Uma longa investigação internacional sobre o futebol armênio expôs um enorme esquema de manipulação de resultados na segunda divisão.
A investigação foi conduzida pelo Serviço Nacional de Segurança da Armênia (NSS) e pela Interpol e envolveu 54 pessoas e cinco clubes na Primeira Liga da Armênia (que na verdade é a segunda divisão da Armênia; a principal é a Premiere League). Quarenta e cinco pessoas foram banidas permanentemente do futebol internacional e os cinco clubes foram desqualificados por dois anos.
“As decisões foram tomadas depois que a Federação de Futebol da Armênia (FFA) recebeu evidências inegáveis de organizações internacionais e agências policiais”, disse o presidente da FFA, Armen Melikbekyan, em um comunicado nó ultimo dia 2 de julho anunciando os resultados da investigação.
Melikbekyan foi eleito presidente da federação em dezembro, após a saída de seu antecessor, Artur Vanetsyan, que chefiou o NSS e a FFA durante o período em que os jogos foram manipulados, mas depois se desentendeu com o primeiro-ministro Nikol Pashinyan. A investigação começou durante o mandato de Vanetsyan na FFA; desde então, ele se tornou um crítico importante do governo, mas a investigação do futebol parece não ter um tom político.
As evidências para o esquema foram coletadas ao longo de um ano e meio, disse Artur Azaryan, secretário geral da FFA, ao site vnews.am. “A UEFA nos forneceu um relatório detalhado dos jogos de cada equipe para a temporada, bem como as ações individuais de todos os jogadores e suas chances de participar da manipulação de resultados”.
Muitos dos jogadores envolvidos eram estrangeiros, em especial russos, ucranianos, bielorrussos e letões. Vários deles tinham histórico de manipulação de resultados.
Kirilis Grigorovs, cidadão da Letônia, esteve envolvido em controvérsias sobre manipulação de resultados na Letônia, Irlanda, República Tcheca e Chipre antes de assinar com o FC Yerevan em setembro de 2019, apesar de não ter jogado nenhuma partida com o clube. O jogador está entre os banidos do esporte.
Meio-campistas e goleiros foram representados desproporcionalmente entre os jogadores nomeados, já que a manipulação de resultados normalmente depende de “lapsos” defensivos.
“Se olharmos de perto, você vê que nenhum dos goleiros era local e os meio campistas também eram estrangeiros”, disse Rafael Khalatyan, editor do armfootball.com, em entrevista à Eurasianet. “Essas pessoas foram expostas a escândalos de manipulação de resultados em outros países, como Egor Lugavoy, do Torpedo, Yuri Okul, um técnico que foi desclassificado na Ucrânia e agora também pelo FC Aragats, Vitali Ridlevich da Bielorrússia também jogou pelo Aragats. Em outras palavras, eram pessoas que sabiam como o processo de manipulação de resultados funcionava.”
Os clubes suspensos foram: Lokomotiv Yerevan (até então segundo colocado na competição), Aragats, Torpedo Yerevan, Masis e o FC Yerevan, que havia subido para a Premiere League e já havia desistido da competição alegando problemas financeiros. Todos eles tiveram resultados suspeitos, como jogos que terminaram em 12 a 0, 8 a 1, 9 a 2, 7 a 0, 8 a 0 e 8 a 2.
Não está claro quem organizou o esquema, e o NSS e a FFA não deram nenhuma pista. O futebol de segunda divisão da antiga União Soviética é amplamente suscetível à manipulação de resultados, já que os times têm poucos torcedores, os jogos não são televisionados e os resultados são de interesse principalmente dos apostadores. A vizinha Geórgia também foi alvo de vários escândalos e investigações sobre manipulação de resultados.
“Nesse caso em particular, havia um número suspeito de apostas [nos jogos combinados] na Ásia, especialmente na China”, disse uma fonte de uma casa de apostas armênia, conversando com a Eurasianet sob condição de anonimato.
Como resultado da investigação, a FFA reforçou as restrições ao licenciamento de clubes para a Primeira Liga. As pessoas implicadas no esquema não serão processadas porque a manipulação de resultados não é um crime sob a lei armênia, mas a FFA está tentando mudar isso. “Solicitamos ao Ministério da Justiça a criação de uma iniciativa legislativa e a definição de um artigo relevante no Código Penal”, disse Azaryan.