Por Naira Hayrumyan, correspondente do ArmeniaNow –
O Curdistão iraquiano é independente de facto, as áreas curdas na Síria também estão próximas de conseguir independência junto à Damasco e a união dos dois territórios não é mais vista apenas como uma possibilidade remota. Atualmente, o governo turco está fazendo de tudo para evitar que os curdos da Turquia se juntem ao crescente movimento de libertação nacional no Oriente Médio.
O Partido dos Trabalhadores do Curdistão, mais conhecido como PKK, tem lutado por muito tempo por autonomia dentro da Turquia e há quarenta anos Ancara tem uma inflexível linha de conduta para combater o separatismo curdo.
Recentemente, percebendo o perigo, o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan decidiu retomar as negociações com o líder do PKK, Abdullah Ocalan, que cumpre pena de prisão perpétua numa penitenciária turca. De acordo com a imprensa do país, Ocalan assegurou à Ancara que o seu partido não está lutando por independÊncia, mas somente por autonomia dentro da Turquia.
Aparentemente, a Turquia poderia ceder autonomia aos seus curdos e facilitar a criação do Curdistão nos territórios da Síria e Iraque. Alguns relatórios indicam que Erdogan cogita uma visita à Washington no próximo mês para discutir essa questão.
Entretanto, o assassinato de três militantes curdas em Paris há poucos dias pode interromper o plano turco-curdo de reconciliação. Cada vez mais analistas estão agora inclinados a crer que a Turquia poderia ser dividida.
Não é totalmente claro por agora em que áreas da Turquia uma possível autonomia curda poderia saber estabelecida – se é que isso possa ocorrer – ou que territórios um Curdistão independente poderia reivindicar junto à Turquia, mas alguns analistas armênios já tem receio que tais planos possam também afetas os territórios históricos armênios que atualmente estão sobre controle turco. Tecnicamente, as terras curdas estão situadas ao sul da chamada Armênia Ocidental, mas a questão das terras historicamente armênias na Turquia não poderá ser ignorada no caso de uma revisão das fronteiras na região.
Autoridades em Ancara confessam que a Turquia está em maus lençóis com a aproximação de 2015 – o centenário do genocídio armênio pelo governo otomano que a sucessora República da Turquia recusa em reconhecer. A possibilidade de reconhecimento do genocídio armênio em seu centésimo aniversário pelos EUA levaria inevitavelmente à reivindicação de territórios por parte da Armênia.
A Turquia percebe isso claramente e o curso dos ataques motivados por questões étnicas contra os armênios na Turquia atualmente corroboram tal ponto. Três turco-armênios foram vitimados por ataques aparentemente racistas em Istambul recentemente. Uma idosa e um homem que lecionava numa escola armênia local foram brutalmente assassinados, com suas gargantas cordadas, enquanto uma outra mulher conseguiu escapar gravemente ferida após um taxista atacá-la apenas porque ela falava em armênio.
Isso pode levar a uma exacerbação das relações armênio-turcas. Oficialmente, Yerevan ainda não fez nenhum pronunciamento nesse sentido, mas a Armênia está preparando eventos de grande porte para o 100º aniversário do genocídio, o que por si só já seria uma forte mensagem e um desafio para o seu vizinho mais poderoso.
Ara Papian, ex-embaixador da Armênia no Canadá e diretor do think tank Modus Vivendi, sediado em Yerevan, acredita que a Armênia precisa de desenvolver suas relações com os curdos. Essa aliança, segundo ele, é necessária em qualquer cenário – não importando se os curdos pretendem desmembrar a Turquia, alcançar sua autonomia dentro do país ou somente continuar a lutar pela independência como agora.
Yerevan nunca fez nenhuma reivindicação formal de territórios turcos, mas a Armênia ainda não reconhece as fronteiras atuais da república vizinha, definidas pelo Tratado de Moscou de 1921. Tal posição está consagrada na Constituição da República da Armênia.
Enquanto isso, as vozes que apoiam outro documento internacional – o Tratado de Sèvres, que foi assinado entre o Império Otomano e os Aliados ao final da I Guerra Mundial – estão se tornando mais ouvidas nos círculos públicos e políticos da Armênia. A Turquia se recusou a ratificar o tratado que implicava no estabelecimento da chamada Armênia Wilsoniana”, que é configuração fronteiriça do Estado armênio traçada pelo presidente dos EUA Woodrow Wilson a fim de incorporar alguns dos antigos territórios povoados por armênios no Império Otomano e promover uma Armênia democrática com saída para o Mar Negro.