Via Asbarez.com
Yerevan – O presidente Serzh Sarkisian suspedeu todas as relações com a Hungria, nesta sexta-feira, como resposta à decisão daquele país de extraditar secretamente o oficial azeri que assassinou brutalmente um militar armênio em 2004, durante exercício militar conjunto da OTAN.
Após um encontro com o Conselho Nacional Armênio de Segurança, Sarkisian convocou uma reunião com o corpo de diplomatas estrangeiros para expressar a ira da Armênia, bem como a sua decisão de suspender imediatamente as relações com a Hungria.
O tenente Ramil Safarov foi condenado a prisão perpétua na Hungria por golpear até a morte o tenente armênio Gurgen Markarian. Entretanto, o azeri foi mandado de volta para o Azerbaijão nessa sexta-feira e, apesar das garantias oferecidas pelo governo de seu país, ele foi imediatamente perdoado e posto em liberdade pelo presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev.
Safarov foi condenado a prisão perpétua em 2006 pela corte de Budapeste após confessar o assassinato de Markarian enquanto ambos estavam na Hungria para o curso de idiomas da OTAN em 2004.
A Hungria apenas extraditou o militar de 35 anos para o Azerbaijão após ter recebido garantias do ministro da justiça azeri que a sentença de Safarov, a qual incluía a liberdade condicional após 25 anos, fosse mantida.
Em uma nota seca, Sarkisian condenou a Hungria pela extradição e também criticou a comunidade internacional por não reagir a uma clara ameaça à Armênia, cumprindo aos apelos internacionais para não politizar o caso.
Numa reunião anterior com o Conselho Nacional Armênio de Segurança, Sarkisian anunciou que ele instruiu o ministro da defesa a colocar todas as tropas em alerta máximo, bem como pediu a Assembleia Nacional para convocar uma sessão emergencial. O presidente também anunciou uma “atribuição especial” para o chefe do Serviço Nacional Armênio de Segurança, Gorik Hakpyan.
Segue abaixo o comunicado de Sarkisian para os diplomatas, apresentado pela presidência sem edições:
Ilustres embaixadores,
Hoje, infelizmente, nós convocamos vocês para virem até o escritório da presidência numa ocasião extraordinária. Como vocês devem saber, um oficial do exército azeri que assassinou o oficial Gurgen Margaryan foi transferido para o Azerbaijão. O presidente do Azerbaijão – e nós temíamos por isso – imediatamente concedeu o indulto ao militar.
Isso aconteceu porque o governo da Hungria, um estado-membro da União Europeia e da OTAN, fez um acordo com as autoridades do Azerbaijão.
Eu não quero revisitar as circunstâncias do assassinato de Gurgen Margaryan; vocês estão muito bem informados sobre isso. Como o julgamento provou, o horrendo homicídio aconteceu somente porque Gurgen Margaryan era armênio.
Imediatamente após esse crime ter sido perpetrado, as autoridades húngaras bem como nossos parceiros, os Estados da União Europeia e da OTAN tentaram continuamente evitar a politização do processo. Nós continuamos a acreditar na justiça da Hungria, um Estado-membro de importantes alianças.
Nós estivemos acompanhando de perto todos os desdobramentos desse processo. Essa questão tem sido discutida durante cada encontro com o presidente, bem como com o porta-voz do parlamento, ministro de relações exteriores e o embaixador da Hungria, e nós tivemos inúmeras vezes a garantia que a transferência ou a extradição do criminoso para o Azerbaijão estava descartada. Nós recebemos a mesma resposta durante nossos contatos apenas há alguns dias atrás com os representantes do Ministério de Relações Exteriores da Hungria e do parlamento. Porém, como resultado do pérfido desenrolar dos fatos, o assassino retornou à Baku e foi libertado.
Eu não tenho nada a dizer sobre o Azerbaijão, absolutamente nada. Esse país fala por si mesmo de acordo com as ações que toma, e eu não sou aquele que vai explicar essas atitudes.
Embaixadores, senhoras e senhores:
Com essa ação conjunta, as autoridades da Hungria e Azerbaijão abriram as portas para a recorrência desse tipo de crime. Com essa decisão, eles enviam claramente uma mensagem aos carniceiros. Os assassinos daqui em diante estão cientes da impunidade da qual poderão desfrutar em caso de assassinatos motivados por ódio étnico ou religioso.
EU NÃO POSSO TOLERAR ISSO.
A REPÚBLICA DA ARMÊNIA NÃO PODE TOLERAR ISSO.
A NAÇÃO ARMÊNIA NUNCA PERDOARÁ ISSO.
Oficialmente, eu anuncio que a partir de hoje nós suspendemos as relações diplomáticas e todos os contatos oficiais com a Hungria.
Nós esperamos uma resposta precisa e inequívoca de todos os nossos parceiros em consideração a esse incidente.
Aquele que tolerar isso, amanhã será responsabilizado pela história.
Meias-medidas e rodeios não são aceitáveis.
Nós julgaremos a atitude dos nossos parceiros de acordo com as suas respostas a esse incidente.
Eu peço a vocês urgentemente que transmitam isso como uma mensagem pessoal aos líderes de seus Estados e governos.
Isso é tudo que eu tenho para dizer. Eu não sei se perguntas e respostas farão sentido ou não. Eu acho que não farão, pois o que aconteceu dificilmente pode ser duramente compreendido por uma mente razoável. Um país que se considera desenvolvido e civilizado não tem o direito de se comportar dessa maneira e merece a avaliação adequada de seus parceiros.