Faleceu no dia 16 deste mês em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, o Prof. Carlos Daghlian, aos 78 anos. Daghlian era Professor Titular aposentado do Departamento de Letras Modernas do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) e Professor Emérito do Instituto da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Natural de Jaú e descendentes de armênios, bacharel e Licenciado em Letras Anglo-Germânicas (1962) pela Universidade de São Paulo (USP), Master of Arts (1965) pela Pepperdine University de Los Angeles, Doutor em Letras (1972) pela Universidade de São Paulo (USP), Livre-Docente (1987) e Titular (1993) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), ministrou aulas de Literatura Norte-Americana para os cursos de graduação de 1967 a 2003 e, para a pós-graduação, Teoria da Literatura, de 1979 a 2006.
Presidente emérito da Associação Brasileira de Professores Universitários de Inglês da Associação Brasileira de Professores Universitários de Inglês (ABRAPUI), Daghlian era autor dos livros “Emily Dickinson: A Visão Irônica do Mundo” (São José do Rio Preto: Vitrine Literária, 2016); “As técnicas de persuasão em Moby Dick”(São José do Rio Preto: Vitrine Literária, 2013) e “Os Discursos Americanos de Joaquim Nabuco” (Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1988); organizador do livro Poesia e Música (São Paulo: Perspectiva, 1985); publicou capítulos de livros e artigos em periódicos especializados sobre Edgard Allan Poe, Herman Melville, Emily Dickinson, entre outros, no Brasil e no exterior. Desde 2009 era membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.
João Paulo Vani, no site do Ibilce, afirmou que:
Nessa despedida, a comunidade ibilceana irá lembrar de uma das características mais marcantes do professor Carlos Daghlian, seja para seus pares acadêmicos, seja para alunos e servidores técnico-administrativos: a solicitude. Com gentileza e cordialidade, o professor Daghlian sempre esteve disposto a contribuir com aquilo que lhe era solicitado; estava sempre disposto a ensinar, não apenas em sala de aula, não apenas sobre as cátedras que lhe competiam.
Via Informativo Armênia, o historiador Heitor Loureiro contou como Prof. Carlos Daghlian o apoiou durante sua carreira:
“Conheci” o Prof. Carlos Daghlian em 2007. Digo “conheci”, entre aspas, porque nosso primeiro contato foi por email. Eu havia acabado de publicar o meu primeiro artigo, ainda como estudante de História da UFJF, e Daghlian escreveu um email muito gentil para a Revista Ética e Filosofia para parabenizar pelo dossiê especial sobre o genocídio armênio que havia sido publicado naquela altura. Como eu era um dos autores daquela edição, o editor, Prof. Campolina, pediu que eu respondesse aquela mensagem cortês e eu o fiz. Assim, Prof. Daghlian e eu iniciamos um contato que se manteve desde então.
Prof. Carlos Daghlian acompanhou de perto o meu crescimento intelectual e profissional. Sempre solícito e atento, leu e releu vários textos que escrevi. Criticava, elogiava, incentivava. Tudo com a mais absoluta gentileza e cordialidade. Generoso, ajudou-me com traduções e armadilhas da língua inglesa em várias ocasiões. Enviou-me livros sobre a Armênia da sua própria biblioteca que ele julgava que não usaria mais, mas que poderiam me servir. Foram de suas mãos que recebi o “História Sucinta e Atualizada da Armênia”, do também saudoso Aharon Sapsezian, obra que Daghlian havia prefaciado. Presenteou-me com livros sobre Emily Dickinson (cuja obra ele conhecia como poucos no mundo) e Moby Dick, livro que foi o foco de seu doutorado.
Em 2009, Prof. Carlos Daghlian enviou uma mensagem para o seu mailing com um pequeno trecho da biografia do político e intelectual brasileiro Medeiros e Albuquerque (1867-1934) no qual ele narrava uma tentativa frustrada de trazer armênios perseguidos por Abdul-Hamid II no Império Otomano para o Brasil. Aquele email foi uma pista preciosa para mim, que estava no final da graduação, sobre a possibilidade de pesquisar sobre os armênios no Brasil na virada do século XIX para o XX, antes da chegada do contingente maior de imigrantes armênios em São Paulo no final dos anos 1920. Eu respondi aquela mensagem dizendo que essa pista poderia resultar em uma boa pesquisa. Prof. Daghlian encaminhou-me, então, a resposta da Prof.ª Teresa Malatian, cujo conteúdo era igual ao meu. Assim, Prof. Daghlian apresentou-me virtualmente a Prof.ª Teresa, quem eu conheceria pessoalmente um ano mais tarde num encontro regional de História organizado por ela na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP, em Franca. Em 2013, eu fui aprovado pelo Programa de Pós-Graduação em História da UNESP-Franca para iniciar uma pesquisa de doutorado cujo tema surgiu a partir daquela centelha criada pelo email do Prof. Daghlian, sob orientação da Prof. Teresa Malatian.
A poucas semanas de concluir meu doutorado na mesma Universidade Estadual Paulista onde o Prof. Carlos Daghlain lecionou por décadas, foi professor titular e agraciado com o título de professor emérito, eu recebo com pesar a notícia do seu falecimento e curvo-me ante sua memória, trabalho e generosidade. Para além de sua obra, que é eterna, Carlos Daghlian será lembrado como um grande professor, cuja grandeza pode ser também observada a partir dos caminhos trilhados pelos muitos de estudantes que tiveram a oportunidade de aprender com ele, seja em sala de aula, seja em outros espaços. Nesse momento de despedida e saudade, eu presto minha homenagem ao Prof. Daghlian na certeza que ele viverá para sempre no coração de seus estudantes, e familiares.
Meus sentimentos à dona Elza e à sua filha Elza Sueli,
O Portal Estação Armênia sente muito pela parte do grande intelectual armênio-brasileiro e exprime os mais sinceros sentimentos à família Daghlian.