentina substituiu a França como o maior investidor estrangeiro na Armênia, com investimentos totalizando 76 milhões de dólares. Os investimentos franceses caíram cerca de 9 vezes ao longo do ano, devido à redução dos investimentos da “Orange Armenia”. Enquanto isso, os investimentos argentinos aumentaram 10 vezes, graças a projetos de Eduardo Eurnekian. A maior parte dos investimentos de Eurnekian está focada no desenvolvimento do transporte aéreo e menos na agricultura e construção. Em 2013, o investimento de Chipre aumentou cerca de 30 vezes, tendo como objetivo a exploração de jazidas de minérios metálicos. A Rússia é líder em investimentos diretos, com 32 milhões de dólares este ano. Os investimentos russos são mais diversificados, embora uma grande proporção recaia sobre a energia (4.6 milhões), transporte (10 milhões) e telecomunicações (15 milhões).
(Notícias da Armênia – NEWS.am – Yerevan – 31.08.2013)
PRESIDENTE ARMÊNIO E CLÉRIGOS
O Presidente armênio discute com Clérigos maneiras para ajudar os armênios sírios.
O Presidente armênio Serzh Sargsyan discutiu com o Catholicos Karekin II, Patriarca da Igreja Apostólica Armênia, e o Catholicos Aram I, Chefe da Sede da Cilícia, hoje, por telefone, sobre as questões relacionadas com a assistência aos armênios da Síria, segundo os relatos de Imprensa do Gabinete do Presidente. Foram também discutidas maneiras de proteger a comunidade armênia e diplomatas na Síria. O Presidente e os Clérigos decidiram unir seus esforços para fazer o que for possível para os armênios sírios. A sede de Cilícia em Antélias, no Líbano, é uma das sedes da Igreja Apostólica Armênia. A comunidade armênia na Síria está estimada em 100.000 pessoas. A maior comunidade está em Aleppo (60.000). Armênios também vivem em Damasco, Latakia e outras cidades.
Confrontos entre tropas do governo e da oposição armada na Síria têm forçado muitos armênios a fugir de suas casas. A Armênia tem abrigado 7.000 armênios sírios.
(ARKA News Agency – Yerevan – 30 de agosto de 2013)