Mais uma vez observadores internacionais saíram da Armênia com a impressão de que pouca coisa mudou das últimas eleições até hoje.
Krzystof Lisek, chefe da delegação de observadores do Parlamento Europeu afirmou: “O processo eleitoral teve ainda muitos problemas que certamente precisam ser averiguados com todo o rigor. Mesmo assim eles não interferem nos resultados finais. Alertamos que infelizmente esses problemas são tão graves que fica muito difícil aferir o quanto a democracia avançou na Armênia.”
É sabido que o Partido da Armênia Próspera (Partido da Prosperidade) liderado pelo empresário Gaguik Tsarukian, distribui equipamentos agrícolas para os eleitores de uma determinada zona rural semanas antes do pleito.
Outros problemas seriíssimos foram narrados pelos observadores oficiais. Marcas feitas com carimbos nos documentos daqueles que já votaram desapareciam em algumas horas permitindo que eleitores mal intencionados votassem mais de uma vez. Em algumas salas de votação ficavam mais de 50 pessoas quando o limite pela lei é de 15 eleitores. Essa é uma tática dos compradores de votos que criam um clima de tumulto para agirem impunemente. Os denunciados em sua maioria eram do Partido Republicano do Presidente Sargsyan e reagiam com truculência quando abordados.
Muitos eleitores preencheram sua cédula com canetas vermelhas diferente daquelas colocadas nos locais de votação. Essa tática configura venda de votos uma vez que pelas cores os fiscais podem identificar se os votos “comprados” foram realmente depositados nas urnas e assim pagar os eleitores. ( Repórteres do The Armenian Weekly cotaramem até U$ 30/40 o “preço do voto”). A Procuradora da República Sona Truzyan abriu diversos processos contra corruptores em muitos distritos eleitorais.
Mas o mais impressionante é que com uma abstenção beirando a casa dos 40% dos votantes, o partido governista vai ter maioria absoluta caso se confirmem os resultados, coisa que vai acontecer somente em 48 horas, segundo o site da Comissão Central Eleitoral da República da Armênia.
O resultado se torna ainda mais estranho quando o governo Sargsyan é responsável por uma longa estagnação da economia, queda do padrão de vida e grandes ondas de emigração de compatriotas que buscam alternativas de sobrevivência no exterior. Isso para não falar nas classes mais privilegiadas que vivem uma relação simbiótica com pessoas influentes do governo e se beneficiam disso em detrimento da população que luta duramente pelo seu dia-a-dia.
Como essa vitória retumbante do Partido Republicano e do Presidente Serzh Sargsyan foi possível?
O jornalista John Hughes especialista em assuntos armênios disse ontem, 7 de maio , em uma importante entrevista para canais de tv e rádios que essa vitória possivelmente tenha duas respostas: primeira ; que o poder do aparelho governamental em associação com o Partido Republicano conseguiu carrear votos por compra, influência, coação e toda a sorte de falcatruas que já tinham sido denunciadas nas eleições anteriores. Segunda possível resposta ; não surgiu nenhuma força política capaz de representar uma alternativa real e palpável para a população.
Particularmente entendo isso como falta de divulgação de um projeto político mais amplo, mais claro e direto. Algo que realmente rompa com os parâmetros políticos estabelecidos e se coloque claramente no campo da mudança. Para aqueles que me conhecem sabem que eu acredito que esse projeto já existe, ele agora precisa ganhar as ruas.
Isso tudo se torna ainda mais instigante quando um trio político de peso amarra uma aliança muito forte. Como já havíamos noticiado aqui no Portal, Gaguik Tsarukian, Robert Kocharian e Vartan Oskanian estão cada vez mais próximos e prontos a enfrentar o Partido Republicano nas próximas eleições presidenciais.
Vamos ver no que isso vai dar. Ainda essa semana prometo aos amigos leitores uma análise da configuração do próximo parlamento. São tantos os recursos e as denúncias de fraude que vamos ter que esperar um pouco.
*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente