A medida que o Império Otomano mergulhava na crise do século XIX, perdendo territórios na Europa e gerando um quadro de corrupção generalizada, crescia a violência contra as minorias internas em especial contra o povo armênio. Saques, impostos, censura, prisões arbitrarias eram cada vez mais comuns naquele período e gradualmente os movimentos nacionais armênios cresciam. Entre eles a Federação Revolucionária Armênia – Tashnagtsutiun que havia sido fundada em 1890 com esse espírito de defesa armênia.
Na região de Van, nas proximidades da fronteira com o Iraque e o Irã, ocorreram graves e pesados ataques contra os armênios no início de 1896 durante os chamados Massacres Hamidianos (ordenados pelo Sultão Abdul Hamid), calcula-se que em poucas semanas tenham sido destruídas 300 vilas rurais e bairros armênios e mais de 30.000 foram mortos naquela região. Em todo o Império Otomano calcula-se que 300.000 armênios foram mortos naqueles meses.
A Federação Revolucionária Armênia – Tashnagtsutiun organizou a tomado da sede do Banco Otomano, principal casa financeira do Império em Istambul, no dia 26 de agosto de 1896 para chamar a atenção das potências europeias para o desrespeito aos direitos mais básicos dos seres humanos. Mesmo com a pressão internacional a violência não cessava contra os armênios. Foram meses de terror e muitas mortes.
Em Van, os turcos permitiam que a tribo curda Mazrik continuasse com a violência contra as populações armênias. Esses saqueadores curdos mataram também muitos daqueles que lutaram pela resistência em Van e região. A Federação Revolucionária Armênia – Tashnagtsutiun decidiu eliminar essa ameaça e organizou uma expedição punitiva para garantir a segurança dos camponeses armênios.
Tudo foi planejado para ataca-los na região da planície de Khanasor bem próximo da região de Avarayr onde em 451 d.C. o General Vartan Mamigonian garantiu a religião cristã aos armênios mesmo perdendo a batalha para os persas que queriam impor o zoroastrismo.
Foram selecionados os comandantes para a operação: Nigol Tuman, revolucionário nascido em Karabakh e uma das mais importantes lideranças tashnagtsagan na região ; Vartan Mehrabyan, um dos mais próximos dos fundadores do Tashnagtsutiun e hábil no transporte de armas, sua participação na estratégia e sucesso da expedição foi tão grande que ficou conhecido como “Khanasori Vartan”; Ishkhan Arghoutian, ativista e mente política ligado também aos fundadores do Tashnagtsutiun e como organizador geral foi enviado Atom (Harutiun) Shahrigian, advogado revolucionário e um dos grandes líderes tashnagtsagan em Istambul.
Esses nomes já davam a dimensão da importância da Expedição. Foram selecionados 250 voluntários para o combate definitivo. Juntaram-se tropas de outros grupos revolucionários como alguns Hntchakians e Armenakans. Entre os poucos armênios que perderam a vida estava Garo Zorian, irmão do fundador do Tashnagtsutiun, o companheiro Rosdom (Stepan Zorian). Ao total perderam a vida 25 fedayes armênios (feday é o nome dado aos guerrilheiros revolucionários).
Foram dois dias de ataques e a vitória dos armênios foi completa. Para que a história registrasse o evento a ordem era poupar todas as mulheres e crianças curdas. O líder desse grupo criminoso curdo, Sharig Peg, fugiu do confronto covardemente vestido de mulher.
O que pode parecer mais um confronto militar foi na verdade o resgate da esperança na luta e a retomada da autoconfiança para almejar a liberdade.
Rememoramos Khanasor como um dos mais importantes eventos da nossa história. Honra e glória aos heróis de Khanasor.