Na última quinta feira, dia 12 de dezembro, o senado dos Estados Unidos reconheceu de forma unânime formalmente como genocídio o massacre de 1,5 milhão de armênios ocorrido entre os anos de 1815 e 1923 (período entre o império turco-otomano e início do governo turco), conhecido como Genocídio Armênio. O texto já havia sido aprovado pela Câmara americana uma semana antes, no dia 29 de novembro.
Não é incomum que textos que reconheçam os massacres dos armênios como genocídio sejam apresentados no congresso americano. A comunidade da diáspora armênia nos EUA é a maior do mundo e, se considerarmos os descendentes de armênios, possui mais membros do que habitantes atualmente vivendo na Armênia. Com toda essa influência, os armênio-americanos tentam há anos pressionar o governo a tomar uma posição oficial sobre o genocídio e já conseguiram a oficialização de 49 dos 50 estados americanos (falta só o Mississippi).
No caso dos EUA, no entanto, a pressão contrária a uma posição oficial do governo está diretamente ligada aos interesses turcos. A Turquia oficialmente se recusa a reconhecer o Genocídio Armênio e diz que as mortes de armênios aconteceu devido a “conflitos internos resultantes da I Guerra Mundial”. O governo turco chegou a emitir um comunicado em condolência aos “armênios mortos em conflitos” no ano do centenário do início do genocídio para tentar jogar panos quentes na situação e melhorar a imagem do país frente à Europa, já que a Turquia tenta há anos fazer parte da União Européia. Os governo americano tenta agradar os dois lados. Em campanhas presidenciais os candidatos prometem reconhecer o Genocídio se eleitos para alcançar os votos da comunidade armênia e tradicionalmente fazem discursos no dia 24 de Abril, mas sem nunca citar a palavra Genocídio, para não irritar a Turquia, onde possuem base militar estratégica próxima ao Oriente Médio.
As recentes vitórias na Câmara e Senado estão ligadas à uma retaliação aos ataques turcos na Síria e um afrontamento ao presidente dos EUA, Donald Trump, que tenta estreitar os laços com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
E com a aprovação do Congresso americano, o que muda?
Para que um país seja considerado como parte dos que reconhecem o Genocídio Armênio geralmente é necessário que o governo desse país emita um comunicado oficial ou que seus sistemas de governo votem favoráveis a textos de reconhecimento. Porém, afirmar que um país oficialmente reconhece o genocídio é tema de debate entre especialistas geopolíticos, porque os critérios de reconhecimento variam de acordo com o sistema político de cada pais. Alguns países, como a Argentina e a Alemanha, reconheceram mais de uma vez algum texto que qualifique os massacres como genocídio. O Brasil já aprovou um voto de solidariedade ao povo armênio, mas ainda não pode ser considerado oficialmente parte da lista de países de reconhecem o genocídio.
No caso atual dos Estados Unidos este reconhecimento da Câmara e Senado não depende de uma sansão ou bloqueio do presidente americano uma vez que não se trata de uma lei. Por esse motivo muitos especialistas consideram a medida com caráter simbólico, já que não muda a posição oficial do país.
No entanto, a decisão da Câmara irritou a Turquia, que convocou o embaixador americano em Ancara para mostrar sua insatisfação e tem provocado declarações negativas de seus representantes como o ministro de relações exteriores turco que declarou que “os apoiadores desta resolução são covardes”.
Já o Primeiro Ministro armênio, Nikol Pashinyan, saudou o anúncio como uma “vitória da justiça e da verdade”. “Este é um tributo à memória de 1,5 milhão de vítimas do primeiro genocídio do século XX e um passo audacioso na promoção da agenda de prevenção”, tuitou.