Por Natalie Magarian –
Desde pequena, sentia-se conectada ao passado doloroso de sua herança armênia e, conforme ia crescendo, aprendeu a valorizar a vida e a liberdade, pois foi um país novo e desconhecido que acolheu sua família e os ajudou a descobrir a paz que não puderam encontrar na pátria-mãe.
O conceito de justiça, inserido por todos os fatores de sua vida, levou Alicia a se formar no curso de Direito da Universidade Nacional de Buenos Aires, com o desejo de tornar seu trabalho útil na medida em que exerceria aquilo em que acreditava. No entanto, percebeu que a prática de sua profissão apenas a apresentava cada vez mais ao mundo real, de modo que acabou reorientando seus sonhos a outro ofício: a poesia.
Alicia não sabia que poderia encontrar algo mais profundo do que suas conversas com as estrelas, quando criança, ou as fascinantes histórias de seu avô materno Aram, que sempre a impressionava incluindo milagres e experiências sobrenaturais em seus relatos.
Passou a ler livros que aflorassem nela o lado espiritual do qual surgia a inspiração para escrever suas poesias, encontrando dessa forma sua ligação com o universo.
Mais tarde, em 1971, mudou-se para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde encontrou uma nova cultura e uma nova língua em que passou a escrever, o inglês, terceiro idioma incorporado aos seus escritos, além do espanhol e do armênio. Alicia tornara-se a única poetisa que passou a quase totalidade de sua carreira escrevendo nos três idiomas ela mesma, sem precisar ser traduzida.
Seus sonhos transformaram-se em sua missão, estava decidida a restaurar a fé das pessoas, curar as feridas do genocídio, expor o mundo espiritual e a necessidade de perdoar. “Existe uma razão para tudo”, manifestava Alicia, sempre dizendo que não se importa com o tamanho da influência de sua obra sobre a humanidade, mas sim com o simples fato de poder estar fazendo aquilo que deve fazer.
Publicou seu primeiro poema com apenas 16 anos e, ao longo de sua carreira como escritora, escreveu mais de 60 volumes, a maioria voltada à poesia. Além disso, ela é a única poetisa vivente cuja obra foi ilustrada pelo grande pintor Pablo Picasso, que encontrou nas palavras da escritora o incomum dissecar da alma que procurava transmitir em suas telas.
Após ganhar um prêmio na Europa com seu segundo livro, ainda no início de sua carreira, uma seleção de seus poemas foi traduzida e passou a ser vendida na Armênia Soviética, tornando-se um best-sellerem Yerevan. Imediatamente seu sucesso se espalhou por todo o país. Sua obra não fazia nenhum tipo de distinção social e ficou conhecida como “uma cruz monumental de pedra”, “uma poesia milagrosa”. Todos os volumes seguintes de seus livros passaram a ser traduzidos para o armênio diretamente por ela.
Sua dedicação à poesia era completa, acreditando firmemente no poder da emoção transmitida pelas palavras quando em harmonia sonora. Alguns médicos armênios até afirmaram que a voz de Alicia ao ler suas poesias era tão sublime, que exercia um poder calmante e tranquilizante nos pacientes que a escutavam, ajudando-os em tratamentos terapêuticos.
Suas palavras, estilo e imaginação sem fronteiras tornaram-se um marco na literatura armênia. Desde 1992, seus manuscritos e um busto de bronze encontram-se no Museu Nacional de Arte e Literatura da Armênia. Sempre em atividade, a escritora tem oferecido diversas palestras em universidades do mundo todo, além de participar de inúmeras conferências mundiais.
Foi nomeada ao Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se a primeira pessoa armênia na história a ser indicada a um Prêmio Nobel.
Casou-se e teve apenas uma filha. Atualmente está solteira e vive em Glendale, Califórnia.
Certamente uma mulher como Alicia serve de inspiração e orgulho a todas que a conhecem e admiram, tornando-se a figura representante de todas as mulheres no dia de hoje. Feliz Dia da Mulher.De caráter idealista, sua obra se revela contra a corrupção social, a vaidade e o superficial, sendo voltada à criação de uma consciência em seus leitores. Além disso, seus versos buscam o interesse no amor que ramifica a paz, remetente às suas raízes, à verdade e à beleza espiritual, acreditando “no caminho do milagre alquímico para atingir a metamorfose do impuro ao puro”, sendo que a dor, o isolamento, o medo, a injustiça e as guerras resultam da falta de amor. Assim, “devemos injetá-lo em todos os nossos relacionamentos para melhorarmos nossas vidas”.