Nas últimas semanas eventos maravilhosos criaram uma sensação agradável para aqueles que participam da vida comunitária. O que me preocupa é o anticlímax que virá depois.
Não sou afeito a desânimos, mas ao pensar que teria que escrever sobre nosso papel, sobre a nossa armenidade, desorganização, falta de comunicação, descaso com a cultura, passividade e ausência de formação de novas lideranças, senti um certo cansaço intelectual.
O anticlímax está na constatação de que problemas básicos se transformam em tormentas que desmoralizam ainda mais nosso trabalho comunitário.
Falo desde a venda de ingressos para um show e até mesmo de eventos comunitários que não são sequer comunicados para coletividade. Falo da falta de voluntários para atividades importantes e da ausência completa de uma reflexão política sobre o futuro que queremos.
A situação é ainda mais bizarra já que desde uma simples oficina até a mais sofisticada empresa, de um clube de futebol, passando por vendedoras de porta a porta, até as ONGS’S, as palavras de ordem são: planejamento, projeto, metas, capital intelectual, gestão. Infelizmente não vejo essas ideias e conceitos circulando nas nossas entidades.
É essa a vida comunitária-institucional que queremos? Não tenho respostas prontas. Noto que sempre existem pessoas para dançar, confraternizar e cantar. Mas infelizmente tenho que parafrasear um técnico de futebol que soltou a frase “Fala Muito, Fala Muito”, já que constato que entre nós (armênios) existem os FALAMUITIAN que são parentes próximos dos FAZEMPOUQUIAN.
Já passou da hora de construir um novo modelo comunitário. Estamos defasados 20 ou 30 anos.
Nosso modelo está ultrapassado e nossas esperanças residem em abnegados dirigentes e imprescindíveis colaboradores financeiros que nos tornam uma coletividade que vive com o chapéu nas mãos batendo de porta em porta a pedir ajuda. Não temos um projeto comunitário.
Defendo a ideia do debate constante e democrático e torço para que ele ocorra em 2013. As perguntas eu já tenho: O que é armenidade para nós? Qual é a relação que queremos com a Armênia? Qual é o papel da educação armênia para as segundas, terceiras e quartas gerações da diáspora que vivem no Brasil? Como nos inserimos no mundo globalizado e nas nossas relações com outras coletividades da diáspora? Estas seriam algumas das perguntas que eu humildemente proporia em um eventual fórum de discussões que já foi pensando e idealizado por um companheiro ativista que em breve deve lançar essa ideia.
Mas ainda falta uma e talvez a mais importante pergunta: Temos que discutir isso ou vamos deixar tudo assim mesmo? Se vamos deixar tudo assim mesmo não quero estar aqui para ver nosso débâcle institucional.
Um outro querido amigo certa vez disse : “ O dia que eu não tiver garantias de oferecer aos meus filhos uma formação armênia consistente no Brasil eu vou embora daqui!”. Infelizmente vejo que está chegando esse dia.
É nesse sentido que defendo uma diáspora forte. Caso não pensemos em construir essa força por aqui, peço encarecidamente que me avisem. Vamos deixar tudo como está.
Apenas comunico que os meus valores armênios advertem: sucessivos anticlímax fazem mal a armenidade.
*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.