Por EFE / UOL e ANF
O Governo da Turquia, liderado por Recep Tayyip Erdoğan, suspendeu nesta segunda-feira os prefeitos de Diyarbakir, Mardin e Van, as três maiores cidades de população curda no sudeste do país e historicamente territórios armênios tomado pelos turcos durante o Genocídio Armênio, e nomeou funcionários de Interior para assumir tais funções.
O deputado Garo Paylan, membro do partido HDP do qual os prefeitos eram filiados, e a sua comissão faziam visitas à América Latina desde o dia 11 de Agosto e já haviam passado por Chile, Argentina e Uruguai, a chegada de Paylan ao Brasil estava prevista para esta sexta, dia 23 de Agosto. Todos os compromissos foram desmarcados e Paylan está retornando à Turquia.
Unidades policiais rodearam os edifícios das prefeituras em questão e anunciaram a destituição temporária, informou a emissora turca “NTV”.
Os afetados são Selçuk Mizrakli, prefeito de Diyarbakir, uma cidade de aproximadamente um milhão de habitantes que é considerada a “capital” das regiões curdas do sudeste da Turquia, Bedia Özgökçe Ertan, prefeita de Van, a segunda maior cidade da região, e o veterano político Ahmet Türk, prefeito de Mardin.
Os três pertencem ao Partido Democrático dos Povos (HDP), a formação da esquerda pró-curda, terceiro partido do Parlamento com 12% dos votos em nível nacional nas últimas eleições.
Segundo um comunicado do Ministério de Interior reproduzido pela “NTV”, os três prefeitos estão envolvidos em várias investigações judiciais por “propaganda terrorista”. O Governo considera que o HDP mantém vínculos com o Partido de Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda da Turquia, e mantém desde 2016 em prisão preventiva vários líderes, como o ex-líder Selahattin Demirtas.
As autoridades transferiram as funções da prefeitura aos governadores das três províncias.
Ao mesmo tempo, a polícia lançou batidas em 29 províncias do país para deter supostos “simpatizantes do PKK”, o que supôs a detenção de 418 pessoas, a maioria em Diyarbakir, Mardin e Van, informou a agência turca “Anadolu”.
Leia abaixo a declaração oficial do partido:
“À comunidade em geral e às instituições da Argentina, Chile e Brasil que nos convidaram a desenvolver atividades e encontros durante a visita do Partido Popular Democrático à América Latina para divulgar hoje a situação política opressora na Turquia, com Responsabilidade direta pelas políticas do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), nas mãos do Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cumprimos com a comunicação de que, infelizmente, decidimos, em vista da necessidade urgente que temos diante de nós, suspender as atividades planejadas porque nas cidades de Amed, Mardín e Van, nas quais nós, Garo Paylan e Ebru Günay, somos parlamentares eleitos do Partido do Povo Democrático (HDP), foi anunciada hoje a resolução do Ministro do Interior turco da demissão dos co-prefeitos do Partido Popular Democrático (HDP) de Amed, Selçuk Mızraklı; de Mardín, Ahmet Türk; e o co-prefeito de Van, Bedia Özgökçe Ertan.
Numa clara demonstração da terrível situação em que, no domínio dos direitos humanos e civis e da repressão, o governo turco tomou esta medida no quadro da nossa visita parlamentar. Como representantes das cidades, tomados à força pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), somos obrigados e responsáveis a retornar às nossas cidades para garantir os direitos de nosso povo.”
Ebru Günay parlamentar da HDP por Mardin e Garo Paylan parlamentar da HPD para Amed / Diyarbakir
Esta não é a primeira vez que Interior destitui prefeitos do HDP para substituí-los por governadores: no outono de 2016, mais de 30 prefeitos foram afastados de seus cargos, mas o partido recuperou a maioria destas prefeituras nas eleições locais de 2019.