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Serj Tankian fala à Rolling Stone sobre turnê, centenário do Genocídio e a expectativa de tocar na Armênia

Por: Kory Grow | Rolling Stone. Traduzido por Mau: Site of a Down

Entre seus ritmos espasmódicos e melodias diferentes, o System of a Down sempre foi comprometido com uma causa séria: ampliar o reconhecimento do Genocídio Armênio de 1915. O álbum auto-intitulado do grupo continha uma canção chamada “P.L.U.C.K.”, no qual o vocalista Serj Tankian cantou “Um genocídio de uma raça inteira / Levou embora todo o nosso orgulho”, e ao longo dos anos a banda realizou vários shows pela “Souls”, turnê para ajudar a aumentar a conscientização sobre a tragédia.

tumblr_nfew6iKPq61u4703ao1_1280Agora, o grupo, cujos membros são todos filhos de sobreviventes, celebra o 100º aniversário do Genocídio Armênio – em que turcos otomanos prenderam e executaram cerca de 1,5 milhão de armênios, algo que a Turquia e vários países ainda se recusam a reconhecer oficialmente – com uma turnê internacional chamada “Wake Up The Souls Tour”. Isso vai acabar em 23 de abril, um dia antes da Armênia comemorar o aniversário, com a primeira apresentação do grupo no país de seus antepassados. A banda planeja transmitir ao vivo o concerto para que as pessoas de todo o mundo possam assistir.

O System of a Down também criou um mapa de “pontos quentes” interativo em seu site, permitindo que os fãs aprendam sobre como diferentes partes do mundo reagiram ao genocídio, incluindo quais os países que oficialmente reconheceram o genocídio. Em outras partes do site, eles realizam uma chamada de ação motivadora para que os fãs peçam ao presidente turco e ao parlamento o reconhecimento.

“Parte disso serve para chamar a atenção para o fato de que os genocídios ainda estão acontecendo, quer você use a palavra ‘genocídio’, ‘holocausto’ ou ‘catástrofe humanitária’.”, diz Tankian. “Nada disso está mudando. Nós queremos ser parte dessa mudança. Queremos que reconhecimento do primeiro genocídio do século XX seja como uma espécie de renovação da confiança de que a humanidade pode parar de matar a si mesma.” Ele ri. “Eu digo isso rindo, porque, obviamente, isso é ridículo.”

Por que vocês decidiram celebrar o 100º aniversário do genocídio armênio com uma turnê?

Esta é uma reafirmação e expansão de alguns dos trabalhos que temos feito com o genocídio armênio durante anos. Todo o conceito de “Souls” tornou-se uma turnê, e isso é algo que todos nós acreditamos porque somos todos filhos de sobreviventes do genocídio. É importante para o reconhecimento do genocídio como resultado final, e também para alcançar a justiça.

Quais são os passos para realizar a justiça?

Eu acho que para nós, o importante é que a Turquia reconheça sua própria história de uma maneira verdadeira. Não apenas sobre o genocídio dos armênios, gregos e assírios, mas também sobre o que está acontecendo agora. Não existe nenhum acordo internacional em execução que tem a ver com o fim do genocídio. Independentemente de um grande número de organizações da ONU e mesmo de órgãos, baseados nos Estados Unidos em termos de prevenção do genocídio, não há nenhuma resolução vinculativa sobre qualquer genocídio ou holocausto ocorrendo. Nós ainda vemos eles acontecendo. Eu li na imprensa de hoje que descobriram uma vala comum em Deir Ezzor, na Síria, resultado dos massacres desta tribo de lá pelo ISIS, e isso me fez lembrar de todos os ossos que estão sob essas areias em Deir Ezzor desde o primeiro genocídio do século XX, exatamente no mesmo lugar. Se isso não é simbolismo, eu não sei o que é.

Os seus avós viveram o genocídio armênio. O que te disseram sobre isso?

Eles tinham essas incríveis e assombráveis histórias de sua sobrevivência. Ambos eram crianças, crianças pequenas. Minha avó e a avó dela foram salvos por um prefeito turco em uma pequena cidade, quando eles estavam marchando pela Turquia em direção à Síria, para Deir Ezzor, no deserto. Eles foram salvos dessa forma. Meu avô perdeu a maior parte de sua família no massacre. Ele acabou indo para um orfanato diferente e foi para o Líbano, em termos de encontrar uma casa lá e crescer por lá. Histórias realmente comoventes.

Quando meu avô ainda estava vivo, colocamos ele na frente das câmeras para este filme que nós fizemos parte, chamado ‘Screamers’ (assista logo abaixo). Foi uma boa narração parcial de sua história, o que foi muito gratificante para mim. Temos gravada uma fita de 16 horas dessas histórias importantes que estão desaparecendo porque os sobreviventes foram quase todos embora.

Você já tocou na Armênia com sua carreira solo. Como foi essa experiência para você?

Foi realmente incrível. A primeira vez foi com a minha banda, a FCC, na minha turnê solo em toda a Europa. Fizemos um show em um belo e grande teatro. Na segunda vez, eu toquei com uma orquestra armênia chamada ‘Opera Orchestra of Armenia’. Tocamos na inauguração de um centro de tecnologia sem fins lucrativos chamado ‘Tumo’. Havia cerca de 11 mil pessoas naquele belo pátio em um parque, era um palco construído com vista para um belíssimo desfiladeiro. Foi realmente incrível. Muita juventude, muita emoção. Foi realmente muito animador quanto ao que o futuro da Armênia tem que abraçar.

Você teve uma noção de como as pessoas de lá se sentem sobre a banda fazendo este show?

Na Armênia, o nosso status é incomparável. Eu não quero usar qualquer alcunha como os Beatles ou qualquer coisa, mas é um tipo de coisa única. Então, nós queremos ir lá e tocar para as pessoas, o que nunca fizemos como System of a Down. É muito emocionante.

Como é isso de o System of a Down nunca ter tocado na Armênia?

Sabe, essa é uma pergunta muito boa. Eu não tenho uma resposta direta pra isso. Nos pediram para tocar, mas isso nunca se transpareceu devido ao tempo ou o desafio de investimento em infra-estrutura. Leva tempo para que a insfraestrutura de qualquer grande performance aconteça.

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A banda já tocou na Turquia?

Não. Estávamos atrás de que a Turquia entrasse como uma das datas da turnê ‘Wake up the Souls’. Nós precisávamos receber permissão do governo, com base em nossa sinceridade sobre o genocídio e contra as ações do governo [o então primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan], em particular. Na época, o novo primeiro-ministro tinha acabado de entrar em cena, que era o antigo ministro das Relações Exteriores, e, claro, Erdoğan se tornou presidente e deixou o posto de primeiro-ministro. Esperamos um tempo, mas nunca recebemos uma resposta, então planejamos o restante da turnê.

Qual é a sua relação com os fãs como os da Turquia? Deve ser difícil para você não ser capaz de tocar para eles.

Totalmente. Eu, pessoalmente, quero tocar lá. Nosso relacionamento com eles tem sido muito legal. Anos atrás, alguém plantou coisas na imprensa turca tentando nos denunciar, eu estou supondo que um agente do governo, dizendo que nós fizemos coisas que nunca fizemos. Então nós colocamos algo em nosso site dizendo que tudo isso é desinformação, por favor, não dê ouvidos a ele. É tudo mentira. Nossos fãs foram os que nos protegeram na Turquia. Eles escreveram aos editores desses jornais que estavam plantando essa informação errada, essa falta de informação, e lutaram por nós. Nossos queixos caíram. Aqui nós temos fãs na Turquia que estão protegendo o System of a Down. Nenhuma sociedade é unipolar.

Você acha que a Turquia nunca vai reconhecer o genocídio?

Eu acho que é muito possível. Acabei de ler que há uma resolução para o reconhecimento de todos os crimes do passado, incluindo os genocídios armênios – nomeados especificamente – que acabou de ser apresentado ao parlamento turco por uma minoria, ‘Kurdish MP Sebahat Tuncel’. Embora eu tenho certeza que eles não têm maioria para passá-lo à frente, isso é um sinal incrível não apenas de coragem para ela trazer isso à tona, mas que o tempo poderia estar mudando, e isso é uma coisa positiva.

Falando em tempos de mudança, há celebridades armênias chamando a atenção para o genocídio recentemente.

Absolutamente. A Kim Kardashian se destaca diante de pessoas de crítica, eu poderia dizer que com suas comemorações anuais do genocídio armênio e espalhando essa palavra, ela tem sido valiosa. Ela tem sido grande.

Ela pode fazer aumentar muita consciência.

Absolutamente. Ela tem mais pessoas no Twitter do que eu, isso com certeza [risos].

Mudando de assunto, faz 10 anos desde o último álbum do System of a Down. Vocês já estão falando sobre fazer um novo?

Houve uma conversa, e nós vamos tocar nessa turnê, voltar e vamos ver onde estamos. Se temos músicas que funcionam para o System, se eu as tenho e Daron Malakian as tem. A abertura está lá para funcionar em conjunto, mas não fizemos quaisquer planos específicos que podemos anunciar.

Você já escreveu músicas com o System em mente?

Eu tenho algumas que poderiam ser aplicadas, mas eu não tenho certeza, até chegar o momento em que eu possa realmente tocá-las para os caras e ver se é algo que vibre para eles.

Agora mesmo eu estou realmente focando em uma trilha sonora. É realmente uma pontuação muito legal, e é para um filme baseado em, mais uma vez, o genocídio. Isso é tudo que eu estou lidando agora. É chamado de 1915. É um drama muito interessante que foi filmado em Los Angeles, no Los Angeles Theatre, um muito antigo e ilustre teatro. É um thriller psicológico muito, muito interessante, história moderna. Trata-se de negação e os impactos psicológicos de um genocídio, em vez de os aspectos físicos do mesmo.

Voltando para um novo álbum do System, eu tenho certeza que seus fãs estão curiosos sobre onde você está.

Eles serão os primeiros a saber. Os fãs vão saber antes que a imprensa saiba, eu lhe garanto

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