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Informativo Armênia N°05 – Junho de 2013

Informativo Armênia

ARMÊNIA 2013
ANO XIII – Nº 5
Junho de 2013 

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PROTESTAR É PRECISO

 

Até onde um governo protege os direitos dos cidadãos? 

Eis a questão. Não são poucos os países em que a insatisfação popular tenha gerado manifestos de rua, para que suas vozes sejam ouvidas, de uma vez por todas, pelas autoridades competentes. Haja vista o que já aconteceu na Armênia, agora no Brasil, recentemente na Turquia. E a lastimável destruição da Síria? A mídia nos mantém informados das rebeliões no Egito, manifestações na Venezuela, nos países da África, entre tantos outros. 

A liberdade de expressão, operante em países democráticos, possibilita o conhecimento das questões vigentes na busca de soluções. Ela nos alerta da defasagem, não rara, existente entre o discurso e a realidade. Daí incentivar a ação pela conquista de mudanças concretas. Assim, pois, ela se torna visível nos movimentos reivindicatórios, nos debates políticos e nos impasses das relações internacionais, como por exemplo, as reações da Alemanha ao desejo de adesão da Turquia à UE.  Ela se faz presente também nas Artes, na Música, através de vozes de artistas como Adonis e Monserrat Caballé, que estiveram recentemente na Armênia, agitando corações. 

São notícias que você, leitor, lerá neste Informativo, captando seus significados e certamente, repensando-os com a seriedade que os fatos impõem.

Sossi Amiralian

 

DOIS GRANDES ARTISTAS ESTIVERAM NA ARMÊNIA

 

Em abril passado, o laureado poeta sírio Adônis (Al Ahmed Sayeed), de 83 anos, esteve na Armênia para participar da parte final das atividades relacionadas com o evento “Yerevan, capital mundial do livro”. Ele se disse encantado com a capital armênia. Arusik Zakharyan, repórter da Armenpress, teve a oportunidade de entrevistá-lo enquanto passeavam pelas ruas de Yerevan.  Depois de responder que era sua primeira visita à Armênia, disse que ficou muito bem impressionado com a beleza da cidade e sua magnífica arquitetura e que gostaria de ficar por mais tempo, para conhecer mais pessoas e trocar ideias com poetas e intelectuais. Informou que espera voltar dentro de três ou quatro meses. Quanto a visita que fez ao memorial dedicado aos mártires do genocídio, disse ter ficado com a impressão de que tanto os jovens como os mais velhos mantêm-se fiéis aos valores dos mártires, um indicador claro de que o povo armênio merece o direito de viver e trabalhar em sua terra. Segundo ele, apesar das calamidades e dificuldades que sofreram, os armênios hoje estão mais cheios de vida e têm condições de viver não só voltados para o passado, mas também para o presente e o futuro.

Questionado quanto as duplas contradições recorrentes em sua obra, Adônis confirmou que, de fato, vida e morte, céu e inferno etc. são suas principais características. Isto porque tais oposições resultam de amargas tentações que enfrentou e constituem uma experiência cristalizada. Como disse, não se pode entender o dia sem a noite ou o amor sem o ódio e assim por diante. As oposições são um dos melhores meios de compreendermos a essência da vida, concluiu ele.

A poesia não é o único interesse de Adônis; ele é também conhecido como grande conhecedor da literatura em geral, como teórico e crítico literário, tradutor e conferencista. Sua obra, que compreende vinte livros de poesia e quinze volumes de teoria e crítica literárias, já foi traduzida para mais de vinte línguas. 

Neste mês de junho, a consagrada soprano espanhola Montserrat Caballé, de 80 anos, foi recebida em Yerevan, pelo Presidente da República Serzh Sargsyan, após ter ela estado em Nagorno-Karabakh (Artsakh). O presidente concedeu-lhe a maior honraria, a Ordem da Honra, e elogiou sua bravura e determinação por ter ido a Artsakh mesmo após ter sido considerada persona non grata pelo governo do Azerbaijão. Disse então o presidente que a homenagem lhe era prestada “por defender a Armênia e os interesses nacionais, pelos esforços para fortalecer a democracia e desenvolver a amizade com a República da Armênia e pela significativa contribuição para a construção da paz entre os povos”. No agradecimento ao presidente, a cantora referiu-se à Armênia como “uma ilha de paz e amor”. E acrescentou: “Vocês têm um país maravilhoso cujo povo tem espírito forte . Guardo as melhores lembranças da Armênia e estou certa de que esta não será minha última visita”.   

Monserrat Cabballé cantou para um público que lotou o Teatro da Academia de Ópera e Balé da Armênia. Ela chegou a Yerevan com a filha, Monserrat Martí Caballé. Mãe e filha cantaram juntas muitas árias durante o concerto. Em seguida, a estrela italiana da ópera, Agostina Smimmero, subiu ao palco. Depois o barítono Davit Babayants também se apresentou. Por fim, mãe e filha voltaram ao palco para encerrar o concerto com mais duas árias. Todas as árias foram acompanhadas pela Orquestra Filarmônica Armênia. O público acompanhou tudo com muito aplauso. Partes do concerto e mais informações estão disponíveis na rede. (Armenews/Armenpress).

NOTA: Como se sabe, as relações entre Armênia e Azerbaijão estão tensas há mais de vinte anos por causa da disputa por Nagorno-Karabakh, ou Artsakh, região que até a era Stalin pertencia à Armênia, onde a maioria do povo é armênia, a língua é armênia e a moeda é a da Armênia. O território foi dado ao Azerbaijão por Stalin, para agradar os azeris. Com o fim da União Soviética ocorreu a guerra que, depois de ceifar trinta mil vidas de ambos os lados, devolveu o controle do território à Armênia em 1994, embora não seja reconhecido como parte da Armênia nem como nação independente, apesar de ter governo próprio. Quando lá estive há mais de dez anos, indo de carro de Yerevan até a capital Stepanakert, pude verificar o abandono em que a região havia ficado no período azeri. 

Carlos Daghlian

Pedido de adesão da Turquia à UE vacila em disputa diplomática com a Alemanha

 

sexta-feira, 21 de Junho de 2013 

Os esforços para retomar as negociações e quebrar impasse de três anos correu na esteira de resposta implacável de Ancara aos protestos de rua em Istambul. 

Chances da Turquia de romper um impasse de três anos e relançar a sua oferta para se juntar à União Europeia foram frustradas pela resposta implacável do governo nas últimas três semanas aos protestos de rua e em meio ao agravamento das relações entre Ancara e Berlim.

Devido às duras respostas de Ancara aos protestos da Praça Taksim, que já foi durante séculos um cemitério armênio, no centro de Istambul, a chanceler alemã Angela Merkel se disse “chocada” com a forma brutal com que os manifestantes foram expulsos deste espaço público. 

O Ministério das Relações Exteriores em Berlim convocou o embaixador turco na Alemanha na última sexta-feira para explicar a linguagem dura dirigida à chanceler, Angela Merkel, por Egemen Bagis, representante oficial turco encarregado das negociações com a UE. 

Bagis acusou a chanceler de jogar com a política interna de seu país, disse que qualquer pessoa que utilize a Turquia para fins políticos sofreria um “final infeliz”, e advertiu de retaliação grave se as negociações forem canceladas.

A Turquia abriu negociações para se juntar a UE há oito anos, na mesma época que a Croácia. Enquanto a Croácia se junta  nesta semana como o 28° membro da UE, a chance da Turquia foi congelada por mais três anos e fechou apenas um dos 35 capítulos dos direitos humanos necessários para completar a adesão. Agora mais 12 capítulos foram abertos.

Merkel e a centro-direita alemã permanecem firmes na oposição à adesão da Turquia. O rascunho do manifesto dos democratas-cristãos “para as eleições gerais de Setembro” afirma: “Nós rejeitamos a adesão plena da Turquia, pois esta não atende as condições para a entrada na UE. Além disso, a UE se sobrecarregaria devido às dimensões e população da Turquia e por causa de sua estrutura econômica”.

Exasperado com o lento progresso, Ancara tomou a advertência como que a UE precisasse da Turquia mais do que ele precisa da Europa. Os alemães, franceses e holandeses têm uma visão diferente.

As negociações deveriam ser retomadas nesta semana, depois de um longo hiato, porque o presidente da França, François Hollande, levantou o bloqueio imposto por seu antecessor, Nicolas Sarkozy, como um gesto de boa vontade.

Mas a Alemanha e a Holanda estão se recusando dar luz verde para a retomada desta semana, provocando um debate europeu sobre a resposta mais sensata para a crise na Turquia.

Carl Bildt, Ministro das Relações Exteriores da Suécia, está entre aqueles que argumentam fortemente que a Europa não deve virar as costas à Turquia, mas se envolver mais plenamente. Aqueles que defendem um maior engajamento com as questões turcas, argumentam que a retomada das negociações ajudaria os manifestantes que lutam contra o que é visto como um governo cada vez mais autoritário, pois o novo movimento de protesto é amplamente simpático a uma Turquia mais européia.

Há também as chamadas para abrir outras duas áreas de políticas de negociações, que lidam com a justiça, os tribunais, o Estado de direito, a liberdade de expressão e de imprensa – todas áreas cruciais em jogo na atual crise em que Erdoğan e Bagis tentaram criminalizar os manifestantes como terroristas e extremistas.

Congelar todos os movimentos agora vai aprofundar o mal estar, e a longo prazo, onde ambos os lados estão perdendo“, disse Hugh Pope, um especialista em Turquia do “International Crisis Group”, em uma análise publicada na última sexta-feira. “Os atritos com a UE têm crescido desde 2009. Mas os governos europeus não deveriam fazer um movimento que efetivamente puniria a maioria dos manifestantes, que são na verdade extratos da classe média ocidental moderna da Turquia secular, um eleitorado amplamente pró-UE“.

Além da fala de resistência franco-alemã, o Chipre também veta várias áreas de negociações por causa da longa disputa com Ancara sobre a ilha dividida. A Turquia recusa-se permitir a entrada de bens gregos ao Chipre, de seus próprios portos.

Durante a extrema violência policial contra os manifestantes nas últimas semanas, o Parlamento Europeu se pronunciou de forma veemente, denunciando a resposta do governo Erdoğan. O primeiro-ministro reagiu com sarcasmo, declarando que ele não reconhece a legitimidade do parlamento e deslegitimou toda a crítica internacional, culpando a crise às influências externas.

 

Edouard Mekhalian – extraído do “The Guardian”

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