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Armênia acolherá acervo cultural palestino ameaçado pela guerra

Itens Históricos da Palestina Serão Temporariamente Preservados no Matenadaran, em Yerevan, Diante da Destruição Provocada pelo Conflito em Gaza

Em meio à escalada de destruição na Faixa de Gaza, a Armênia deu um passo significativo no campo da diplomacia cultural ao anunciar que irá salvaguardar, de forma temporária, elementos da herança cultural palestina que correm risco de extinção. O destino dos artefatos será o Matenadaran – Instituto Mashtots de Manuscritos Antigos, um dos repositórios mais respeitados do mundo em conservação documental, localizado na capital Yerevan.

O anúncio foi feito pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Armênia, Vahan Kostanyan, durante uma conferência internacional na sede da ONU. Segundo ele, o gesto armênio “expressa solidariedade e o compromisso com a proteção da memória cultural dos povos” e está sendo coordenado em diálogo direto com autoridades palestinas e organizações internacionais como a UNESCO e o ICOM (Conselho Internacional de Museus).

O acervo a ser transferido incluirá manuscritos antigos, documentos históricos, objetos de valor arqueológico e itens da tradição oral e artística da Palestina. Muitos deles se encontram em risco iminente devido à destruição de museus, arquivos e bibliotecas na região, intensificada desde o início da ofensiva militar israelense em outubro de 2023.

A escolha do Matenadaran não é fortuita. Fundado oficialmente em 1959, o instituto abriga mais de 23 mil manuscritos armênios e de outras culturas do Oriente Médio e da Ásia, cobrindo temas que vão da medicina medieval à filosofia cristã oriental. Seu papel como guardião da identidade armênia durante séculos de diáspora e genocídio faz dele não apenas um espaço de conservação, mas também de resistência cultural.

Para além da técnica de conservação, o Matenadaran oferecerá expertise em restauração e digitalização de documentos danificados, assegurando que a memória do povo palestino seja protegida e, futuramente, retornada ao seu território de origem.

A iniciativa foi amplamente saudada por acadêmicos, ativistas e representantes da sociedade civil. Em nota conjunta, representantes palestinos agradeceram à Armênia “pela nobreza e coragem de oferecer abrigo ao que há de mais precioso de uma nação: sua história”.

A relação entre armênios e palestinos remonta ao período otomano, passando pelo Mandato Britânico e chegando aos dias atuais com diversas colaborações culturais e diplomáticas. Vale lembrar que a Armênia foi um dos primeiros países do Leste Europeu a reconhecer oficialmente o Estado da Palestina, em 1988. Já em 2021, a cidade de Belém inaugurou uma praça em homenagem ao povo armênio e à sua contribuição histórica à região.

No momento em que bibliotecas são reduzidas a escombros e museus se tornam alvos de destruição, a decisão armênia de acolher o patrimônio de outro povo ecoa como um gesto humanitário e civilizatório — reafirmando o valor universal da cultura como ponte entre os povos e memória da humanidade.

A operação de transferência dos objetos deverá ocorrer em fases, sob supervisão de especialistas internacionais. Ainda não há data exata para o início do transporte, mas fontes do Matenadaran indicam que a instituição já está mobilizando espaços seguros e infraestrutura técnica para receber os primeiros lotes.

A salvaguarda, ainda que temporária, pode significar um alento diante da catástrofe — e uma ponte para um futuro onde o passado palestino possa ser, um dia, devolvido ao seu próprio solo em paz.

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